Dhiego Morais 12/07/2020Motivos para lerApós o sucesso de Moby Dick e de Um Pedaço de Madeira e Aço, era de se esperar que o lançamento neste ano de mais um belíssimo Chabouté pela editora Pipoca e Nanquim também resultasse em outro sucesso. Entretanto, talvez poucos estivessem preparados para a enormidade do fato: após um vazamento pela própria Amazon Brasil, a edição autografada de Solitário esgotou em poucas horas.
É assombroso como Chabouté passou de um nome praticamente desconhecido pelo grande público, no geral, até mesmo ignorado pelas editoras de quadrinhos, para um sucesso absoluto de vendas, dotado de imensa respeitabilidade e desejo, assim como ocorrem no exterior. Assombroso, mas maravilhoso! Obrigado pelos mimos, Chabouté!
Bem, são tantos elogios, então por que você deveria dar uma chance a Solitário, então? Vamos a alguns bons motivos!
1. A ARTE EM PRETO E BRANCO: CHARME À LÁ CHABOUTÉ
Para quem adora quadrinhos em preto e branco, Solitário segue o padrão já conhecido em Moby Dick e Um Pedaço de Madeira e Aço. O nanquim tinge o papel com toda a fluidez da tinta e resgata aos olhos de seus leitores desejosos um ar não apenas mais sério, mas também soturno, bem adequado à narrativa profunda e imersiva de Chabouté.
Quando comecei a ler quadrinhos, eu era o típico leitor que torcia o bico para obras que não eram coloridas. O preto e o branco no papel na maioria das vezes pareciam desinteressantes, pouco aventureiros. Foram obras impressionantes como as de Chabouté que mudaram completamente os meus gostos.
2. A ARTE DE ESCREVER POUCO E DIZER MUITO
Apesar de Moby Dick conter muito mais balões que as obras em geral de Chabouté – até por ser uma adaptação do romance homônimo –, Solitário segue nos moldes de Um Pedaço de Madeira e Aço: pouco texto que se traduz como muito.
Algumas pessoas podem ler este quadrinho em poucos minutos e ter para si uma experiência incompleta. Talvez até encarem como uma obra desinteressante. A verdade, porém, é que Solitário não precisa de um roteiro extenso para contar o que deseja contar. A arte de Chabouté casa tão bem com o roteiro conciso que quadro a quadro promove a reflexão no leitor. Ao fechar a obra, após a profusão de emoções, toca-se a alma e parte-se o coração. Diz-se muito com tão pouco.
3. A HISTÓRIA DE SOLITÁRIO
Solitário conta a história de um homem que vive recluso em um farol, no meio do mar, desde que se conhece por gente. Sem nunca ter saído de lá, muito menos ter sido visto pelos pescadores e navegantes da região, a história do homem sob o farol torna-se quase um mito. Só não é, de fato, pois semanalmente as caixas com provisões que lá são deixadas desaparecem, sempre que o responsável retorna lá.
O que acontece lá no farol? Como aquele homem vive sozinho, sem ter para onde ir, há tanto tempo?
Solitário é uma metáfora tocante sobre o que faz de nossa sociedade contemporânea tão só, mesmo que sufocada por tantas pessoas e por tanta tecnologia.
Mesmo que ler quadrinhos não seja a sua praia, arrisque ler Solitário. Certamente será uma das melhores experiências literárias deste ano.
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