Jeff_Rodrigo 06/05/2024
Isso é mais que um diário, é um conto de terror.
A narradora, e proprietária do diário, narra episódios de sofrimento de forma crua e direta, sem pormenores, além de usar de figuras de linguagem que dão um ar de poesia mórbida à obra.
Ela consegue transformar os sentimentos de fome, medo, frio em algo que invade e incomoda a mente do leitor. O testemunho de cenas de violência doméstica, doenças, alcoolismo, abusos, racismo, agressões e perseguições, são latentes e transcendentes, ainda mais para quem já viu e presenciou cenas parecidas.
É uma história de terror, onde a personagem, preta, pobre e mão solteira, luta para sobreviver, se equilibrando no limite do absurdo. É um terror cotidiano, banal, corriqueiro. Uma crônica que extrapola o ano de 1958 e os limites de São Paulo. Hoje tem outra escala, outro sentindo, mas possui a mesma e terrível essência: produto de uma das piores distribuições de renda do mundo.
Choca e incomoda, mesmo para os mais acostumados.