Sempre vivemos no castelo

Sempre vivemos no castelo Shirley Jackson




Resenhas - Sempre Vivemos No Castelo


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Jeff.Rodrigues 16/08/2017

Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.br
Sempre Vivemos no Castelo é uma obra que certamente vai dividir opiniões. E por causa de uma característica bem peculiar: a sutileza com que a história foi construída. Sendo assim, teremos leitores apaixonados e leitores que vão odiar o livro, sem chances para meio-termo. Sua autora, Shirley Jackson, ainda é desconhecida do público brasileiro, tendo somente uma obra publicada por aqui e assim mesmo há anos fora de catálogo. Portanto não é exagerado dizer que estamos começando a desbravar as características que fizeram dela uma das mais importantes autoras dos EUA no século passado. Nada mais apropriado, então, do que esse começo se dar por este livro recheado de características capazes de angariar, ou não, uma legião de fãs.

É preciso dizer logo de cara que a narrativa de Shirley Jackson é envolvente. Mesmo não tendo nenhum mistério que nos faça prisioneiros da leitura, simplesmente não conseguimos parar de ler. As páginas fluem e vão nos convidando a prosseguir até que num piscar de olhos já nos vemos diante do fim. O poderoso parágrafo inicial não faz rodeios e já dá o tom do tipo de história que temos pela frente. Aliás, característica comum na obra da autora, seus começos de livro são considerados os mais vigorosos de toda a literatura.

A partir desse parágrafo marcante de abertura, somos levados pela narração em primeira pessoa de Merricat Blackwood, uma protagonista fascinante, recheada de mistérios e características bizarras. Entendê-la é fundamental para compreendermos a complexidade do macabro que se esconde por trás da história de sua família. Vivendo com a irmã mais velha, Constance, e o tio idoso, Julian, completamente isolados do mundo exterior, a não ser por pequenas incursões dela ao vilarejo próximo para comprar alimentos, Mary é alguém para nos afeiçoarmos e detestarmos na mesma proporção.

Por trás da rotina bizarra desses três membros da família Blackwood paira um segredo, a todo momento citado e que somente próximo do fim do livro vai ser esclarecido. Embora possa ser apontado como o mistério da obra, à medida que avançamos na leitura, percebemos que tudo ao redor desses personagens é estranho demais e é isso que nos fascina e apavora. O terror de Shirley Jackson não se utiliza de fantasmas ou criaturas diabólicas, mas sim de pessoas muito vivas. É um livro que narra como uma casa e seus moradores se tornam assombrados aos olhos do mundo exterior.

Através de imagens fortes e cenas chocantes, narrados a partir de oitavo capítulo, de diálogos surreais que acontecem ao longo de todo o livro, e principalmente pela fala final que encerra a obra, percebemos o horror que toda a sutileza narrativa da autora esconde. Não é uma história que te assusta a cada parágrafo. É preciso penetrar em sua essência e enxergar além dos devaneios da narradora, para nos assombrarmos com sua insanidade.

Conhecer os Blackwood é uma experiência imperdível. Mesmo que num primeiro momento a história não te atraia, faça uma releitura e mergulhe nos relatos de Merricat quantas vezes for preciso. Deixe-se levar por Shirley Jackson com toda sua sutileza, vigor, humor e tom macabro. Certamente você terá uma nova autora favorita na estante.

site: http://leitorcompulsivo.com.br/2017/08/12/resenha-sempre-vivemos-no-castelo-shirley-jackson/
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Luiz Pereira Júnior 19/09/2017

Agradável, mas nada demais...
Uma leitura prazerosa, agradável, mas sem desmerecer a inteligência do leitor: acredito que esse é um grande elogio que se possa fazer a essa obra. Lembra bastante Agatha Christie e "A volta do parafuso", mas isso, é claro, em nada desmerece a autora. Talvez mais do que o mistério em si o que me chamou a atenção foi o ambiente discriminatório logo nas primeiras páginas (cheguei a pensar na obra como uma metáfora contra o racismo). Boa leitura!
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Na Nossa Estante 24/09/2017

Sempre Vivemos No Castelo
Publicado originalmente em 1962, Sempre vivemos no castelo conta a história de uma família marcada pela tragédia. Antigamente sete Blackwoods moravam na propriedade da família, até que um dia eles foram envenenados por arsênico posto no açucareiro, e então só restaram três, Mary Katherine, cujo apelido é Merricat, sua irmã mais velha Constance, e o tio Julian. Constance, a mais velha, era quem cuidava do preparo das refeições da família e por esse motivo foi acusada do crime, mas posteriormente inocentada passou a viver com medo de sair em público, sentimento que iria determinar como os três iriam viver os seus dias dali em diante.

Na época do crime, Merricat tinha apenas 12 anos e no fatídico dia tinha ficado sem o jantar como castigo por seu mau comportamento. Totalmente devotada a sua irmã Constance, é ela quem se encarrega de ir até a vila uma vez por semana para comprar os mantimentos necessários para a sobrevivência da família, mesmo sofrendo ataques constantes de seus moradores. Em uma das primeiras cenas do livro, algumas crianças cantam uma cantiga para provocá-la e podemos perceber como a comunidade é hostil a família Blackwood.

"Merricat, disse Connie, você não quer uma xícara de chá?
Ah, não, disse Merricat, você vai me envenenar. (...)"
Parte da canção, página 26.

A história do livro tem início quando ela já tem 18 anos, ou seja, já é quase uma adulta, mas acredito eu, devido a esse isolamento da sociedade, podemos ver um comportamento bastante infantil na personagem, que frequentemente conversa com seu gato, Jonas, enterra objetos pelo quintal, faz algumas birrinhas, entre outras atitudes que não condizem com sua idade, até que a chegada de um familiar faz tudo piorar.

Charles é primo das Blackwood, filho de um irmão que se distanciou totalmente da família após a tragédia. De início, este personagem dá a entender que só reatou os laços agora porque o pai, que acabou de falecer, o proibia de contatar as primas e tio Julian, mas aos poucos vamos descobrir suas intenções e elas não são nada boas. Merricat vê no primo uma ameaça ao equilíbrio da vida em família desde o primeiro momento, no entanto, apesar de inicialmente ter achado sua atitude muito estranha, percebi que há muito mais camadas na história da família Blackwood.

Apesar de estar na sinopse que a história tem um humor macabro, não esperava que fosse tanto. Em diversos momentos fiquei tentando diagnosticar Merricat, apesar de não ter o conhecimento para tal, pois a personagem claramente sofre de algum tipo de distúrbio anterior a tragédia que caiu sobre sua família, dando um ar meio de sonho psicodélico a leitura em alguns momentos. Pode ser que isso ocorra porque a própria autora era viciada em álcool e anfetaminas, dando vazão a sua criatividade de forma que muitas vezes não parece fazer muito sentido.

Assim que terminei a leitura fui pesquisar sobre a autora, e pude ver que mais alguns aspectos de sua vida pessoal podem ser observados no enredo, e principalmente na caracterização de Constance. Além dos vícios, Shirley Jackson também sofria de obesidade mórbida, ansiedade, depressão, e o que fica mais evidente na personagem, agorafobia. Durante a leitura vamos ver que o medo de Constance não é tão irracional assim, mas durante seis anos elas viveram sem nenhum incidente aterrorizante, e ela mesmo assim se negava a sair de casa.

Quando a tragédia chega mais uma vez para as Blackwood, era de se esperar que elas acordassem ou afundassem ainda mais, o que acaba acontecendo e é aí que a história fica ainda mais surreal. Para nós que vivemos em sociedade de forma relativamente normal, a situação parece totalmente absurda, até mesmo a falta de reação delas, mas é fácil julgar sem estar na pele de pessoas que vivem com algum tipo de distúrbio, por isso, ler Sempre vivemos no castelo também é um exercício de empatia.

Apesar de curto, o livro tem aproximadamente 190 páginas apenas, nada deixou de ser dito pela autora. É uma história rica em mistério, a gente só vai saber se Constance envenenou a família ou não bem depois da metade livro, mas também em lições sofre amor e relação familiar, pré-julgamento, amadurecimento, como uma comunidade pode enlouquecer de forma coletiva e não se dar conta do que o que faz é errado e só perceber muito tempo depois, e ainda sobre o medo racional e irracional, e muito mais.

Sobre a edição, o que dizer minha gente? É um livro lindo, não apenas por ser capa dura, mas pelo conjunto de fatores como as cores, imagens, a textura, e até as folhas de guarda, que apesar de serem inteiramente azuis, deram um charme a mais para o produto. A fonte é a mesma da maioria dos livros da Suma, que poderia escolher uma fonte maior, mas também não é das mais desagradáveis de se ler e o papel é o meu amado pólen soft, que não irrita minha rinite ou minha vista míope.


site: http://www.oquetemnanossaestante.com.br/2017/09/sempre-vivemos-no-castelo-resenha.html
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Leila de Carvalho e Gonçalves 19/10/2017

Insólito E Perturbador
Nomeado um dos melhores romances de 1962 pela Times e Goodreads, "Sempre Vivemos no Castelo" foi o último livro publicado em vida por Shirley Jackson. Muito acima do peso, viciada em anfetaminas e fumante inveterada, a escritora faleceu em 1965, aos 48 anos, de um ataque cardíaco.

Quem apresenta a narrativa é Mary Katherine Blackwood ou simplesmente Merricat, uma jovem de 18 anos que vive com a irmã Constance e o tio Julian num pequeno vilarejo no estado de Vermont. Eles são os únicos sobreviventes de uma tragédia familiar, ocorrida há seis anos e, desde então, vivem praticamente isolados, evitando contato com a comunidade local, entretanto, uma inesperada visita pode alterar esta rotina.

O que aconteceu no passado e suas consequências são as forças motrizes de uma trama insólita, marcada pela atmosfera gótica, que aborda temas como amor e devoção, sociopatia e agorafobia além de perversidade e segregação. Em linhas gerais, colocando em pauta a moralidade, trata-se de uma perturbadora história de terror que, sem recorrer ao sobrenatural, disseca o lado sombrio da natureza humana.

Outro ponto interessante é a alteridade. A escritora afirma que se inspirou em suas filhas para criar as duas irmãs, contudo, de acordo com sua biógrafa, Judy Oppenheimer, as duas jovens são respectivamente o "yin e yang do próprio eu interno de Shirley: um, explorador e desafiante; o outro, doméstico e satisfeito". Por exemplo, enquanto Merricat revela-se obstinada, supersticiosa e ingênua; Constance é solícita e não se aventura além dos limites da propriedade da família.

Finalmente, pouco conhecida no Brasil, a escritora é autora de outros dois clássicos do terror: o polêmico conto "A Loteria" (1948), que revela um lado sinistro de uma bucólica aldeia americana, e a novela "A Assombração da Casa da Colina" (1959), considerada uma das melhores histórias sobre mansões assombradas já escritas, por sinal, o livro focou esgotado durante muitos anos e ele era vendido por um valor exorbitante em alguns sebos.

Nota: Adquiri o ebook que, com índice ativo, atendeu minhas expectatativas.
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Karini.Couto 28/10/2017

Quando vi esse lançamento fiquei doida por ele, e quando recebi o livro fiquei doida na edição linda e caprichada da editora.
Quem me conhece, sabe que leio bastante e gêneros variados, mas tenho um "tombo" por terror, horror e psiquê; então imaginem que fiquei em êxtase com esse lançamento que posso adiantar que AMEI!

Vamos a história: Aqui vamos conhecer o passado e presente da família Blackwood ou o que testou dela! Antes eram sete, hoje são apenas três. Parte da família foi envenenada com arsênico em um açucareiro e apenas três dos Blackwood sobreviveram. Constance era quem lidava com a alimentação da família e por isso acusada do crime de assassinar seus parentes, mas por falta de provas foi inocentada; mas o vilarejo não a acha inocente e demonstra isso de maneiras diversas que beiram a crueldade até. Causando em Constance medo de sair em público e com isso os três Blackwood sobreviventes passam a viver isolados em seu castelo.

Quem conta os fatos é a peculiar e incrível Merricat (Mary Katherine) que tem dezoito anos agora, mas na época das mortes tinha apenas doze anos. Talvez ela só tenha sobrevivido devido ao castigo que a deixou sem jantar. Merricat ama à sua maneira Constance e é ela quem vai ao vilarejo em busca do necessário para que possam sobreviver no castelo e nessas incursões pelo vilarejo Merricat sofre com a crueldade da população que não esqueceu a tragédia de sua família. Ninguém parece interessado em deixar o passado de lado. E sempre relembram Merricat do que aconteceu!

Mas uma visita muda o rumo das coisas, Charles - um primo; filho de um irmão que manteve distância da peculiar família, após a tragédia e morte de parte deles.

Charles faz com que pensemos que sua aparição recente é devido a morte de seu pai que o mantinha longe da outra parte de sua família; ele logo se interessa por Constance e mantém uma relação muito próxima com tio Julian; mas será que é isso mesmo? Ou ele tem intenções ocultas?

Merricat parece ser a única a ver o que ninguém mais vê; uma ameaça! E com base nisso ela fará seu melhor ou pior para proteger aqueles com quem vive. Charles parece como um carrapato disposto a grudar neles, mas Merricat está disposta a não permitir que esse fosrasteiro perturbe a dinâmica dos Blackwood.

Ela é peculiar; tem seu mundo particular em sua mente deturpada e ao mesmo tempo apesar dos seus dezoito anos é infantil ou parou no tempo devido, talvez, ao isolamento da sociedade ao redor e conviver apenas com duas pessoas. Ela fala com seu gato, tem atitudes infantis e até bizarras para a idade e tudo piora com a chegada do primo Charles.as percebo que mesmo antes da tragédia ela já era diferente, por assim dizer!

O passado que tanto evitam parece estar de volta e todo o horror vivenciado a espreita dos Blackwood. Será que mais tragédias estão por vir? Ou é apenas instinto de preservação?

Essa história nos traz um misto de sentimentos perturbadores, que a princípio não percebemos exatamente o que ou quem incomoda mais; e nos traz coisas como fobias, "compulsões", medos, maldades, e doenças mentais somado a um humor negro que beira ao incômodo de tão perturbador!

Engana-se quem pensa que se trata de algo sobrenatural (sim amo sobrenatural), porém o que amo ainda mais? A mente humana e um bom conto de horror psicológico. Tenho um interesse quase insano pela mente humana e ler "Sempre Vivemos no Castelo" me fez perceber ainda mais como esse tipo de leitura e enredo me pega de jeito sempre!

Não consigo explicar essa paixão pela mente humana e suas loucuras, só posso dizer que isso me atrai irremediavelmente! E que quanto mais leio, mais me sinto próxima da loucura de algumas mentes humanas e da forma como elas "pensam" tentando analisar pelo ponto de vista insano suas atitudes e assim desvendar seus mais sombrios sentimentos em uma espécie de análise por assim dizer. Na tentativa de entender como mentes deturpadas funcionam e o principal.. Por qual motivo são como são!

Shirley Jackson entrou para a minha "listinha negra de autores macabros que amo". Uma das coisas mais interessantes é que tem muita coisa pessoal envolvida nesse enredo criado por Shirley Jackson e isso perturba ainda mais conforme tomamos conhecimento. Talvez por isso ela tenha alcançado um " tom" tão real e perturbador.

Ler "Sempre Vivemos no Castelo" foi como me sentir presa em um espelho e não conseguir sair. Um livro com poucas páginas que tem tanto no enredo e nos deixa pairando em um inverso de insanidade e loucura.

A pergunta que me fiz o tempo todo.. Constance de fato envenenou sua família? Ou teria sido sua irmã na época tão jovem, aparentemente tão inocente apesar de já aparentar ser um pouco diferente do normal?
Sem contar na histeria que envolve toda uma cidade capaz de cometer atos cruéis e nos mostrando que a lpucura ou maldade pode ser contagiosa dependendo das circunstâncias.

Tem tantas coisas discutíveis nessa história se deixar fico aqui falando e falando.. Sobre a mente, sobre fobias, doenças, crueldades, medos, anseios, loucura, histeria, sarcasmo, mas também de amor.. Por mais bizarro que ele possa parecer!

Gente! Leiam logo esse livro! É incrível!
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Dhiego Morais 16/11/2017

Sempre Vivemos no Castelo
Shirley Jackson, californiana nascida em 1916 é considerada uma das maiores expoentes da literatura de terror do século XX, sendo inclusive leitura obrigatória em diversas escolas americanas. Aclamada pelo público e pela crítica, a autora influenciou grandes nomes da atualidade, tais como Neil Gaiman e Stephen King. E, tendo em vista a minha queda pelas obras de King, não poderia perder a oportunidade de ler uma das autoras mais elogiadas pelo mestre.


Em Sempre Vivemos no Castelo conhecemos a história singular dos Blackwood que há algum tempo foram reduzidos drasticamente às figuras das irmãs Merricat e Constance, e de seu tio, Julian. Envenenados por uma dose de arsênico contida em um pote de açúcar, a família Blackwood, antes numerosa, rapidamente se transformou e se resume aos três personagens citados.

??Coitados dos desconhecidos?, eu disse. ?Eles têm tantos motivos para ter medo??.

Constance Blackwood, a irmã mais velha, logo é acusada de ter envenenado os demais familiares, já que a mesma havia sido responsável pela última refeição preparada. Porém, pouco depois é inocentada, quando acaba por retornar à mansão da família. Por outro lado temos a pequena Merricat, uma jovem um tanto quanto excêntrica, que no fatídico dia havia sido colocada de castigo.

A trama toda gira em torno das irmãs Blackwood e de seu relacionamento com o povoado que, após os assassinatos, mantém além de um desconfortável distanciamento, também um visível desprazer em possuí-las como parte da vizinhança. Desta forma, os últimos Blackwood tornam-se extremamente reservados, estranhos, dotados de uma aura sombria para a maioria, em meio a um caso irresoluto.

Quando Charles, um primo distante, resolve visitá-las, a vida aparentemente pacata, mas não menos curiosa de Constance e Merricat apresenta sinais de mudança. E é neste ponto que toda a trama se desenrola e a autora constrói o clímax da obra.

Sempre Vivemos no Castelo não se trata de uma obra de terror que abusa do sobrenatural para se erguer frente ao leitor, mas sim de uma obra de terror psicológico, em que a mente humana atribui todo o horror e bizarrice que tinge o romance, afinal, não há nada mais assustador do que a percepção de que o terror reside na mente de cada ser humano.

O que Shirley faz em um livro tão curto é assombroso, pois a sua construção de personagens é feita com exímia habilidade, e, junto à escrita fluida e deliciosa confere consistência e originalidade, principalmente se tomarmos a época em que foi escrito.

?A língua deles vai queimar, pensei, como se tivessem comido fogo. As gargantas vão queimar quando as palavras saírem, e na barriga vão sentir um tormento mais quente do que milhares de incêndios?.



Constance é uma personagem extremamente reservada; detentora de um medo absoluto em sair de seu ?castelo?. A Blackwood mais velha apresenta uma espécie de agorafobia, um distúrbio caracterizado pelo medo de lugares e situações que possam causar pânico, impotência e constrangimento. Para Constance, caminhar pelas ruas e ser alvo de um intenso olhar acusatório, bem como de fofocas e murmurinhos vis, configura uma das piores sensações pelas quais seria capaz de experimentar em vida.

Já Merricat Blackwood é talvez a personagem mais bem caracterizada da obra. Considerada uma jovem excêntrica, Merricat enterra objetos para afastar intrusos, conversa com Jonas, o gato e mantém um laço visceral com a irmã, quase uma espécie de fascínio egoísta por sua irmã, Constance. Em boa parte do livro é fácil se esquecer de que Merricat já não é mais criança, mas sim uma jovem de dezoito anos, já que sua mente intrincada é permeada por sintomas infantis.

Julian, o tio é agora um homem inválido, cuja mente e o corpo parecem ter sofrido permanentemente pelo arsênico. Incapaz de andar, Julian tem poucos momentos de lucidez, quando tece comentários valentes e perspicazes a respeito da noite do envenenamento, fato este no qual ele centra suas forças para redigir um livro que nunca se encerra. O velho tio é igualmente bem construído e confere certa descontração ao ritmo do texto de Jackson.

?Não consigo me segurar quando as pessoas têm medo; sempre tenho vontade de botar mais medo ainda nelas?.



Outro ponto que merece destaque no livro de Shirley é a capacidade exímia de ela apresentar versões realistas da mente humana, cheia de sombras e iniquidade. O povoado que cerca a mansão Blackwood atua como agente modificador na trama, demonstrando todo o preconceito, pré-julgamento e inimizade presente entre as partes. Há certa selvageria e brutalidade escondida em cada olhar por ali.

O que Shirley Jackson faz ao encerrar o livro pode agradar enormemente os leitores ou simplesmente fazê-los detestar a experiência. A questão do assassinato não é difícil de pescar, entretanto, a motivação dá o toque mórbido certo à história. A leitura de Sempre Vivemos no Castelo é a jogada de uma moeda, em que há a possibilidade de dar apenas um resultado ou outro, cara ou coroa, quase nunca um meio termo.

Jackson brinca com o leitor ao construir uma obra que dança silenciosamente com o inconsciente. A insanidade e a perversidade da mente humana são expostas ao longo da trama, em um romance cheio de suspense, cuja escrita demonstra toda a sua fluidez e força logo nos primeiros instantes em que respira. Sempre Vivemos no Castelo é sobre os efeitos do isolamento social sob a perspectiva de mentes perturbadas e irremediavelmente neuróticas.

O terror é sutil, mas poderoso. Hoje é dia de visitas na mansão das Blackwood. Acomode-se. Aceita uma xícara de chá?
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Viviana 30/05/2018

O livro é narrado em primeira pessoa a partir da visão da caçula, Merricat Blackwood. No começo do livro nos é dito que ela tem 18 anos, mas logo percebemos que suas idéias e atitudes não são condizentes com esta idade, tanto que em vários momentos eu me recordei de O Sol é Para Todos... se fosse narrado a partir da perspectiva da casa dos Radley.
A autora desenvolve muito bem a personagem da Merricat, mas, por contar somente a perspectiva dela, e ela não ser uma narradora confiável, muitas coisas ficam soltas na narrativa.
Eu tenho dois problemas com terror: as finalizações e quando se justifica a trama porque os são personagens loucos. E foi o que me fez não gostar tanto deste livro. A autora faz uma excelente construção da personagem, consegue criar uma atmosfera envolvente de suspense e daí... o final é "meh". Este livro foi tão recomendado que eu sinceramente esperava mais. Mas eu gostei da autora e, se tiver oportunidade gostaria de ler outras obras dela.
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Marlene C. 24/01/2018

[Resenha] Sempre Vivemos No Castelo - Shirley Jackson
Essa é uma resenha que eu não sei por onde começar, Sempre Vivemos No Castelo é um livro que foi lançado pelo selo Suma das Letras, e essa foi uma leitura que me tirou da zona de conforto e me deixou a deriva.

Eu fui cativada por essa capa e ao vê-la, não pensei duas vezes antes de pedir o livro, porém eu não esperava personagens tão complexos como a Mari e tão inquietantes como a Constance.

Mari Katherine é uma jovem bem estranha, ela vive com seu tio Julian, sua irmã Constance e seu gato Jonas, ela guarda um grande rancor das pessoas que moram na pequena comunidade em que vive e deixa isso bem claro, desejando constantemente a morte de todos eles.

O mistério que envolve o livro gira em torno da morte dos membros da família Blackwood, isso é algo que me incomodou bastante, ao mesmo tempo que me prendeu na leitura, porque eu queria saber o que estava acontecendo ali, mas também tinha um certo receio de não ser tudo o que esperava.

Imagina só como é viver com o fato de que quase toda a sua família foi envenenada por Arsênico, e se não bastasse isso, a comunidade em que as garotas vivem, as culpam por isso; o plot basicamente discorre sobre o dia a dia das família até que um primo chega para passar um tempo na casa, e muda algumas dinâmicas e desperta alguns sentimentos.

"A cova acomodaria com delicadeza a cabeça dele. Gargalhei quando descobri uma pedra redonda do tamanho certo, e desenhei um rosto com a unha e a enterrei no buraco. “Adeus Charles”, me despedi."

Um dos pontos positivos dessa história é o desenrolar da narrativa, porque apesar de ter tido um começo bem arrastado e confuso, o livro conseguiu me prender do inicio ao fim, e posso literalmente dizer que li em uma sentada; com uma história que se passa em uma época que a sociedade é extremamente machista e reativa, a vida dessas irmãs pode ser qualquer coisa menos fácil, com um pano de fundo que relata quase uma histeria coletiva perante aos fatos que ninguém entende muito bem o que aconteceu (a tragédia na família dos Blackwood) e o inaceitável em achar que está tudo bem com a violência verbal que Maricat sofre quando vai a cidade.

Alguns diálogos entre os personagens são bem incômodos e fora de contexto, eu por diversas vezes, me vi pensando se isso era real ou apenas algo da imaginação deles. Algo que me incomodou bastante foi os devaneios de Maricat e sua constante sede de vingança, outro ponto foi o envolvimento das irmãs com as mortes dos familiares, sabemos que elas tem sua parcela de culpa, mais até onde isso é consequência de suas ações?

Apesar de tudo, esse foi um livro que me agradou, não posso dizer que morri de amores, mas ela tem seus pontos fortes, como os mistérios e segredos a serem revelados, foi legal desvendar os mistérios escondidos pelos Blackwood e conseguir ligar cada nova pista, dessa insana aventura.

Nenhum dos personagens verdadeiramente me conquistaram, entretanto quando finalizei a leitura, me vi refletindo sobre suas características e peculiaridades e o quão únicos são justamente por saírem do padrão ao qual estou acostumada.

"Fico pensando se conseguiria comer uma criança se a oportunidade surgisse.
Não sei se eu conseguiria cozinhar uma. Diz Constance."

Constance é uma pessoa tímida e bem calma, ela se fechou dentro do seu mundinho, eu não curtir a maneira como isso foi passado, porque a impressão que eu tinha é que ela era uma bomba relógio prestes a explodir, mas, apesar de tudo, isso me levou a pensar o que aconteceu com ela e quais foram as circunstancias que a fizeram dela o que ela é hoje.

Julia foi uma incógnita para mim e até agora eu ainda não tenho uma opinião formada a seu respeito, ele é considerado um lunático e vive com a cara enfiada nos livros, sua personalidade para mim não ficou bem clara, acho que no fundo essa era a intenção.

A edição está linda, como já comentei anteriormente, fui cativada pela capa que fala muito da história, o contraste de cor ficou incrível e o livro é em capa dura, as letras me incomodaram um pouco por ser pequenas, mas nada que dificultasse muito a leitura.

Esse não é livro para qualquer um, porém como um clássico suspense da literatura, de uma autora que inspirou nomes como Stepehen king e Neil Gaiman, vale todo o esforço de sair da caixinha e tentar encaixar as peças; apesar de todas as ressalvas eu pude desfrutar bastante da obra, por isso recomendo essa leitura.

"É errado odiá-los”, Constance dissera, "só serve para enfraquecer você", mas eu os odiava mesmo assim, e me questionava até mesmo por que eles tinham sido criados."
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Agnnes29 10/05/2024

Que livro... Que livro!
Esse livro foi de tirar o fôlego, recomendo muito!
Sinceramente,eu engoli esse livro, foi rapido e intenso.
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Alan Martins 08/02/2018

Personagens sem graça, livro sem graça
Título: Sempre vivemos no castelo
Autor: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Ano: 2017
Páginas: 200
Tradução: Débora Landsberg
Veja o livro no site da editora: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000407

“Meu nome é Mary Katherine Blackwood. Tenho dezoito anos e moro com minha irmã Constance. Volta e meia penso que se tivesse sorte teria nascido lobisomem, porque os dois dedos médios das minhas mãos são do mesmo tamanho, mas tenho de me contentar com o que tenho.” (JACKSON, Shirley. Sempre vivemos no castelo. Suma de Letras, 2017, p. 7)

Último livro publicado de uma das maiores escritoras estadunidenses do século XX, ‘Sempre vivemos no castelo’ apresenta uma trama confusa e aparentemente sem um sentido principal, porém, no meio dessa confusão toda, a obra aborda algumas questões delicadas, de maneira bem sutil.

AUTORA DE CLÁSSICOS
Shirley Jackson ficou conhecida, principalmente, por seus trabalhos no gênero mistério e terror, sendo uma inspiração para autores como Neil Gaiman e Stephen King. Seu livro mais conhecido é o romance de terror psicológico ‘The haunting of hill house’ (‘A assombração na casa da colina), obra muito aclamada e considerada uma das mais importantes do gênero pelo mestre King.

Suas obras ganharam algumas adaptações cinematográficas, inclusive ‘Sempre vivemos no castelo’ estreará nos cinemas em breve; o filme está previsto para estrear ainda em 2018. Com uma carreira curta, Shirley Jackson gravou seu nome na literatura dos Estados Unidos, com livros compondo a lista de leituras obrigatórias de diversas escolas do país. Faleceu aos quarenta e oito anos, vítima de insuficiência cárdica, por conta de sua obesidade e por ser uma fumante ávida.

“Não consigo me segurar quando as pessoas têm medo; sempre tenho vontade de botar mais medo ainda nelas.” p. 55

A CONFUSA HISTÓRIA DOS BLACKWOOD
Esse é um livro difícil de caracterizar: há um certo mistério, drama e situações sobrenaturais (forçadas, destoando do enredo). A história é narrada pela protagonista, Marry Katherine Blackwood, mais conhecida pelo seu apelido Merricat. Ela vive com sua irmã, Constance, e seu gato, Jonas, em uma casa herdada de sua família, uma residência passada entre gerações. Nessa casa também reside Julian, tio das duas irmãs, cadeirante, idoso e com lapsos de memória.

Houve uma grande tragédia nessa família e, no período em que o enredo se passa, as duas irmãs sofrem as consequências desse fatídico incidente. Elas vivem isoladas da sociedade, reclusas em sua propriedade. São consideradas estranhas pelo restante do vilarejo, sofrendo uma forte rejeição e perseguição; a população parece sentir certo ódio delas e isso está ligado tanto ao fato de serem consideradas diferentes, quanto à essa tragédia familiar.

Os três compõem uma família diferente e vivem uma rotina, da qual Merricat não pretende abrir mão. A jovem de dezoito anos chega a fazer algumas simpatias em seu quintal, enterrando itens da família, a fim de garantir que sua família seja protegida das pessoas de fora e que a rotina continue sempre a mesma.

Ao longo da narrativa elas enfrentarão diversos problemas, que podem abalar essa rotina e modificar completamente suas vidas. Enfrentando a ira do vilarejo, as duas irmãs buscarão permanecer unidas até o fim.

“Qual lugar seria melhor para a gente do que este? Quem quer a gente, lá fora? O mundo está cheio de gente terrível.” p. 76

NADA PARECE FUNCIONAR
O enredo tenta ser misterioso ao não revelar a verdade sobre a tragédia que acometeu os Blackwood. Mas a autora não constrói um clima misterioso de forma instigante, sendo sincero, a escrita acaba sendo broxante.

Para começar, a narração é comprometida pela própria narradora, que não é totalmente sincera e omite fatos. Todas as personagens conhecem a verdade sobre a tragédia, porém nenhuma fala sobre isso até certo ponto do enredo. Não é algo que elas buscam descobrir, a autora simplesmente guarda isso para depois, em uma tentativa de enganar o leitor contando “mentiras”.

Merricat e Constance não são personagens cativantes. A primeira é muito infantil para sua idade, dizendo coisas que uma criança diria, vive no mundo da lua e possui traços de psicopatia; em Constance há uma grande falta personalidade. Tio Julian é engraçado em certas partes (um ponto positivo desse livro é o humor negro, que funciona), todavia, ele acaba sendo mais irritante que divertido. Os moradores do vilarejo são todos pessoas ruins, malvadas e caricatas. Falta de personalidade é a maior falha dessa obra.

Não existe um foco central no enredo, que não chega à lugar algum, nem faz muito sentido. Apesar disso, o livro aborda alguns temas delicados, como a agorafobia, transtorno psicológico ligado a ataques de pânico, caracterizado pelo medo extremo de lugares abertos, com grande quantidade de pessoas. Shirley Jackson sofria desse distúrbio e, talvez, essa obra seja um ensaio sobre a agorafobia. Outro tema retratado é a perseguição a pessoas consideradas “estranhas”, “diferentes”; o preconceito. Numa visão pessoal, considero que o enredo também fala sobre o medo de mudanças, de se manter seguro em seu cantinho, pelo medo de sair da rotina, sair da bolha.

“Eu não encostaria no anel; a ideia de um anel em torno do meu dedo sempre me deu a sensação de estar amarrada com força, pois anéis não tinham abertura para escapar […]” p. 102

SOBRE A EDIÇÃO
Edição muito bonita, que merece elogios pelos aspectos físicos. Capa dura, com uma arte bonita, páginas em papel Pólen Soft de boa gramatura, diagramação e margens confortáveis. Belo padrão de qualidade.

Débora Landsberg, a tradutora, já pode ser considerada experiente, pois possui um considerável número de obras traduzidas. Seu trabalho nesse livro é competente, o enredo é confuso por si, não por conta da tradução. Ademais, Shirley Jackson possui um estilo muito repetitivo que deixa a estética da obra um tanto quanto “feia”, um pouco forçado, talvez uma falta de polimento.

“A comida vem da terra e não se pode deixar que ela fique lá apodrecendo; tem que se fazer alguma coisa com ela.” p. 60

CONCLUSÃO
Peguei-me desejando que a leitura desse livro terminasse logo, de tão sem graça que achei o enredo. A história não quer dizer nada com nada, o mistério não funciona e as personagens são esquecíveis, bobinhas demais. Os temas subliminares, como a agorafobia, a perseguição e o medo de mudanças podem ser considerados interessantes e talvez sejam o que a autora realmente quis dizer com esse livro, entretanto isso é feito de forma nada animadora, o livro não instiga. Edição bonita, em capa dura e com boa tradução, porém isso não salva um enredo sem sentido e com personagens caricatos e sem carisma. Livro que eu não recomendaria, talvez as outras obras de Shirley Jackson sejam mais interessantes. ‘Sempre vivemos no castelo’ não me agradou.

“A cabeça de um homem deve ser da responsabilidade dele, afinal.” p. 83

Minha nota (de 0 a 5): 2,5

Alan Martins

Veja outras resenhas no blog. Lá você também encontrará poemas e artigos sobre psicologia!

site: https://anatomiadapalavra.wordpress.com/2018/02/08/minhas-leituras-53-sempre-vivemos-no-castelo-shirley-jackson/
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Renata (@renatac.arruda) 21/03/2018

As pessoas costumam dizer que esse livro é estranho e com razão. Demora um pouco a cair ficha sobre o que está acontecendo, temos uma narradora que não é que não seja confiável, mas que nos apresenta os fatos da forma como ela os percebe. Uma maneira que achei eficaz de ler é imaginar que se está em um hospital psiquiátrico ouvindo o relato de um paciente neuroatípico.

Embora muitas pessoas costumem associar o terror a monstros, sustos, serial killers e mortes violentas, isso nem sempre é verdade e, pra mim, o terror mais interessante é o psicológico, que utiliza o medo, a paranóia, a histeria e a loucura como fonte de tensão. Nesse livro Shirley Jackson constrói uma história sombria cujo horror não é oriundo de um grande mal perverso mas do transtorno mental e do medo. São duas irmãs e um tio idoso que vivem isolados do resto do vilarejo como fantasmas em vida e têm sua rotina perturbada com a chegada de um primo distante.

Há vários elementos simbólicos para a perda da inocência, os ritos de passagem e o crescimento como a morte dos pais, a casa, a chegada do homem, o fogo. Mas o principal mesmo é a união entre as duas mulheres e a forma como protegem uma a outra, mesmo que isso signifique abdicar para sempre do convívio com os outros.

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Brina.nm 03/04/2018

Marricat, você não quer uma xícara de chá?
Sempre Vivemos No Castelo nos apresenta a família Blackwood, uma família bem estranha e rica de uma cidadezinha qualquer. Eles nunca foram bem vistos naquele lugar, sempre havia um morador ou outro cochichando sobre os Blackwood, e quando a filha mais velha Constance foi acusada de matar toda sua família em um café a cidade toda passou a temê-los e a hostiliza-los ainda mais.

Mas Constance não sai de casa, quem vê todo o ódio da cidade é Merricat, a garota de 18 anos que faz as compras para a irmã toda semana. Toda semana ela ouve os cochichos dos moradores, as ofensas das crianças maldosas, os múrmuros dos bêbados, e toda semana ela deseja que eles morram, e que não destruam a felicidade que ela tem com Constance e Tio Julian.

Mas um belo dia um dos seus amuletos caí, e trás com ele Charles, seu primo que chega tirando todos da rotina e mandando em Constance e Tio Julian. Merricat sabe que é ele que está acabando com a felicidade daquela casa, ma será que ela fará o necessário para defender sua família?

"Marricat, disse Connie, você não quer uma xícara de chá? Ah não, disse Marricat, você vai me envenenar. Marricat, disse Connie, você não quer dormir? Lá no cemitério, com a terra a te engolir?"

Sempre Vivemos No Castelo é um livro muito doido hahaha. Sério, um terror meio que psicológico, uma história que você sabe que existe algo errado mas não consegue identificar o que, só sabe que o 'errado' está no restante da família Blockwood, e que não iria querer um chá adoçado preparado pela Constance.

As personalidades dos três personagens são estranhas, sinistras e você fica desde a primeira página curioso para saber o que realmente aconteceu naquele café que matou quase toda a família, e também quem foi o responsável por isso. Tio Júlio é um velhinho que a todo momento relembra o acontecido, e é através das suas memórias, dos seus relatos que vamos entendendo realmente o que aconteceu ali, mas há sempre aquela pontinha de dúvida de quem realmente tem a ver com o desastre.

Constance e Merricat também, ambas são sinistras a sua maneira. Constance não sai mais de casa, não se importa da irmã pendurar um relógio de ouro e enterrar moedas de prata pelas terras da família, vive enfurnada na cozinha preparando o que a pessoa quiser pra comer e também é obcecada pela limpeza e organização da casa, mantendo tudo como os seus pais deixavam. Já Merricat é uma jovem de 18 anos com mentalidade bem infantil, ela passa o dia ajudando Constance, mas também adora ficar correndo por todo o lado com seu gato Jonas, enterrando e pendurando amuletos para manter a propriedade "segura".

É um livro bem fininho, e com uma escrita bem fluida que faz o leitor ficar preso naquelas páginas estranhas, porque queremos saber quem matou toda a família, queremos saber qualé o da Merricat e Constance, queremos saber o que Charles trará de desastre pra aquela família. É uma leitura viciante e original, e quando você mal vê já acabou aquela história e está olhando para o teto pensando em tudo que aconteceu e querendo mais livros da autora.

"A cova acomodaria com delicadeza a cabeça dele. Gargalhei quando descobri uma pedra redonda do tamanho certo, e desenhei um rosto com a unha e a enterrei no buraco. “Adeus Charles”, me despedi."

Em poucas páginas Shirley Jackson consegue nos apresentar um terror psicológico intenso e perturbador. Merricat não é nem um pouco confiável como narradora, mas ainda assim conseguimos entender seu amor por Constance, a união daquelas duas mulheres para tentar manter o que restou da família unidas. É perturbador também observar todo o ódio da cidade com aquela família, ver como as pessoas sempre são cruéis com o que é diferente e nessa parte desejei um final mais aterrorizante, mas consegui compreender tudo com as palavras da Constance: "É errado odiá-los”, Constance dissera, "só serve para enfraquecer você".

Esse não é um livro que todos vão amar, alguns vão achar meio fraco, outros vão achar sem pé nem cabeça, mas o consenso geral é que ele é estranho, os personagens são estranhos, e se você começar a olhar nas entrelinhas dessa história vai conseguir ver o quanto a autora é brilhante em construir uma história tão perturbadora e poética que aborda muito bem conceitos como a histeria coletiva, o medo do desconhecido, agorafobia e é claro as coisas que fazemos para nos manter unidos àqueles que amamos.

"Uma mulher que nasceu para a tragédia, talvez, apesar da tendência de ser meio boba."

site: http://www.stalker-literaria.com/2018/04/resenha-sempre-vivemos-no-castelo.html
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Micha 06/05/2018

Angustiante
Precursora de mestres do suspense como Stephen King, Shirley Jackson merecia mais destaque na mídia, segue como um achado meio "garimpado" apenas entre os leitores mais ávidos, como eu. Vale a pena conferir a atmosfera claustrofóbica desse enredo, que tem toques de literatura infanto-juvenil, mas um enredo bem adulto e de tirar o fôlego. Merece uma adaptação cinematográfica, para quem sabe assim ser apresentado ao grande público que não teve o prazer de conhecer a escrita de Shirley.
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