Bernardo.Baethgen 08/06/2018minha estantecall me by your name é uma obra-prima digna de um tristan und isolde. para mim elio é sem duvida um inocente, um ingenuo. oliver é um sujeito completamente pausteurizado. li alguns trechos do livro - estou comprando hoje e ansioso por te-lo em mãos - e acho que a leitura de james ivory é muito muito sensível. o elio de chalamet é um garoto timido e extremamente sincero. apaixonado e absolutamente inocente. marzia é uma jovem muito forte, fortissima, de uma honestidade absoluta. o engraçado é que quando vi o filme pela primeria vez ( foi na internet, lenta e jurássica) eu odiei até onde assisti. queria jogar note com net, filme e tudo pela janela do apartamento. mas...no momento em que oliver da a explicação etimológica da palavra abricot, falei para mim mesmo que o filme tinha algo sério. a partir daí o filme me pegou pela goela e fiquei preso a ele. call me by your name é ao mesmo tempo richard wagner e pushkin - o eugene onegin. só que tatiana consegue se libertar de eugene, ao passo que elio, não. não seria exagerado afirmar que elio sofreu um "estupro" emocional, e até certo modo, físico. mesmo que tenha "consentido". podemos ver isso quando ele tem a ansia de vômito em bergamo - roma no livro - oliver, que como mais velho deveria cuidar de elio, vai ate ele, mais por um certo senso de obrigação do que por compaixão - alias, compaixão é o que oliver não tem. de maneira alguma. na cena em que ele vê elio dormindo no hotel, calmamente, o que ele vê, na verdade, é que aquilo o estava incomodando. um peso, um elo que ele, oliver, não tinha qualquer intenção de ter ou arcar. é tocante quando eles se despedem na estação (filme) o gesto com a mão direita meio fechada na garganta - estava literalmente tentando tirar aquela sensação de sufoco, de aperto - e oliver? nada, nem um gesto de compaixão, rachmones ( em yddish). entra no carro de 2ª classe e pronto! foi-se. que elio fique com a sensação de dor, solidão, e até mesmo de culpa ( afinal, não é ele, elio, o esquisito?) por não ter ficado com oliver. oliver é um sedutor da altura do duque da mantova, em rigoletto. oliver joga tremendamente com elio, como na cena da relva. ele faz algo do tipo: "nao vou me aproximar de voce, é voce quem fará isso". e anella? e mr. perlman? o que poderiam fazer?
no principio achei anella muito chata. mas depois a vi com outros olhos. que mãe! só que uma mãe européia! mas no fundo uma yddishe mamme! só que européia! apesar do carinho, da segurança, do amor, o mundo de elio é um mundo silencioso, quase vazio. apenas marzia e mafalda trazem algo de vivo. há amor entre elio e os pais, que ao meu ver entendem - já tarde - a necessidade de serem mais verbais, mais warmly. cheguei à náusea quando oliver diz a elio pelo telefone que sentira mr. perlman e anella falarem com ele como se fosse com um genro ou something like that. dá para perceber o asco que oliver sente. oliver é o medíocre bem sucedido. elio é genuinamente inteligente, nada academico, mas original, vital. e igualmente vital, absolutamente sincera é sua entrega. pelo que li, me parece que temos que ler desconfiando, não das palavras, dos sentimentos de elio, mas de suas conclusões, precipitadas, equivocadas, pelo grau de ingenuidade e paixão em que o personagem se encontra