Brino 31/12/2015
Estranho.
Agatha Christie escreveu este livro numa fase difícil de sua vida, quando estava lidando com um divórcio ocasionado pela descoberta do adultério cometido pelo marido. Em sua autobiografia, ela declarou que considerava este o seu pior livro.
Eu discordo. "O Mistério do Trem Azul" não é das melhores obras dela, mas também não é uma das piores, apesar de ser notório um clima diferente, difícil de definir, claramente ocasionado pelo estado emocional da autora.
A história gira em torno de alguns rubis que um rico empresário norte-americano, Rufus Van Aldin, compra para presentear sua filha, Ruth Kettering. Ruth é casada com Derek e o casamento dos dois está desmoronando: ele está tendo um caso com uma dançarina chamada Mirelle, e ela não aguenta mais o descaso do marido. Ao ser informado disso após presenteá-la com o valiosíssimo rubi "Coração de Fogo", Rufus sugere à filha que se divorcie o mais rápido possível.
Para surpresa dele, porém, não será tão fácil. Ruth também está tendo um caso extraconjugal, e Derek, que não quer abrir mão da fortuna da esposa, pretende usar isso a seu favor em caso de uma batalha judicial, se recusando a dar o divórcio.
Paralelamente a isso, uma mulher chamada Katherine recebe a herança de uma amiga que acaba de falecer e fica feliz por poder mudar seu estilo de vida. Ela é convidada para ir a casa de alguns parentes distantes ricos e encaminha-se para lá no Trem Azul. No trem, seu caminho se cruza com o de Ruth, que também faz uma viagem, com fins desconhecidos que parecem atormentá-la, ao ponto de aconselhar-se com Katherine, que acaba de conhecer.
Na manhã seguinte à conversa com Katherine, Ruth é encontrada morta, estrangulada e com o rosto desfigurado, em sua cabine particular. Seus rubis sumiram. Hercule Poirot, que também se encontrava no trem, se encarrega de solucionar o mistério.
Como já falei no início da resenha, achei o livro bom, porém esquisito. Senti que a Agatha queria fazer algo diferente do que acabou fazendo. Por exemplo, a personagem da Katherine parecia ser a grande protagonista do livro até certo ponto, mas acabou não tendo tanta participação quanto pareceu que teria a princípio, sendo completamente desnecessária para a investigação e protagonizando apenas uma trama paralela. A história demora muito a tomar forma, e diferentemente do que ocorre em outros livros, isso não acontece porque a autora está preparando o terreno, ou desenvolvendo personagens, ou apresentando conflitos que terão alguma relevância mais para frente. Simplesmente parecia falta de assunto para preencher as páginas, como se ela não soubesse ao certo onde queria chegar.
O final pareceu tirado da cartola. Foi surpreendente, mas não por ser chocante, e sim porque não houve uma construção adequada e convincente para chegar nele ou até mesmo levantar suspeitas. Cogitei outro final, que seria bem melhor, e isso também me frustrou.
No geral, é um livro nota 7.0 ou 7.5. Me envolveu bastante até, mas tem uma atmosfera estranha, personagens meio perdidos e um final esquisito.