Paula 23/05/2017
APAIXONANTE
APAIXONADA... É com essa palavra que posso resumir o turbilhão de sentimentos que o livro me provocou... Fayes, Fayes, Fayes, como é possível provocar lágrimas, risos e suspiros em uma proporção tão bombástica? Notadamente todos já sabem o quão fã sou desta autora versátil e criativa, que sai dos tribunais e vai à High School, passando por shows de rock numa velocidade incrível e com uma competência que poucas autoras são capazes de executar com essa excelência. Esse livro é uma delícia de ler... M. S. Fayes nos transporta ao mundo adolescente, as experiências, as dúvidas, as inseguranças, as descobertas... Clichê? Poderia até ser, mas a narrativa da autora transforma um possível clichê em uma história original, cheia de conflitos e descobertas que remetem de uma época de imaturidade a um momento de amadurecimento pleno. A narrativa é fluida, concisa, clara e objetiva, mas com um viés humorístico, que em minha opinião é uma marca da autora. Ela consegue trazer um romance envolvente e inocente com pitadas de humor e no caso de Rainbow, alguns dramas.
Sinto-me privilegiada por conhecer personagens que, embora tão jovens, nos trazem uma linda mensagem para reflexão. Vamos conhecer um pouco de Rainbow e Thomas?
Ela, uma jovem de 17 anos, cheia de conflitos e inseguranças, sendo muitas delas, devido ao seu ambiente familiar. Vem de uma família peculiar, que foge muito aos padrões socialmente estabelecidos. Criada com todo viés da liberdade, cuja maior proposta era a fuga de todas as amarras sociais, sem prenderem-se a nada e a lugar algum. Tudo isso desperta em Rainbow um sentimento de não pertencimento. Não pertencer a um grupo, a um lugar. Contudo, apesar de fonte de conflitos internos, a família é a sua base e a quem dirige seu amor mais sublime. Contraditório? Talvez... Mas essa é Rainbow, uma adolescente extremamente inteligente, dotada de um humor sarcástico, perspicaz, exigente, que transmite uma imagem de revolta e fortaleza, contudo é inocente, inexperiente e insegura.
“É, sim. Você parece dócil por fora. Quando nos aproximamos muito, já solta as garras...” (Thomas).
Após mais uma mudança em sua vida, ela conhece Thomas, um jovem, que, ao contrário dela, transmite uma aura cheia de segurança, um jovem decidido e determinado, de uma beleza inenarrável, com uma autoconfiança invejável, extremamente protetor e perceptivo, mas que, à primeira vista, nos leva a pensar que é algo diferente do que realmente ele é (Leiam e entenderão...). Esse encontro traz em seu bojo uma promessa intrínseca de uma forte conexão, capaz de desnudar a alma de cada um deles; de permitir finalmente, ser quem realmente são. Esse encontro levará Rainbow a mais uma mudança, com toda certeza, a mais marcante e poderosa delas. Não será fácil, mas veremos que será extremamente necessária e bem vinda.
“Você é muito seguro de si, Sr. Reynard” (Rainbow).
A chegada de Rainbow a nova cidade e a nova escola, desperta curiosidade, animosidade, reconhecimento, um misto de percepções que permitem o desenrolar de uma trama que ao mesmo tempo é inocente e maliciosa, é suave e complexa. Rainbow que antes vivia fechada em uma concha aparentemente impenetrável vê-se exposta a várias situações que a obrigam posicionar-se, padrão de comportamento aparentemente incompatível com o estilo de vida que escolheu. O muro protetivo que construiu foi ruindo tijolo a tijolo... Parte desse processo foi responsabilidade de Thomas que, com seu jeito decidido e maduro, soube abordar essa garota instigante e intrigante.
Ele criou estratégias das mais criativas possíveis para “forçar” uma aproximação. Rainbow era diferente de tudo que ele conhecia, por isso foi um desafio. O início dessa relação foi pautado na construção e a consequente derrubada de estereótipos... Ela fez com que ele entendesse que não era aquela garota impenetrável que sua couraça transparecia, e ele fez cair por terra a ideia de que era um garoto punk e fútil ao mesmo tempo. Ele percebeu que ela era uma pessoa de uma inteligência acima da média e diante disso, não poderia chegar de qualquer maneira. A abordagem diferenciada assustou a Rainbow, mas de uma maneira positiva, que, sem ao menos dar-se conta, abria pedaços de sua vida mais íntima a Thomas.
Aos poucos, ele aproximou-se de tal maneira, impôs a sua presença de maneira sutil, expôs sua impressão acerca do comportamento de Rainbow que a induziu a refletir, de forma nem sempre fácil e confortável, mas necessária. A presença de Thomas em sua vida facilitou o processo de autoconhecimento, de descoberta (eu diria que para ambos). Essa relação promoveu o florescer de um lado adormecido, seguro, mas impeditivo de vivenciar relações tão fortes e imprescindíveis a qualquer ser humano.
“Bom, eu ficaria envaidecido por ter a honra de ser o primeiro a conquistar seu coração...” (Thomas).
Diante do estilo de vida familiar, Rainbow optou por um padrão de comportamento muito focado na sua proteção, na segurança do seu coração, mesmo que isso a levasse para momentos de intensa solidão e construísse uma fachada de uma garota revoltada. Com a presença de Thomas, com o sentimento que essa relação despertou de forma tão primal, fez com que Rainbow sentisse necessidade de lutar. Lutar pelos seus sentimentos, seus desejos e suas convicções. Embora assustador no início, embora a magnitude de sua insegurança fosse exacerbada em muitos momentos, embora o sentimento de estar perdendo o controle surgisse, ela foi capaz de experenciar um sentimento novo, entorpecido; ela permitiu-se amadurecer e viver a vida, do jeito que ela é, do jeito que ela pode ser.
“Você é um dos motivos de eu me recusar a sair daqui, Thomas. Não sei como, mas você tem conseguido perfurar as camadas de proteção que eu havia tecido em volta de mim. E, se antes eu não tinha laços, acabei encontrando um forte motivo para bater o pé e não querer ir embora”. (Rainbow).
Quando se permitiu viver o sentimento que construiu por Thomas, ela sentiu-se livre, sentiu-se forte realmente, conseguiu se enxergar como de fato ela era, como Thomas já a enxergava. Contudo, diante dos acontecimentos, diante de algumas provações (muito sérias) pelas quais precisou passar, o casal viveu uma verdadeira prova de fogo, para ratificar o quão forte era esse sentimento. Os obstáculos serviram para solidificar um sentimento que antes era incipiente. Thomas se tornou a calmaria no meio da tempestade interna que vivia. Thomas participou ativamente da construção de uma homeostase entre razão e emoção no repertório comportamental de Rainbow.
Quando Rainbow começou a se reconhecer como sempre deveria ter sido, quando conseguiu arrancar a couraça que a escondia, foi capaz de mostrar a todos o que Thomas já havia enxergado: uma menina forte, linda e inteligente, capaz de se defender e defender aqueles a quem ama. Finalmente ela conseguiu perceber a necessidade de pertencer a algo, finalmente ela sentiu-se parte de algo.
Ao longo do livro pude reforçar alguns modelos e modificar alguns paradigmas. Quem disse que livros teen não podem nos ensinar? É porque de fato ainda não conheceram a escrita da M. S. Fayes. Como já mencionei, com sua narrativa única, ela é capaz de nos ensinar que nunca é tarde para nos reconhecermos; ensinar-nos que mesmo em uma época de tantas mudanças, podemos buscar a nossa identidade, nossos ideais e defende-los com todas as forças. Mesmo em um período de tanta vulnerabilidade emocional, com influências tão diversas, com tantos modelos preestabelecidos e permeados de preconceitos e estereótipos, podemos viver os mais sublimes sentimentos e manter as nossas convicções, mas ao mesmo tempo, nos permitirmos mudar; pois a vida é assim, cheia de mudanças, cheia de experiências que nos acrescentam, mesmo que no princípio pareça que só vivemos dificuldades, elas nos preparam para a vida e percebemos e vivemos sentimentos e emoções que nos completam. Rainbow é um romance dotado de uma unicidade intrínseca, que nos conquista desde o início e nos faz ansiar por mais quando lemos o FIM.
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