Vagner46 28/09/2015Desbravando O Cavaleiro da MorteNarrado em 1ª pessoa, O Cavaleiro da Morte possui uma narrativa ainda mais intensa que a do livro anterior. Após vencer a batalha em Cynuit e matar Ubba Lothbrokson, nosso protagonista volta para sua casa no interior de Wessex e tenta retomar a sua vida, agora casado com Mildrith e pai de um garoto. Mal sabe ele que o destino está sendo tecido e a guerra o espera novamente...
Após uma nova investida dos vikings, o reino de Alfredo ficou reduzido apenas à Æthelingæg, região pantanosa localizada a sudoeste de Cippanhamm. Lá eles precisam reorganizar-se, pois os invasores estão formando um exército de grandes proporções, ainda liderados pelo já conhecido Guthrum, o Sem-Sorte, e agora com a ajuda do famoso Svein do Cavalo Branco, para conquistar de vez o último reino que ainda resta na futura Inglaterra, Wessex.
Nessa sequência, Uhtred está praticamente no ápice de sua arrogância como guerreiro, ainda mais após o seu desempenho na batalha de Cynuit. Ele tentará resolver praticamente tudo na porrada, o que acaba dando errado eventualmente, é claro. Nem só de uma boa lâmina afiada vive um homem de respeito, e o nosso protagonista aprenderá isso de diversas maneiras ao longo da série.
"Sabia que era idiota, sabia que provavelmente morreria se fosse de novo, mas éramos guerreiros e guerreiros não admitem ser derrotados. É reputação. É orgulho. É a loucura da batalha."
"Não se podia recuar de uma luta e permanecer como homem. Fazemos muita coisa nesta vida, se pudemos. Fazemos filhos, riqueza, juntamos terra, construímos castelos, juntamos exércitos e fazemos festins, mas só uma coisa sobrevive a nós. A reputação."
As mulheres também começam a fazer uma grande diferença na vida do saxão, sendo que algumas pistas são deixadas pelo autor acerca de um futuro não tão distante, onde o lado feminino da obra tomará conta e mudará drasticamente o rumo que Uhtred levará. Prestem atenção aos detalhes.
A relação de Uhtred com Alfredo também é muito explorada e rende bons momentos durante a leitura. Um guerreiro pagão que precisa obedecer a um cristão devoto? Não é toda hora que vemos isso por aí. A Igreja, como não poderia deixar de ser, continua incomodando Uhtred, e isso será uma constante em praticamente todos os livros das Crônicas Saxônicas.
"Mas eu odiava Alfredo. Odiava-o por ter me humilhado em Exanceaster quando me fizera usar manto de penitente e me arrastar de joelhos. E não pensava nele como meu rei. Ele era saxão do oeste e eu era da Nortúmbria, e acreditava que enquanto ele fosse rei Wessex teria pouca chance de sobreviver. Ele achava que Deus iria protegê-lo dos inimigos e eu achava que eles teriam de ser derrotados pelas espadas."
Bernard Cornwell surpreende-me positivamente livro após livro. Têm horas que me pego rindo e perguntando: "Como é que ele consegue fazer isso? Eu achei que nada ia acontecer depois disso e ele me prega essa peça?". Outros dirão que o destino é inexorável, afinal de contas.
Há sempre algo que não posso esquecer de falar quando o assunto é Bernard Cornwell: as descrições das paredes de escudos são simplesmente sensacionais! Querem ver como não estou mentindo?
"Então chegou o medo. A parede de escudos é um lugar terrível. É onde o guerreiro ganha reputação, e reputação é importante para nós. Reputação é honra, mas para obter essa honra o homem deve ficar na parede de escudos, onde a morte campeia. Eu estivera na parede de escudos em Cynuit e conhecia o cheiro, o fedor da morte, a incerteza da sobrevivência, o horror dos machados, espadas e lanças, e o temia. E ele estava chegando."
É impossível não gostar de um livro com várias descrições tão ricas como essa. Bernard Cornwell nos coloca dentro do campo de batalha e nos faz sentir na pele o gosto amargo do sangue, como vocês verão no final do livro, onde a famosa Batalha de Ethandun é retratada.
Se você é fã de batalhas, sinta-se obrigado a ler Crônicas Saxônicas. Não perca tempo!
Pontos fortes: TUDO! A narrativa empolgante, as paredes de escudos, o destino inexorável...
Pontos fracos: eu sou um pouco suspeito para falar dos livros do Bernard, pois são sensacionais. Ainda estou tentando achar outro autor que narre tão bem as batalhas como ele, mas está difícil.
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http://desbravandolivros.blogspot.com.br/2012/08/resenha-o-cavaleiro-da-morte-bernard.html