santiago 19/01/2023
Não só o protagonista possui um comportamento ilógico rs
[contém spoilerzinhos de leves rs]
Solomon, um adolescente de 16 anos que não sai de casa desde os 13, e se sente muito bem com isso. Lisa, uma garota muito inteligente para sua idade, que sonha em sair de Upland (o mais rápido possível) e em se tornar uma psicóloga. Clark, o namorado de Lisa, jogador de polo aquático, e retrato perfeito de um adolescente que não possui a menor ideia de como moldará seu futuro.
Após vivenciar uma crise do pânico e acabar dentro de uma fonte no pátio da escola, Solomon desenvolveu o auge de sua agorafobia (medo de lugares e situações que possam causar pânico, impotência ou constrangimento), e decidiu que a solução seria nunca mais sair de sua casa.
Lisa, que com uma ambição tão grande é capaz de fazer qualquer coisa para entrar na universidade dos sonhos. Para tal, ela deveria escrever uma redação relatando sua experiência com doenças mentais, e assim, conquistaria uma bolsa na segunda melhor universidade de psicologia do país.
Com uma escrita fluida propondo uma fácil leitura, John Corey Whaley apresenta uma garota que está determinada a curar Solomon de sua condição, nem que para isso ela precise “sacrificar” coisas (ou pessoas) muito importantes de sua vida.
Devo mérito ao autor por ter abordado um tema bastante delicado de forma detalhada mas leve. Em diversos momentos é possível compreender exatamente o que Solomon sentia, talvez seja uma narração muito fiel à realidade de sofrer por crises de ansiedade e pânico. Mas preciso dizer, esse é único ponto que esse livro conseguiu tirar de letra.
O livro falha muito em pontos extremamente importantes. Não houve profundidade na exploração de nenhum dos personagens apresentados. Apesar de o autor aproveitar até a última gota dos encontros de Solomon, Lisa e Clark, e proporcionar cenas de amizade verdadeira que em alguns momentos acariciam nossos corações, ele nem ao menos tentou explorar as complexidades de nenhuma personagem, o que é uma pena, pois Clark e Joan (avó de Solomon) são extremamente carismáticos. Talvez por serem utilizados para aliviar o clima, os pais e a avó de Solomon apresentaram um charme revigorante e conquistaram mais a minha atenção do que qualquer um dos três protagonistas.
Não vou mentir, ao começar minha leitura não esperava encontrar nada além do que amor adolescente heteronormativo, porém ao avançar pelas páginas e me deparar com o fato de Solomon ser gay, um possível fio para a representatividade LGBTQ+, me estimulou um interesse maior na leitura. Porém, poucas páginas depois, esse fato veio a se tornar uma decepção. Lisa simplesmente realiza "digressões" sobre seu namoro e supõe que Clark seja gay por não possuir o desejo de transar com ela. E para piorar a situação, o autor apresenta um Solomon apaixonado por Clark (gente, juro por DEUS). Infelizmente, Solomon se apaixonar por Clark era bem previsível, porém, a forma que a paixão foi abordada é extremamente superficial, havia muito espaço para explorar a não reciprocidade e a decepção amorosa da personagem. Quem sabe essa não era uma oportunidade gigantesca para se aprofundar mais no que se passava na cabeça de Solomon...
Seria uma falta de caráter muito grande terminar essa resenha sem citar a paixão irracional de Solomon por Star Trek. Ele é tão viciado que construiu o próprio Holodeck na garagem de sua casa. Este é um dos únicos pontos bem construído pelo autor. Solomon diversas vezes usa da história de Star Trek para expressar seus sentimentos e/ou sua visão acerca de uma situação. Isso se dá de uma forma tão lógica e natural que até mesmo a gente que nunca assistiu a série se sente preso num sentimento de apreciador (inclusive agora quero muito assistir haha).
O livro possui, infelizmente, uma conclusão muito corrida. Apesar da pequena evolução de Solomon impulsionada por uma situação de distúrbio emocional, vários pontos abertos durante os meses contados no livro simplesmente continuaram abertos. Com exceção da redação de Lisa que é representada ao final do livro (criei uma expectativa enorme em cima dessa redação e ela foi tão superficial quanto o resto da história). Senti falta do desenvolvimento do livro nessa parte.
Apesar de pecar em diversos aspectos, Comportamento Altamente Ilógico, é uma boa leitura, devo confessar. O livro, apesar de bem curto (é possível ler numa sentada só), te surpreende com a história a cada capítulo.