Maro 30/01/2021Tu acaba o livro querendo escrever um TCC sobre ele. É isto.Esta é minha primeira leitura de Ana Paula Maia. E a conclusão não tem como ser outra: preciso ler mais livros dela! Que mulher f*d@!
A narrativa toda tem um quê foucaultiano, a Colônia e suas dependências, as paredes altas e grossas, quase como um panóptico. Mas não importa bem onde está o vigia, e sim quando VAI ACONTECER. (o quê? leia!)
O livro é simplesmente arrebatador. É visceral, é cruel, é forte, é fétido, é a natureza humana nua e crua. Mas é também a animalização do ser humano em situação de cárcere. É a vida daqueles para os quais a sociedade dá as costas.
E a categoria "ser humano em situação de cárcere" não se restringe aos prisioneiros. Porque aprisionar é, em certa medida, ser também prisioneiro. Nesse espaço isolado do mundo, para vigiar os presos, é preciso estar preso junto a eles. Qual o impacto disso sobre os aprisionadores? E sobre os aprisionados? Não estão também os aprisionados "vigiando" os aprisionadores? Uma violência justifica outra violência sobre o primeiro agente? As situações do cárcere não são, per si, também uma violência? Quem são os algozes? Até onde o entendimento particular de justiça é realmente justo? O que é, enfim, justiça? Quem tem o poder de traçar essas linhas? Quanto vale a vida de uma vítima para um assassino? E quanto vale a vida de um assassino para um carcereiro? Quanto, enfim, vale a vida de um ser humano? E de um animal? E de um ser humano animalizado?
É impressionante como em tão poucas páginas Ana Paula Maia consegue trazer uma história tão forte e capaz de gerar tantas discussões sociopolíticas (diria também culturais) interessantes. Essa história é potente, rápida e dolorosa, como um soco no estômago - ou um tiro no peito de um rifle CZ.22 fabricado na Tchecoslováquia e de longo alcance? rs