Quarto de Despejo

Quarto de Despejo Carolina Maria de Jesus




Resenhas - Quarto de Despejo


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Camillo2 29/03/2024

A realidade da pobreza no Brasil
Um livro tocante, que mostra o quão cruel a fome pode ser para uma mãe e seus filhos, uma leitura triste, mas que te prende cada vez mais, confesso que, para ler esse livro, você precisa estar minimamente bem psicologicamente, porquê se não você não aguenta continuar a leitura.
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Glemerson 29/03/2024

Carolina é especial
Posterguei por bastante tempo para ler Carolina Maria de Jesus e não podia ler em um momento melhor. Acredito que cada leitura que escolhemos, é de acordo com o nosso momento.

Carolina é necessária, sua vivência, sua visão e seu letramento de raça e classe são um tapa na cara de todos nós.
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Eduardo 29/03/2024

Eis aqui uma das obras mais valiosas não apenas da literatura brasileira, mas do mundo inteiro. Uma mulher negra, radicalmente pobre, solteira, mãe de três filhos e que, ainda assim, tinha esta mente brilhante.
Este livro diferencia-se pelo fato de que ele fala da desigualdade, mas de uma outra maneira da que normalmente se fala da miséria: é uma visão de dentro, não de fora; isto é, não se trata de um homem culto, estudado, que tem dinheiro e, através de estudos sociológicos, entendeu a favela e a explicou; se trata de uma mulher de DENTRO da favela, que VIVE em si, a miséria, e fez nada além de relatar como é passar por tudo isto.

A maior miserabilidade que enfrento ao realizar esta leitura, e que todos deveriam enfrentar ao ler, é não sentir-se apenas mal pelo fato do que ela passou, mas por lembrar do seguinte: inúmeras pessoas, HOJE, passam pelo mesmo (e algumas vezes, talvez por coisas piores) que ela passou. A favela do Canindé, em que ela morava, deixou de existir; entretanto, diversas outras surgiram. Nessa obra, ainda, há pouco relato sobre crimes relacionados à droga, tráfico e facção; já hoje, sabemos que em ambientes à margem social são recheados destes atributos; ou seja, não é que apenas não melhoramos a sociedade - a pioramos em alguns aspectos.

Chega a ser supérfluo as "estrelas" na hora de dar uma nota pra uma literatura deste tipo. Isso é a vida real; o retrato mais direto possível de muitos marginalizados.
A obra nos mostra sim como ela passou fome, como sofria e etc, mas devemos também nos focar como AINDA passam fome, como AINDA sofrem por não ter o básico, como AINDA políticos surgem apenas nas épocas eleitorais, manipulam e então desaparecem.
Este livro encontra-se atemporal e, por Deus, não deveria ser. Não. Deveria. Ser.

Há muito mais a falar, sempre há, mas finalizo esta resenha apenas com alguns trechos desta pessoa incrível que foi a Carolina Maria de Jesus. Poucos, porque se fosse para destacar todas as frases fortes e bem construídas que esta mulher escreveu, então haveria de colar o livro todo aqui.

"Liguei o radio. Tomei banho. Esquentei comida. Li um pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem."

"O que eu aviso aos pretendentes a politica, é que o povo não tolera a fome. E preciso conhecer a fome para saber descrevê-la."

"Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. (...) O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: Se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos?"

"O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo, e nas crianças."

"Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz."

"E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual - a fome!"

"Quem nos protege é o povo e os Vicentinos. Os políticos só aparecem aqui nas épocas eleitoraes. O senhor Cantidio Sampaio quando era vereador em 1953 passava os domingos aqui na favela. Ele era tão agradavel. Tomava nosso café, bebia nas nossas xícaras. Ele nos dirigia as suas frases de viludo. Brincava com nossas crianças. Deixou boas impressões por aqui e quando candidatou-se a deputado venceu. Mas na Camara dos Deputados não criou um progeto para beneficiar o favelado. Não nos visitou mais. ... Eu classifico São Paulo assim: O Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos."

"Como é horrivel ver um filho comer e perguntar: "Tem mais? Esta palavra "tem mais" fica oscilando dentro do cerebro de uma mãe que olha as panela e não tem mais."

"1 DE JANEIRO DE 1960 - Levantei as 5 horas e fui carregar agua."
Vania.Cristina 29/03/2024minha estante
Potente, né Eduardo. Também já li o livro e fiquei encantada com Carolina. Sua resenha me fez relembrar o quanto o livro é bom.


Eduardo 29/03/2024minha estante
Sim, é muito forte


Eduardo 29/03/2024minha estante
Sim, é muito forte


Eduardo 29/03/2024minha estante
Sim, é muito forte




Ana Nobre 28/03/2024

Leitura atual, urgente e necessária. Relatos do dia a dia na favela do Canindé em SP nos anos 1950. Fala de fome, necessidades básicas, política, mulheres...
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_luaninha.hls 28/03/2024

Realidade das favelas
É um relato honesto e comovente sobre a vida da miséria das favelas de São Paulo, sendo a história da própria autora Carolina Maria de Jesus. O livro aborda questões sociais e políticas, como a pobreza, violência e preconceito, enquanto inspira reflexões sobre resiliência e dignidade.

E o livro grita na nossa cara:
É EXTREMAMENTE NECESSÁRIO MUDANÇAS SOCIAIS!!!!

A vida precária q a história conta é desumano, e pelas problemáticas da vida podemos ver o quanto isso interferiu na criação de seus filhos.
Ela tinha atitudes agressivas as vezes, não podemos romantizar mas é completamente entendível pelas dificuldades para criá-los e também por se sentir "frustada" em não conseguir o melhor para eles, acabando "falhando" as vezes.

Ela tinha conflitos decorrentes com seus vizinhos , era uma disputa acirrada por conta da vida precária.
Brigavam por comida, objetos encontrados no lixo, e também discutiam por convivência e barulho.

Mas além de tudo recomendo esse livro, pois faz a gente analisar a realidade da favela com outros olhos.
Nós faz refletir sobre questões sociais e de como as vezes temos privilégios.

É UMA GRANDE EXPERIÊNCIA LITERÁRIA
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Nath 28/03/2024

Nesse livro em forma de diário, Carolina Maria de Jesus relata sua vivência como mãe, moradora da favela e catadora de papel. Para retratar sua realidade, Carolina Maria de Jesus utiliza de uma linguagem objetiva e marcada pela oralidade, relatando o sofrimento e as angústias dos favelados, sobretudo a rotina da fome, repetida diariamente.
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Dani 27/03/2024

Quarto de despejo
Mostra a realidade brutal dos mais desafortunados, um livro com uma escrita simples, mas profunda que nos aproxima das vivências da autora
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Lindélia 27/03/2024

Resiliência
Uma história que nos emociona e ao mesmo tempo nos deprime. Saber que algumas pessoas acumulam tanto, enquanto outras, para sobreviver, reviram o lixo em busca da sobrevivência.
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ju and the six 26/03/2024

?Morreu um menino aqui na favela. Tinha dois meses. Se vivesse ia passar fome.?
o livro é muito bom, triste, sério e fácil de ler. adorei a experiência de ler, grata ao vestibular!
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bia1542 26/03/2024

Impactante
Essa leitura foi um misto de emoções para mim, eu amei acompanhar a vida dela e é muito triste saber que hoje em dia ainda acontece o que é relatado no livro.
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bella 25/03/2024

?Se a gente trabalha passa fome, se não trabalha passa fome?
Não serei capaz de falar sobre esse livro se não pelas palavras de Carolina. Sua dor e luta só poderiam ser ditas por meio dessa obra e do jeito que ela foi concebida, escrita em meio à força que também se tornava fraqueza.
A náusea diária causada pelas revoltas são de apertar o coração de qualquer um que entende que, apesar de décadas terem passado, as coisas permanecem similares no quarto de despejo.

?A favela é uma cidade esquisita e o prefeito daqui é o Diabo.?
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Clara2576 25/03/2024

Que livro triste
Não tem como ler quarto de despejo e não se emocionar e se revoltar com a desigualdade do país.
É uma história de 1960, mas que poderia facilmente ter sido escrita em 2021?
É revoltante pensar que mais 60 anos depois quase nada mudou, o Brasil ainda tem várias Carolinas que sobrevivem em quartos de despejo.
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Daisa3 24/03/2024

Leitura difícil, um verdadeiro soco no estômago, a realidade nua e crua da pobreza no Brasil. Apesar disso, uma leitura de extrema importância de compreensão do passado não tão distante do nosso país.
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Italo 24/03/2024

Quarto de Despejo
Eu havia escrito uma resenha meia boca e elencado as passagens que deixei anotadas. Conforme lia as passagens enquanto as passava para o Skoob, me dei conta de que nada que eu possa dizer será mais importante do que o que falou Carolina Maria de Jesus. Apaguei, então, minha resenha, e deixei somente o que ela escreveu. Que eu nunca me esqueça disso e quem quer que seja que leia também não.

"...O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo, e nas crianças." (pg. 26)

"E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual ? a fome!" (pg. 28)

"16 DE MAIO [1958] Eu amanheci nervosa. Porque eu queria ficar em casa, mas eu não tinha nada para comer. ...Eu não ia comer porque o pão era pouco. Será que é só eu que levo esta vida? O que posso esperar do futuro? Um leito em Campos do Jordão[10]. Eu quando estou com fome quero matar o Janio, quero enforcar o Adhemar e queimar o Juscelino. As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos." (pg. 29)

"Como é horrivel ver um filho comer e perguntar: ?Tem mais? Esta palavra ?tem mais?? fica oscilando dentro do cerebro de uma mãe que olha as panela e não tem mais." (pg. 34)

"Eu ontem comi aquele macarrão do lixo com receio de morrer, porque em 1953 eu vendia ferro lá no Zinho. Havia um pretinho bonitinho. Ele ia vender ferro lá no Zinho. Ele era jovem e dizia que quem deve catar papel são os velhos. Um dia eu ia vender ferro quando parei na Avenida Bom Jardim. No Lixão, como é denominado o local. Os lixeiros haviam jogado carne no lixo. E de escolhia uns pedaços: Disse-me: ? Leva, Carolina. Dá para comer. Deu-me uns pedaços. Para não maguá-lo aceitei. Procurei convencê-lo a não comer aquela carne. Para comer os pães duros ruidos pelos ratos. Ele disse-me que não. Que há dois dias não comia. Acendeu o fogo e assou a carne. A fome era tanta que ele não poude deixar assar a carne. Esquentou-a e comeu. Para não presenciar aquele quadro, saí pensando: faz de conta que eu não presenciei esta cena. Isto não pode ser real num paiz fértil igual ao meu. Revoltei contra o tal Serviço Social que diz ter sido criado para reajustar os desajustados, mas não toma conhecimento da existência infausta dos marginais. Vendi os ferros no Zinho e voltei para o quintal de São Paulo, a favela. No outro dia encontraram o pretinho morto. Os dedos do seu pé abriram. O espaço era de vinte centímetros. Ele aumentou-se como se fosse de borracha. Os dedos do pé parecia leque. Não trazia documentos. Foi sepultado como um Zé qualquer. Ninguém procurou saber seu nome. Marginal não tem nome." (pg. 35)

"...Quando eu fui buscar agua vi uma infeliz caida perto da torneira porque ontem dormiu sem jantar. É que ela está desnutrida. Os médicos que nós temos na política sabem disto." (pg. 36)

"...Percebi que no Frigorífico jogam creolina no lixo, para o favelado não catar a carne para comer. Não tomei café, ia andando meio tonta. A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrivel ter só ar dentro do estomago. Comecei sentir a boca amarga. Pensei: já não basta as amarguras da vida? Parece que quando eu nasci o destino, marcou-me para passar fome. Catei um saco de papel. Quando eu penetrei na rua Paulino Guimarães, uma senhora me deu uns jornais. Eram limpos, eu deixei e fui para o deposito. Ia catando tudo que encontrava. Ferro, lata, carvão, tudo serve para o favelado. O Leon pegou o papel, recibi seis cruzeiros. Pensei guardar o dinheiro para comprar feijão. Mas, vi que não podia porque o meu estômago reclamava e torturava-me. ...Resolvi tomar uma media e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as arvores, as aves tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos." (pg. 40)

"...Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a Historia do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes masculinos como defensor da patria. Então eu dizia para a minha mãe: ?Porque a senhora não faz eu virar homem? Ela dizia: ?Se você passar por debaixo do arco-iris você vira homem. Quando o arco-iris surgia eu ia correndo na sua direção. Mas o arco-iris estava sempre distanciando. Igual os políticos distante do povo. Eu cançava e sentava. Depois começava a chorar. Mas o povo não deve cançar. Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos não sofrer o que estamos sofrendo. Eu voltava e dizia para a mamãe: ?O arco-iris foge de mim." (pg. 50)

"...Vi uma senhora reclamar que ganhou só ossos no Frigorífico e que os ossos estavam limpos. ?E eu gosto tanto de carne. Fiquei nervosa ouvindo a mulher lamentar-se porque é duro a gente vir ao mundo e não poder nem comer. Pelo que observo, Deus é o rei dos sábios. Ele pois os homens e os animais no mundo. Mas os animais quem lhes alimenta é a Natureza porque se os animais fossem alimentados igual aos homens, havia de sofrer muito. Eu penso isto, porque quando eu não tenho nada para comer, invejo os animais." (pg. 54)

"...Eu escrevia peças e apresentava aos diretores de circos. Eles respondia-me: ?É pena você ser preta. Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rústico. Eu até acho o cabelo de negro mais iducado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo de preto onde põe, fica. É obediente. E o cabelo de branco, é só dar um movimento na cabeça ele já sai do lugar. E indisciplinado. Se é que existe reincarnações, eu quero voltar sempre preta." (pg. 60)

"Fico pensando da vida atribulada e pensando nas palavras do Frei Luiz que nos diz para sermos humildes. Penso: se o Frei Luiz fosse casado e tivesse filhos e ganhasse salario minimo, ai eu queria ver se o Frei Luiz era humilde. Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com resignação. Se o Frei visse os seus filhos comendo generos deteriorados, comidos pelos corvos e ratos, havia de revoltar-se, porque a revolta surge das agruras." (pg. 80)

"Como é horrível levantar de manhã e não ter nada para comer. Pensei até em suicidar. Eu suicidando-me é por deficiência de alimentação no estomago. E por infelicidade eu amanheci com fome." (pg. 94)

"Deixei o leito furiosa. Com vontade de quebrar e destruir tudo. Porque eu tinha só feijão e sal. E amanhã é domingo." (pg. 102)

"...Quando eu fui almoçar fiquei nervosa porque não tinha mistura. Comecei ficar nervosa. Vi um jornal com o retrato da deputada Conceição da Costa Neves, rasguei e puis no fogo. Nas épocas eleitoraes ela diz que luta por nós." (pg. 106)

"...Eu durmi. E tive um sonho maravilhoso. Sonhei que eu era um anjo. Meu vistido era amplo. Mangas longas cor de rosa. Eu ia da terra para o céu. E pegava as estrelas na mão para contemplá-las. Conversar com as estrelas. Elas organisaram um espetáculo para homenagear-me. Dançavam ao meu redor e formavam um risco luminoso. Quando despertei pensei: eu sou tão pobre. Não posso ir num espetáculo, porisso Deus envia-me estes sonhos deslumbrantes para minh?alma dolorida. Ao Deus que me proteje, envio os meus agradecimentos." (pg. 114)

"...Eu fui retirar os papelões. Ganhei 55 cruzeiros. Quando eu retornava para a favela encontrei com uma senhora que se queixava porque foi despejada pela Prefeitura. Como é horrivel ouvir um pobre lamentando-se. A voz do pobre não tem poesia. Para reanimá-la eu disse-lhe que havia lido na Biblia que Deus disse que vai concertar o mundo. Ela ficou alegre e perguntou-me: ?Quando vai ser isto, Dona Carolina? Que bom! E eu que já queria me suicidar! Disse-lhe para ela ter paciência e esperar que Jesus Cristo vem ao mundo para julgar os bons e os maus. ?Ah! então eu vou esperar. Ela sorriu." (pg. 134)

"...Hoje eu fiz arroz e feijão e fritei ovos. Que alegria! Ao escrever isto vão pensar que no Brasil não há o que comer. Nós temos. Só que os preços nos impossibilita de adquirir. Temos bacalhau nas vendas que ficam anos e anos a espera de compradores. As moscas sujam o bacalhau. Então o bacalhau apodrece e os atacadistas jogam no lixo, e jogam creolina para o pobre não catar e comer. Os meus filhos nunca comeu bacalhau. Eles pedem: ?Compra, mamãe! Mas comprar como! a 180 o quilo. Espero, se Deus ajudar-me, antes deu morrer hei de comprar bacalhau para eles." (pg. 146)

"Hoje eu estou disposta. O que me entristece é o suicidio do senhor Tomás. Coitado. Suicidou-se porque cansou de sofrer com o custo da vida. Quando eu encontro algo no lixo que eu posso comer, eu como. Eu não tenho coragem de suicidar-me. E não posso morrer de fome. Eu parei de escrever o Diário porque fíquei desiludida. E por falta de tempo." (pg. 154)

"...A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro." (pg. 162)

"...Hoje não temos nada para comer. Queria convidar os filhos para suicidar-nos. Desisti. Olhei meus filhos e fiquei com dó. Eles estão cheios de vida. Quem vive, precisa comer. Fiquei nervosa, pensando: será que Deus esqueceu-me? Será que ele ficou de mal comigo?" (pg. 168)

"...Aquele preto que cata verdura no Mercado veio vender-me umas batatas murchas e brotadas. Olhando-as, vi que ninguém ia comprar. Pensei: este pobre deve ter vagado inutilmente sem conseguir dinheiro para a refeição. Perguntei-lhe se queria comida. ?Quero! Dirigiu-me um olhar tão terno como se estivesse olhando uma santa. Esquentei macarrão, bofe e torresmo para ele." (pg. 170)

"Por que a senhora começou a escrever? Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia. Tem pessoas que, quando estão nervosas, xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário. Como surgiu seu interesse pela literatura? Seria uma deslealdade de minha parte não revelar que o meu amor pela literatura foi-me incutido por minha professora, dona Lanita Salvina, que aconselhava-me para eu ler e escrever tudo que surgisse na minha mente. E consultasse o dicionário quando ignorasse a origem de uma palavra. Que as pessoas instruídas vivem com mais facilidade." (pg. 186)
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Paloma466 24/03/2024

Leitura necessária e dolorida
Demorei mais de um ano para concluir a leitura, porque era um soco no estomâgo a cada página. É aquele livro que todos deveriam ler, ele tem o poder de nos tirar do estado de letargia, de indiferença que possímos no cotidiano. Fiz muitas marcações e chorei muito, recomendo a todos.
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