Leticia 20/03/2018A Arte de ser um leitor egoístaSe vocês procuram essa sensação deliciosa de não poder largar de um livro, torcer imensamente pelo protagonista, e de quebra ler um dos melhores enredos policiais e urbanos disponíveis no mundo, vocês precisam conhecer Will Trent. Ele é o tipo de personagem que você nem pensa que é o protagonista na primeira vez que lê. Fica pensando que erraram a sinopse, que o protagonista deve ser o outro policial totalmente ativo e cheio de trejeitos e contatos pela cidade toda. Will, o protagonista do romance não é o herói comum, e me recuso a dizer o principal motivo porque seria um spoiler sem tamanho, e isso por aqui é considerado crime capital. Vamos dizer que nosso rapaz (não importa a idade do Will, você vai pensar nele como um rapaz), é um detetive fora do comum. Atlanta é a cidade que nos oprime e nos encanta nesse livro, e é onde a saga de Will tem o seu desenvolvimento.
Uma das vantagens da literatura e dos romances urbanos é ser transportado para outra realidade, uma grande metrópole do sul dos Estados Unidos é totalmente diferente de uma metrópole no Brasil, mas com as mesmas mazelas representadas de um jeito ou de outro. Por exemplo, nosso protagonista sofre com o descaso que só uma cidade grande e populosa pode oferecer, ele é vítima da metrópole, e isso é tão evidente que dói. Will caiu no sistema da assistência social, as casas de acolhimento dos Estados Unidos para os órfãos, e literalmente se perdeu no mar de crianças. Essa facilidade com que ele pôde chegar ao ponto em que o vemos dificilmente seria possível numa comunidade menor, nunca aconteceria nas cidadezinhas charmosas e bucólicas de Gilmore Girls ou Hart of Dixie (sim, o vício aqui não é só em livros). Só nas grandes metrópoles é que a individualização e a padronização das pessoas são capazes de dar margem a uma trama dessa magnitude e complexidade, se perder na multidão é essencial para um bom romance policial e urbano.
site:
https://viciovelho.com/2018/02/06/aartedeseregoista/