amy lê uns livros 14/08/2021
Mixed feelings
Partindo da premissa de uma adolescente que quer fazer de um garoto agorafóbico seu ?projeto? para conseguir entrar na faculdade, esse livro corre de forma leve e bem tranquila, considerando que o assunto abordado poderia facilmente ser redirecionado para uma aproximação bem mais tensa ou mesmo arrastada. Comportamento Altamente Ilógico escolhe por nos entregar uma típica narrativa adolescente que, apesar de não ter grandes aprofundamentos nos personagens, ainda nos prende na história.
Entretanto, o livro peca em algo fundamental: um bom arco de personagem. Solomon e, principalmente, Lisa têm suas mudanças feitas de forma corrida e mal-ajustada no fim da história. Lisa passa quase o livro inteiro sendo cheia de si e se achando a dona da razão, mesmo em situações que está sendo obviamente antiética, como ao decidir que faria de Solomon seu ticket de entrada para faculdade e ao presumir a sexualidade dos personagens. Isso faz com que esperemos que uma humildade gradual surja na personagem, porém não é bem isso o que acontece. Ela tem uma transformação repentina nos últimos capítulos do livro que simplesmente não transmite naturalidade.
Ademais, é impossível não falar sobre a grande decepção que é a abordagem da homossexualidade nele. Pontos para o livro por não fazer grandes dramas inicialmente com isso, Solomon revela ser gay já bem no começo e não coloca muito drama na fala, até porque sabe que sexualidade não faz muita diferença quando se vive trancado dentro da própria casa. [SPOILER - aviso quando acabar] No entanto, a partir do momento em Lisa começa especular que o namorado é gay simplesmente porque ele não quer transar com ela, a coisa toma uma proporção bem desconfortável.
Lisa nunca cogita que Clark seja bi ou pan, muito menos que ele possa ser assexual, o que francamente achei que aconteceria e que traria uma representatividade bem melhor ao livro. Sua amiga Janis, de princípios cristãos bastante duvidosos, nunca sofre alguma consequência por ficar fazendo a cabeça de Lisa que um garoto gay e um garoto hétero jamais poderiam ser amigos. Já Clark perdoa Lisa facilmente por questões de sexualidade que não cabiam a ele perdoar, já que não é uma pessoa LGBTQ+. [FIM DO SPOILER] Enfim, o que poderia ser uma boa representatividade toma um caráter duvidoso e que dá a entender que impor suas especulações de sexualidade sobre os outros não é algo tão problemático quanto é e multisex não podem existir nesse universo do livro, aparentemente.
Num modo geral, sinto que foi uma leitura fácil e que, desconsiderando os problemas de representatividade e arco de personagem, conseguiu me fazer rir e me envolver nesse pequeno mundo a que somos apresentados. As referências de cultura pop encaixam bem e os personagens tem diálogos bem leves e adequados à adolescência. Não vou dizer que é um livro que vai te impactar muito, mas serve bem para passar o tempo.