Dani do Book Galaxy 09/04/2021Uma história não linear com um final que vai te deixar maluco (não necessariamente no bom sentido)Quem já leu outros livros do autor, como "Caixa de Pássaros" (que gostei muito) e "Uma casa no fundo de um lago" (que para mim deveria ser apagado da face da Terra), sabe o que quero dizer quando afirmo que a escrita do Josh Malerman é muito "ou você ama, ou odeia".
Em "Piano Vermelho", vemos o autor repetir seu estilo um pouco claustrofóbico e tão característico. Seu tom é seco e com poucas descrições - mas, quando as tem, elas são objetivas e rápidas. Elas nunca te informarão 100% como é um ambiente ou uma personagem; grande parte virá da sua própria imaginação, e acho que isso complementa de forma interessante as histórias de Malerman. Elas se tornam todas bastante subjetivas e sujeitas à interpretação de cada leitor.
Tal ritmo seco e cortante ajuda também a criar uma narrativa misteriosa, que brinca com você e o faz entrar na pilha das personagens. Por exemplo, ele utiliza parágrafos curtos, frases curtas, e muitas repetições (MUITAS mesmo, a ponto de ficar bem cansativo algumas vezes).
Uma passagem exemplificando o que quero dizer:
"É vermelho. É uma sombra. É vermelho. É uma silhueta. Está caminhando em direção a Ross. É uma sombra. É uma silhueta. Um taumatrópio. Duas imagens. Um disco. Uma corda. Girando. Indo e voltando. Rodando. Como uma roda.
É alguma coisa."
Essa forma de escrever não é utilizada o tempo todo no livro, claro, mas aconteceu vezes o suficiente para me dar agonia e até vontade de dar umas puladas nos parágrafos.
Assim, dá para entender o que quero dizer quando digo que Malerman faz com que você fique meio maluco junto com o Phillip, nosso protagonista. Músico, um dos integrantes da banda de rock Os Danes, Philip passa por maus bocados quando o Exército dos Estados Unidos os chama para identificar um som misterioso que está sendo emanado no deserto da Namíbia.
O interesse do Exército pelos meninos da banda vem pelo fato de todos já terem servido na época da segunda guerra mundial, tocando para animar os soldados, e a ideia é que eles prestem mais esse serviço para o Exército com sua expertise de músicos - pois são pessoas que entendem de som e de música em seus aspectos técnicos.
A história alterna momentos do passado, onde conhecemos a trajetória de Philip e dos Danes até o momento crucial em que voam para o deserto da Namíbia; e o presente, quando Philip retorna desta aventura confusa e perigosa. Além disso, acompanhamos também o ponto de vista de uma enfermeira, que cuida de Philip no hospital em que ele está internado após voltar da Namíbia.
As partes em que acompanhamos a enfermeira são bem objetivas e mais lineares. Entretanto, quando embarcamos nos pensamentos e sentimentos de Philip, a coisa chega a ser aflitiva. Nem sempre os sentimentos e pensamentos da personagem são lineares, e o leitor é tragado para uma espiral de medo e de sensações junto com ela.
Além disso, há o fator clássico que consagrou Josh Malerman em seus outros livros: nós, leitores, ficamos no escuro durante o livro todo, sem entender exatamente o que está acontecendo. E o fim do livro não nos fornece praticamente nenhuma resposta satisfatória ou conclusiva.
Leitores que precisam de um final fechado e sentem falta de entender cem por cento de uma história vão se decepcionar (como confesso que me decepcionei um pouco), mas a história é bem boa e deixa muito para nossa imaginação, o que também acho bem interessante.
Nem tudo na vida tem uma explicação, e Josh Malerman faz questão de que seus livros sejam uma dessas coisas que permanecerão abertas a qualquer interpretação.