aline 01/01/2022
é muito interessante pensar na "escrevivência" ? conceito que define a narrativa do livro; pensar nas identidades de maria nova e da própria conceição se cruzando... pensar nesse livro não sendo, necessariamente, um relato biográfico, mas também não se tratando de pura ficção. assim, tudo se torna ainda mais brutal.
a partir da perspectiva de maria-nova, conhecemos múltiplos personagens (com múltiplas histórias) que, com suas vidas recheadas de perdas, por fim, perdem também a casa que juntos construíram: sua favela. o livro acompanha o processo de desfavelamento e toda a dor ignorada e o grito abafado que o processo inflige.
mas vai muito além.
conhecer personagens como o bondade, tio totó, maria velha, negro alírio, ditinha, vó rita e suas respectivas histórias, se tornou um fator importante na construção da minha própria. sei que, após essa leitura, não sou a mesma pessoa. contemplar a vivência de cada personagem, ali, na favela-senzala, e refletir (junto com maria-nova), como é paradoxal os chamar de "homens livres", foi uma experiência inexplicável. parece uma piada de mau gosto pensar em tio totó, por exemplo, como um homem livre. pra ele, a vida e a morte eram a mesma coisa ? a vida foi uma sequência de perdas, pra ele, por fim, perder a própria. parece uma piada de mau gosto pensar na fome, no frio, no desalento, na miséria, no desespero tão presentes nessas vidas e as chamar de livres. para maria-nova, a favela é a nova senzala, cujos moradores nunca foram verdadeiramente libertos.
as histórias que marcaram a vida de maria nova também me marcaram, e marcaram muito profundamente. esse livro, definitivamente, é uma das melhores coisas que já li; me apaixonei pela conceição e, agora, quero conhecer absolutamente tudo que ela escreve.
gratíssima pela experiência dessa leitura, recomendo demais!!