Rodrigo1001 01/07/2018
Livro ou Filme? (Sem Spoilers)
Vou começar dizendo que será difícil escrever essa resenha com a devida isenção quando toda a minha experiência de leitura foi “infectada” pelo fato de ter assistido ao filme antes, de modo que eu já sabia o que me esperava, embora eu desconfiasse que o livro me daria uma nova perspectiva sobre a história...
E deu mesmo!
A princípio, a maior surpresa foi perceber a diferença entre o que está nas páginas e o que foi mostrado nas telonas. A fidelidade do roteiro cinematográfico se ateve aos personagens principais, ao ambiente e a espinha dorsal do enredo, mas cortou uma série de elementos e adaptou uns tantos outros que – tcharaaamm! – deixaram o filme mais bonito do que o livro.
Sim!
Embora eu tenho certeza que muita gente dirá o contrário, Me Chame Pelo Seu Nome enquanto filme me encantou mais do que enquanto livro. Para explicar a razão e ser razoável com quem desconhece a história, sou obrigado a dar uma pequena sinopse pra vocês (quem conhece, pode pular o próximo parágrafo!):
O livro nos apresenta a vida de Elio, cuja família tem o costume de receber hóspedes para ajudar escritores jovens com seus manuscritos. Então, todos os anos, pelas longas seis semanas do verão, Elio cede seu quarto a um estranho e se muda para o antigo quarto do seu avô. Essa é uma prática comum na família dele. Seu pai é um professor universitário influente e tem grandes conexões com outros profissionais da área. A vida do garoto de 17 anos, no entanto, muda com a chegada do jovem americano Oliver, um escritor de 24 anos que irá passar o verão na casa da família.
Com uma narrativa poética, o livro é muito bem escrito. Ambientado em um lugar paradisíaco, o autor consegue carregar o leitor para lá, fazendo-o sentir a brisa do mar, o calor do verão e a atmosfera da cidadezinha onde tudo se desenrola. Uma bela história que evolui de forma gradual, com intensidade, atenta aos sentimentos mais escondidos dos personagens.
Então, porque escolhi o filme ao invés do livro? Na comparação, gostei mais do resultado cinematográfico por apresentar um ponto de vista mais direto da situação. É mais singelo, menos conflituoso.
Acho que consigo contar nos dedos as vezes em que considerei um filme melhor do que o livro, e esse foi um deles. O final, principalmente, foi melhor trabalhado na tela. Achei mais significativo e mais leve, embora eu teria gostado de saber como a vida do Elio progrediu após tudo o que aconteceu.
Vai ler? Então aí vão alguns conselhos úteis:
* Há linguagem explícita em alguns momentos, portanto, se você é puritano, desista;
* O livro aborda uma “liberdade de ser” de difícil compreensão para algumas pessoas, especialmente para aquelas que costumam classificar tudo em caixinhas;
* É uma pessoa conservadora, parada no século XIX, intolerante? Não aconselho.
Enfim, um livro que trata de amor, desejo, paixão e descobertas que vale ser lido (mas, assista ao filme também, ok?)
Leva 3,5 estrelas de 5.
Passagens interessantes:
“Arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos das coisas mais rápido do que deveríamos, que declaramos falência antes mesmo dos trinta e temos menos a oferecer a cada vez que iniciamos algo com alguém novo” (pg 258)
“Nós éramos um do outro, mas tínhamos passado tanto tempo separados que agora éramos de outras pessoas. Posseiros, nada mais que posseiros, eram os verdadeiros requerentes de nossos corações” (pg. 272)