Murilo Amorim 20/06/2019O romance Nossa Senhora do Nilo revisita os antecedentes do grande genocídio. A história se desenvolve nos anos 1970, durante um período letivo no fictício Liceu Nossa Senhora do Nilo, a 2.500 metros de altitude, próximo à nascente do famoso rio. Trata-se de uma escola destinada a fornecer a melhor formação cristã e europeia às filhas dos altos dignitários ruandenses. É nesse microcosmo isolado que são retratadas as principais forças em atuação no país.
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Os personagens e situações são metáforas do contexto político mais amplo do país: o conflito entre a maioria hutu e os “tolerados” tutsis, a difícil relação entre o cristianismo e as crenças tradicionais, o complexo espectro das relações dos brancos estrangeiros com os ruandenses, entre o racismo, o misticismo e a omissão. O livro passa gradativamente de um quadro geral e metafórico do liceu e seus personagens para o dia-a-dia, com inspiração autobiográfica, de duas adolescentes tutsi em meio a uma escalada de tensão “racial” – nos anos 70, a autora, então estudante tutsi, fugiu para o Burundi e depois para a França.
Não há como ler o livro senão no “pretérito mais-que-perfeito”, isto é, como o momento anterior que inevitavelmente levou ao genocídio que agora já se começa a ver também no retrovisor da história. Mas, pela força da metáfora, também estão presentes no enredo os elementos que, para a autora, vão permitir a construção do futuro, com a formação de uma identidade autenticamente ruandense através da reconciliação necessária.
(Resenha completa no site)
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