livrosepixels 29/03/2018E no fim tudo se resolveeDepois de dois anos, A Coroa da Vingança finalmente chegou para encerrar a jornada da jovem Liliana Young, a adolescente de 17 anos que se apaixona por um imortal e acaba se tornando peça elementar na salvação dos mundos mortais e imortais. Diferente dos dois primeiros livros, nesse observei que há uma exploração maior da mitologia dos povos antigos, não apenas egípcia, mas também da greta e outras similares. De certa forma o que temos é uma grande releitura de todos os mitos passados em um contexto moderno – e com muito romance.
A vida da personagem não foi nada fácil nessa longa caminhada, tendo de enfrentar demônios, múmias, cães do inferno e outra infinidade de seres sobrenaturais não tão amigáveis. Se por um lado temos uma adolescente de 17 anos, mimada e com pouca experiência que se envolve em um mundo totalmente desconhecido, por outro também temos uma mudança radical em sua personalidade e espírito. Ao final da saga, Lily não se parece mais tanto com a garotinha do começo da série. Pelo contrário, já estava sabendo tomar diversas decisões importantes para os dois mundos.
“Às vezes, proteger significa entrar na batalha.”
O novo desafio da protagonista, entretanto, não é apenas se preparar para enfrentar Seth e seus exércitos, mas sim, descobrir quem ela de fato é. Todo mundo fica falando que ela deve se tornar Wasret, a deusa mítica e poderosa a ponto de destruir Seth. Mas como ela pode ter o poder de uma deusa quando na verdade ela não consegue ter lembranças de suas ações passadas? Além disso, outra dúvida permeia a jovem: o que vai lhe acontecer ao se transformar na suposta deusa? Cada vez mais o cerco vai se fechando e a jovem vai se encurralando em um beco sem saída.
A autora usa essas dúvidas e confusões para discutir alguns temas interessantes relacionados à adolescência. Essa fase costuma ser conturbada para a maioria das pessoas, pois são onde fazemos escolhas que influenciarão grande parte de nossas vidas: universidade, viagens, pessoas, relacionamentos, planos para o futuro. A confusão mental de Lily juntamente com Tiaret e Ashley pode até mesmo ser uma metáfora para mostrar quão complexo é tomar decisões nessa fase. Mesmo assim, também mostra como é importante contar com a ajuda das pessoas em quem confiamos e assim manter o controle das coisas.
Também é nesse ponto que vemos que a confiança é uma das virtudes mais importantes, independente das situações. Lily não tem uma relação muito boa com seus pais, mas com sua avó a coisa é outra. Ambas se entendem, se complementam, se ajudam. Não é a toa que durante a preparação inicial para Lily ir para o submundo, quem está por perto para lhe dar apoio seja a Sra. Melda, sua avó. É na imagem dela que Lily encontra forças para seguir o seu destino e fazer o que precisa ser feito.
“Wasret é de importância vital. Estive esperando que ela surgisse desde a alvorada dos tempos.”
Porém, precisamos ser honestos em relação à trama, e apontar também os seus problemas. Primeiro de tudo – e isso não é novidade alguma em relação a mim – temos o foco exagerado no romance. Lily fica “mexida” pelos três irmãos (Amon, Asten e Ahmose) em vários momentos da história, sem saber em quem se apegar. Não o bastante, as vozes em sua cabeça também sentem atração pelos rapazes, e fica aquela melação constante. Sem contar as cenas em que, estando todo mundo no meio de algo perigoso, fugindo de uma besta ou mesmo em meio à batalha, aí a personagem para e solta um “seus olhos lindos e envolventes, seu corpo musculoso e..”. Sério? O mundo tá acabando e a garota olha pros músculos do cara? Ok.
Outra questão também logo de cara que me deixou descrente na trama é a facilidade com que a avó da personagem aceita tudo o que está acontecendo. Em um momento, ela não sabe de nada. Aí aparece um deus, fala que o mundo dos imortais existe e ok, ela se prontifica em ajudar em tudo que for necessário. Tão simples e fácil quanto água caindo em gotas. Mesmo eu sabendo que a história é uma fantasia, pra mim, um personagem aceitar de imediato algo tão radical é muita “ingenuidade”.
“Se alguém tem força suficiente para isso, é você. Jamais acredite que não pode. Acreditar é vencer metade da batalha.”
Acredito que se a trama não tivesse pesado tanto em dilemas amorosos, quem fica com quem e etc, seria um bom desfecho para a trilogia. A narrativa é mais densa, explora melhor os mitos antigos e é muito bacana fazer a viagem para outro mundo, outra dimensão onde coisas grandes e fascinantes acontecem. Por exemplo, uma parte muito bacana é quando a protagonista conversa com um dos seres mais antigos do Cosmos, onde esta explica como era no início a criação do universo, e como com o passar dos milênios, as coisas foram mudando, a humanidade foi se tornando ambiciosa e esquecendo de observar a beleza de toda a criação. São pontos que fazem a gente parar um pouco e pensar de fato sobre isso.
A expectativa estava para o final do livro, mais achei muito simples e até meio patético a forma como o livro termina. Esperava uma batalha mais épica, um confronto realmente de roer unhas de tanta emoção, mas foi muito xoxo. É como se tudo o que os livros nos mostraram sobre Seth na verdade fosse mentira, e ele não passasse de um menininho brincando de deus. Nesse ponto, até o filme Deuses do Egito se sai melhor, ao mostrar a guerra entre Hórus e Seth. Poderia ter sido aqui, mas não foi.
A leitura dessa série se vale mais pelas abordagens mitológicas do que pela narrativa em si, na minha opinião. Para quem não gosta de romance certamente não recomendo a leitura, pois a frustração será constante. Já para quem ama isso, essa série é sem dúvida uma boa forma de conhecer a autora e suas fantasias mitológicas.
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