Livros da Julie 13/07/2020Mulheres como nós-----
O livro é composto de 3 contos:
📓A idade da descrição:
"Criança, adolescente, os livros me salvaram do desespero: isso me convenceu de que a cultura é o mais alto valor"
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"Quanto menos eu me reconheço em meu corpo, mais me sinto obrigada a me ocupar com ele."
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"Conheço esse gênero de mulheres 'na moda'. Têm uma profissão vaga, pretendem (...) ter sucesso em todos os planos. E, na verdade, não se prendem a nada. Elas me revoltam."
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"Mas quem é que se consola dizendo que seu destino é o destino de todos?"
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"Eles chamam indulgência, sabedoria, essa inércia do coração: mas é a morte que está se instalando em você."
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"É tão cansativo detestar alguém que se ama."
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"Ver o mundo transformar-se é, ao mesmo tempo, milagroso e desolador."
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"como se consegue viver, quando não se espera mais nada de si."
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"É preciso sempre esperar que o açúcar derreta, que a lembrança se apague, que a ferida cicatrize, que o sol se ponha, que o tédio se dissipe."
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"ainda amo bastante a vida para que a ideia da morte me console."
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"Também é isso envelhecer. Tantos mortos atrás de si, lamentados, esquecidos."
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"É verdade que a história da humanidade é bela e é pena que a dos homens seja tão triste."
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"Eis o privilégio da literatura. As figuras se deformam, empalidecem. As palavras, nós as levamos conosco."
📓Monólogo:
"tudo é mesquinho nesse mundo tanto a natureza quanto os homens."
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"se tivessem sabido me amar eu teria sido a ternura em pessoa"
📓A mulher desiludida:
"Coisa curiosa é um diário! O que se cala é muito mais importante do que o que se escreve."
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"Depois de (...) anos de casamento, relega-se tudo ao silêncio, e isso é perigoso."
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"Todas as mulheres se acham diferentes, todas pensam que determinadas coisas não podem lhes acontecer e todas se enganam."
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"ninguém transforma sua vida sem transformar a si próprio."
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"Tive uma revelação fulminante: o tempo passa."
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"Apenas havia esse tempo que passava e eu não sabia. O rio do tempo, as erosões causadas pela água do rio"
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A mulher desiludida foi o livro escolhido para o mês de junho no Clube de Leitura Paris de Histórias (#clubeparisdehistorias), promovido pelas @parisdehistorias e @pri_leitora, e aproveitado para o #desafioleiamulheres2020, promovido pelo @_leiamulheres (contos), e para o desafio "um livro que faça parte de um clube de leitura" da Maratona Literária de Inverno (#MLI2020 #BKTBTN), promovida pelo @victoralmeidap.
No conto A idade da discrição, vemos as mesmas personagens do livro Mal-entendido em Moscou (resenha aqui na @livrosdajulie): o casal Nicole e André, o filho Philippe e a nora Irene. Inclusive, há trechos exatamente iguais nas duas histórias, como se ela tivesse utilizado uma como base para escrever a outra e fazer uma releitura. A diferença neste conto é que Nicole é a própria narradora, ela e André estão em Paris e Phillipe já está casado. É como se a viagem a Moscou já houvesse ocorrido.
Aqui Nicole também se questiona sobre o envelhecimento e todas as suas consequências: o esquecimento, o pessimismo, o fim da vida profissional, a necessidade de se sentir útil, a cobrança social, a relação com o corpo, a vida a dois, a estagnação do amor, a decadência física e mental, a teimosia, o saudosismo das experiências vividas e a não aceitação das mudanças.
Alguns temas histórico-políticos também têm espaço no conto, como a possibilidade de uso da bomba atômica, o apartheid, os prisioneiros políticos, o avanço chinês, a ida dos homens à lua e a guerra na Argélia.
Contudo, o foco maior é no relacionamento de Nicole com o filho, no sentimento de ciúme e na competição pelo amor e pela atenção deste. Nicole é incapaz de entender que a vida do seu filho, agora adulto e casado, não lhe pertence e não pode mais ser moldada a seu gosto. Toda a narrativa deriva deste embate sobre o papel da mulher como mãe e a expectativa criada no filho, e a divergência de posicionamento do marido gera ainda mais conflito.
Além disso, grande parte dos problemas ocorre por simples falta de comunicação. Em vez de expor nossas dúvidas, deixar claro o que nos magoa e buscar um entendimento, nos resignamos a remoer eternamente o assunto, realimentando nossas angústias.
Já no conto Monólogo, Murielle reclama sobre o barulho das ruas que chega a seu apartamento em pleno Ano-Novo, impedindo-a de dormir, enquanto relembra tudo que lhe passou, desde a infância.
Com um texto sem vírgulas, sem pausas, Simone demonstra a ansiedade da narradora, que desabafa e despeja todos os seus traumas, toda a sua raiva nua e crua contra a família e o mundo. Por meio de um relato forte e com uma linguagem por vezes vulgar, vamos descobrindo o que levou Murielle a esse estado de tão absolutas e esmagadoras agonia e tristeza.
Simone traz temas como as doenças mentais, os transtornos obsessivo-compulsivos, o suicídio, o abuso infantil, as relações freudianas entre pais e filhos, a traição, a dificuldade do divórcio para a mulher na época, a desigualdade entre homens e mulheres, o preconceito e a indiferença.
Por fim, em A mulher desiludida, Monique começa a escrever um diário. Agora sem as filhas, que já saíram de casa, ela busca mais tempo para dedicar a si própria e ao marido. No entanto, ela o sente distante e começa a desconfiar do que virá pela frente.
Dia após dia, acompanhamos seus questionamentos e seus tormentos. Ela não consegue aceitar as mudanças e se angustia em busca de motivos, querendo encontrar um culpado. Todo o seu passado é revisitado, compreendido sob nova e aterradora perspectiva. Cada descoberta é um soco no peito e atravessamos a história com grande pesar.
O relato que Simone nos apresenta é insuportavelmente familiar. Facilmente nos identificamos com a protagonista, entendemos suas dúvidas e sofremos suas dores, pois conhecemos casos assim ou já passamos por isso.
É um livro com histórias extremamente marcantes de mulheres fortes, decididas e enérgicas, que, em algum momento, se viram magoadas, traídas, inseguras e destroçadas; desiludidas com os homens, com as famílias e com a vida. São mulheres como nós.
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