Erich 11/07/2022
Sêneca discursa sobre o tema da brevidade da vida. A primeira ideia central é que precisamos viver já ao invés de deixar para depois. A duração da vida é desconhecida, afinal. E isso nos obriga a viver todos os momentos de modo completo e satisfatório ao invés de gastar nosso tão pouco tempo com futilidades.
Após essa primeira ideia central temos uma discussão sobre o que significa afinal aproveitar a vida e o que significa desperdiçá-la com inutilidades. Este ponto chegou para mim como uma reflexão cômica quase. De princípio parecia-me que o prazer da vida dele era o de criticar todos os modos de vida, dada a tamanha indignação com a qual ele os apresentava. A sua indignação com o corte de cabelo é um dos pontos divertidos.
Entretanto, ele vai formulando melhor e estabelece que vive mal aquele que pula seus momentos. Que vive em busca de prazeres momentâneos e irreais, de modo que entre um prazer e outro vive em mediocridade. Dentro disso é possível discorrer vários exemplos. E o que seria o viver bem? Seria se dedicar a coisas que acrescentem algo a você, que somem à sua existência. A ideia de que a atividade pensante (resumida, até por causa da época, à filosofia) é um dos geradores disso é bem interessante. De fato, quando alguém se dedica à atividade intelectual ele penetra em uma realidade na qual interage com todos os pensadores que já existiram e temos a mente se abrindo a novas ideia e novas concepções. Assim, os prazeres provenientes da atividade intelectual não são passageiros, eles vão se somando (claro, ignorando doenças degenerativas como Alzheimer).
Minha crítica a ele seria a fixação de que essa atividade pensante é a única virtuosa e o é para qualquer pessoa. As duas premissas são, a meu ver, falsas. Primeiro, não necessariamente todo ser humano garantidamente vai sentir prazer em uma atividade reflexiva, filosófica. Isso, para alguns, pode ser deveras entediante. Nesse caso, seria um desperdício de vida que essas pessoas, que não veem prazer na reflexão filosófica, dedicassem suas vias a ela. Em segundo ponto, e complementando o primeiro, a atividade nobre seria aquela que lhe concede um prazer permanente, seja ela qual for.
Posso partir exatamente da mesma formulação do Sêneca, apenas adicionando a ideia de prazer permanente como objetivo central. Nesse caso, atividades de contemplação da natureza (contemplar sem refleti-la, como quem olha um belo pôr-do-sol), a atividade artística e muitas outras poderiam também ser fontes de prazer. Resumindo para não me alongar nessa divagação pessoal: Uma vida bem vivida é aquela locupleta de atividades prazerosas.