Retipatia 05/11/2018
Garota Arco-Íris
Não fosse o nome um tanto quanto atípico, Rainbow Walker passaria despercebida pelo ensino médio. Ou, talvez não, já que ela é nova no colégio Westwood, em que todos parecem se conhecer desde a época das fraldas e, ainda por cima, a cidade pequena inteira parecer saber que os novos habitantes são meio 'hippies-nômades' e que gostam de batizar os filhos com nomes de eventos da natureza, já que, os irmãos mais novos de Rainbow se chamam Sunshine e Thunder Storm.
Apesar de tudo isso, Rainbow se mantém focada, é seu último ano escolar e, mesmo não tendo tanta certeza do que deseja quando for para faculdade, uma coisa é certa: sempre se esforçou para ser uma das melhores alunas e não será o já habitual bullying por causa do seu nome que irá atrapalhar. Afinal de contas, em se tratando de ser durona, ela tira de praxe, construiu barreiras bem fortes ao seu redor para isso.
O que Rainbow não esperava é que, logo em seus primeiros dias de aula ela já conheceria Rebecca, que vai não apenas lhe importunar nos dias que se seguirão, mas se tornar sua melhor amiga, apesar do seu esforço em não se apegar a ninguém, evitando qualquer tristeza que possa surgir com eventuais despedidas.
Falando em esforço para não se apegar, nossa mocinha também preza muito por seu espaço individual, coisa que o gatíssimo-punk-boy Thomas Reynard, parece não estar nem aí. Com suas roupas pretas e vibe de quem não liga muito para o resto do mundo, ele consegue se manter ao lado de Rainbow mais tempo do que qualquer outra pessoa.
Mais um dia no paraíso na vida da filha mais velha dos Walker, e Rain (como é carinhosamente chamada pela família e, para seu desgosto) se vê obrigada a ir numa festa após a escola com seus irmãos, que, diga-se de passagem, são o espelho oposto à irmã mais velha. Adoram uma festa, pessoas e interagir, mas também não pactuam muito com o estilo hippie dos pais. Na festa, tudo poderia ser muito tranquilo, não fosse a desconcertante presença de Thomas e, digamos, o quanto alguns outros adolescentes podem ser clichês, como nas melhores e piores definições dos romances hollywoodianos.
A maior surpresa de Rainbow é perceber que, aos poucos, suas barreiras estão baixadas, seu coração está criando laços, assumindo, de uma maneira que ela jamais achou ser possível, sentimentos novos e arrebatadores, que vão da amizade ao primeiro amor. A única coisa que ela não esperava é que, exatamente quando tudo isso acontece e sua vida parece perder um pouco do tom cinza e começa a ganhar contornos coloridos que combinam com os de seu nome, seus pais, os espíritos livres que caminham sobre a Terra, decidem que é hora de se mudar.
Rain terá agora que assumir responsabilidades maiores do que ela e lutar por tudo que conquistou, embarcando ainda em desventuras que só uma prima-descontrolada-ex-namorada de Thomas é capaz de fazer. Não é apenas seu futuro em jogo, mas toda as cores que foram apresentadas à sua vida que agora correm o risco de esmaecer novamente aos pálidos tons de cinza aos quais se habituara, e ela sabe que não quer voltar a ver a vida em P&B depois de se acostumar às cores do arco-íris.
É bem provável que Rain não soubesse o quanto esse último ano na escola seria decisivo, não para seu currículo acadêmico, mas para a vida. Ela cresce ao longo da história, passa da escala de cinza às cores e se reveste do seu próprio nome. Essa é a beleza do livro, o colorir do arco-íris que é nossa mocinha, algo que, sem dúvidas, só se daria diante das adversidades que a vida lhe impõe.
Dificuldades essas que vão desde o relacionamento com seus pais, que realmente são espíritos andantes, como o sobrenome da família indica (walker = caminhante), mas que têm dificuldades em entender e compreender os filhos bem arraigados que tiveram. Na verdade, apesar de toda a confusão que ocorre na história, entendo o lado deles, o sentimento de prisão que provavelmente se instala e necessidade de se mover. O único detalhe é o hábito que eles criaram em não realizar suas decisões como família, mas como um casal.
Apesar do clima tipicamente adolescente, Rain se dá consideravelmente bem com os irmãos e, a relação deles tem tudo para se alargar depois dos acontecimentos da história. Além disso, ela ainda faz uma amiga, Rebecca, dessas que temos certeza que não irá te largar depois do último dia de aula.
E, então, temos Thomas Reynard. O jovem que faz as adolescentes suspirarem e as leitoras se perguntarem onde é que está o seu exemplar de Reynard na vida... ahaha Brincadeiras à parte, não, ele não é perfeito, tem seus momentos adolescentes, mas conquista exatamente por saber demonstrar maturidade exatamente quando é necessário. E, o mais importante, quando decide se aproximar de Rain e vê seus sentimentos surgindo, não se afugenta, apenas sabe que quer viver tudo ao lado dela.
Se não fossem as pessoas que não dão a mínima para todo o instinto de auto-preservação que Rain mantém ativado, ela jamais começaria a se ver mais claramente, a se descobrir. E essa é uma das melhores mensagens do livro, de que, sozinhos, dificilmente chegaremos à algum lugar e, ao mesmo tempo precisamos respeitar e amar a nós mesmos antes de conseguir amar os outros.
O livro da Martinha (aquelas, super íntimas, né... ahaha) tem uma escrita super fluida e gostosa. A narrativa segue majoritariamente pelo ponto de vista de Rainbow e, em alguns pontos, somos agraciadas por capítulos de Thomas. As páginas são viradas rapidamente e, apesar de não ter grandes reviravoltas e seguir alguns clichês básicos do bom romance, é cativante. Sobre clichês aqui vai o adendo, quando bem usados, eu os adoro e a Miss Fayes usa-os para trazer aconchego, sensações de bem-estar, risadas, alegria e alguns 'own' para a história. O que, na minha definição particular, é um ótimo uso.
Por fim, mas não menos importante, Thomas sempre afirma que Rainbow Walker é um vulcão adormecido, prestes a entrar em erupção. O jovem Reynard que me perdoe, mas ela não é um vulcão temperamental e cheio de fúria a ser despejada. Como seu próprio nome indica ela é uma paleta de cores, o resultado do reflexo do sol nas gotas de chuva. É um turbilhão de cores em vários tons.
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