neo 18/09/2015Eu tinha grandes expectativas ao começar a ler O Protegido. E, infelizmente, elas foram respondidas apenas em parte.
O mundo que Brett criou é sim extremamente interessante e bem construído. Dá para realmente sentir que estamos em lugar diferente, com regras e costumes diferentes, e isso, é claro, se deve em boa parte aos demônios e à como os humanos aprenderam a se desenvolver diante do perigo que eles representam.
Os personagens também são ótimos. Os principais, Arlen, Leesha e Rojer, são todos bem desenvolvidos e com personalidades próprias (Rojer um tanto menos do que os outros dois por aparecer pouco nesse primeiro volume, apesar de desempenhar um papel importante mais para o final). O livro os acompanha desde sua infância até a vida adulta, e eu gostei bastante da história dos três. Nessa parte eu mal conseguia desgrudar a cara das páginas de tão curiosa que estava sobre como a trama se resolveria.
Mas aí a última parte do livro fez minha satisfação tomar um tombo daqueles.
O que é bem estanho, já que pelas resenhas que li a parte final do livro foi a preferida de muitos. Mas para mim ela pareceu meio... desconectada, principalmente em relação ao Arlen. Ele se transformou em uma pessoa super diferente do nada; ou melhor, anos se passam em um piscar de olhos e puf, a personalidade dele foi praticamente substituída por outra. Foi como se uma boa parte do desenvolvimento dele tivesse acontecido nesses anos que passaram num piscar de olhos, off page, sem que o leitor acompanhasse. E bem, isso me deixou um tanto chateada.
Na verdade, fiquei com a impressão de que O Protegido teria sido um livro melhor se fosse contado meio que em in media res, aka, com a parte final sendo a inicial e o passado dos personagens sendo flashbacks. Não sei se alguém por aqui já leu As Guerras do Mundo Emerso (segunda série do Mundo Emerso, da Licia Troisi), mas a autora lá faz algo assim no primeiro volume e o resultado, pelo que me lembro, é ótimo. Aqui em O Protegido o Arlen ficou quase como duas pessoas diferentes graças a esse desenvolvimento perdido.
E infelizmente boa parte da minha simpatia por ele morreu quando ele se tornou o ~badass~ da história. O distanciamento que o autor acabou colocando entre o leitor - aka eu - e o personagem foi um tanto grande demais. Arlen se tornou mais uma caricatura do que um personagem de fato.
Outra coisa que me incomodou foi o estupro que uma personagem feminina sofreu lá no final. Não pelo estupro em si (que nem é mostrado na narrativa), mas sim pela falta de impacto que isso tem na vida dela. Veja bem, ela foi estuprada por três caras e tudo indica que foi algo terrível, mas aí dois ou três dias depois ela já está querendo fazer sexo com outro cara (que ela nem conhece, mas por qual sente uma espécie de instalove que me fez revirar os olhos demais) e depois disso o estupro não é mais mencionado. É como se ele não tivesse acontecido - ou melhor, como se ele só tivesse acontecido para prover um tanto de angst necessário naquela época e fim. Pra quê fazer uma personagem lidar com esse tipo de trauma, que na maior parte das vezes dura a vida inteira, né? Pra quê? Pff.
É por essas e outras que homens escrevendo sobre estupro fazem todos os meus alarmes dispararem. E bem, espero que no próximo livro isso seja tratado como se deve.
E sim, pretendo ler o próximo livro. O fim de O Protegido foi meio meh na minha opinião (acho que eu acabaria dando umas quatro estrelas pro livro se não fosse por ele), mas deixou em aberto algo que se bem explorado dará uma história ótima. Não vai ser minha prioridade, mas se a oportunidade surgir lerei A Lança do Deserto sem pensar duas vezes. Enfim, 3.0 estrelas para O Protegido.
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