Wellington.Pimente 15/09/2023
Visceral
Ana Paula Maia é a escritora da literatura contemporânea brasileira que mais gosto. Ela possui uma narrativa muito visceral, direta e objetiva, como no caso dessa obra, que aborda sobre uma colônia penal, onde homens eram mandados para uma terrível reclusão, como o próprio nome da obra aponta de início, pois não há salvação, não existe algo maior para ajudá-las, fazendo um trocadilho, nesse caso, com o trecho da oração do Pai Nosso, "assim na terra como no céu". A autora de uma certa forma humaniza esses presos ao demonstrar um confinamento desumano, que praticamente todos lutam para sobreviver e evitar um processo de loucura. A colônia penal que podemos considerar atemporal, em um local muito ermo, esperam a chegada de um oficial para cuidar da tratativa de desativação desse cárcere , e assim se percebe a crítica da autora, como a indiferença do Estado e Governantes com a situação dos encarcerados podem levar as situações selvagens ou animalescas.
Além disso, Ana Paula Maia não deixa de apontar os crimes cometidos por todos que cumprem suas penas, são culpados pelos seus erros. Ao mesmo tempo se percebe como o diretor da colônia, o Melquiades, mostra seu processo de loucura por tanto tempo dedicado a esse tipo de trabalho num local insalubre e assim em seu declínio mental começa a fazer suas próprias sentenças aos apenados, que já cumprem suas penas por suas ilegalidades, fazendo dos confinados suas caças, porém, de forma surpreendente os papéis são depois investidos, levando a nos refletir, afinal quem são os verdadeiros criminosos nessa narrativa. Tanto que quando o agente público chega e descobre o horror que acontecia no local, passa muito mal e assim tenta fazer com que a legalidade prevaleça, talvez seja tarde demais!