Thaís - @comprandopelacapa 12/01/2020Profundo demais para ser resumido numa resenhaQuem já leu alguma coisa da autora sabe que as suas narrativas permeiam estórias sobre racismo e opressões, então quando comecei a ler me questionei se os contos (são 12) não seriam de alguma maneira repetitivos, mas todos eles exteriorizam perspectivas diferentes, mesmo que às vezes sobre o mesmo assunto.
Os contos que mais gostei foram:
📖 A cela um - Essa estória se passa na Nigéria e mostra as relações de poder e opressão entre famílias ricas e pobres, principalmente quando se trata do privilégio de poder cometer pequenos delitos se você tiver alguém em quem se apoiar. Além disso, mostra a diferença cultural entre a criação de um filho e de uma filha. A parte mais tocante para mim foi a mudança sofrida pelo protagonista, Nnamabia, ao ver um senhor de idade exposto a inúmeras humilhações pela polícia apenas pela sua condição simples.
📖 Réplica - Esse não é o único conto em que as relações matrimoniais são abordadas, mas acho que talvez seja o mais claro sobre a condição da mulher pobre na Nigéria, considerando que, apesar de tudo o que acontece com Nkem, ela pesa várias e várias vezes tudo que Obiora proporcionou não só a ela, mas principalmente a sua família. Um adultério resolvido sem brigas, escândalos ou questionamentos, apenas "do jeito que deveria ser".
📖 Na segunda-feira da semana passada - Aqui, uma nigeriana consegue um emprego na casa de um americano, como babá. O conto traz uma síntese muito acurada sobre a visão que os norte-americanos têm dos africanos (já que para eles é tudo a mesma coisa), bem como a visão também estereotipada de Kamara, que, apesar de ter mestrado, precisa no momento se contentar com esse emprego. As reflexões que ela faz sobre eles e sobre seus costumes são muito pertinentes, do tipo que só lendo para entender.
📖 Jumping Monkey Hill - Um conto sobre como o Homem Branco Ocidental gosta de se cercar de pessoas que ele julga inferiores e oprimidas, além de se sentir livre para apontar o que é ou não relevante e verdadeiro na cultura do outro; e como a voz e a estória de uma mulher negra pode ser facilmente apagada por ele.
"'O conto inteiro não é plausível", disse Edward. "Isso é literatura ideológica, não é uma história real sobre gente de verdade."' (p. 124)
Foi bem difícil escolher os contos, não posso dizer que desgostei de algum. Outro ponto que eu gostaria de mencionar é o comportamento das mulheres em relação ao casamento, que acaba sendo mais uma oportunidade que uma escolha. O livro é muito profundo para ser abreviado em apenas uma resenha. Indico a leitura!
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