Zé - #lerateondepuder 29/07/2020
O Homem de Giz
Parece um livro redigido para crianças, mas na verdade O Homem de Giz é um daquele romances eletrizantes que contam com abusos sexuais, acidentes violentos, pedofilia e suicídio, assuntos bem recorrentes na crítica da vida atual das pessoas, principalmente para adolescentes. Mas não se trata somente de uma chamada para assuntos sórdidos, uma vez que traz excelentes mensagens sobre amizades sinceras que perdurarão ao longo do tempo, além de colocar boas reflexões filosóficas que podem ser encontradas no cotidiano de todas as pessoas.
Esse é um conto de amigos que andam de bicicleta por ruas pacatas, como Eddie Adams (Eddie Monstro), Gav Gordo, Mickey Metal (por causa do enorme aparelho nos dentes), Hoppo (David Hopkins) e Nicky, a única e bela garota de uma gangue que inventa um inocente código baseado em desenhos de giz para se comunicarem, mas que acaba sendo descoberto por um assassino frio e calculista. São crianças que viverão uma história de um assassinato cruel de uma adolescente e testemunharão graves acidentes com vítimas, além de outros crimes hediondos cercados de mistério e suspense.
A trama é apresentada, alternando-se entre o ano de 1986, quando eram pré-adolescentes entre 11 e 13 anos, e trinta anos depois, no ano de 2016, já quando Eddie está com seis 40 e poucos anos, vivendo uma crise de ingresso na meia idade. Assim contada em primeira pessoa, a escrita se apresenta de uma forma que, em determinadas passagens, poderia se observar um certo cinismo por parte da autora, às vezes, também, um sarcasmo que se coloca em seus personagens. O interessante é que os crimes acontecem no passado e voltam a recorrer no presente, com uma íntima relação.
É um suspense da primeira até as últimas páginas, quando serão revelados os principais autores dos crimes e as condições em que estes se deram, na pacata e pequena cidade inglesa de Anderbury, que conta com seus bosques, onde jovens se encontravam para namorar e fazer outras coisas erradas, mas onde também morriam. Tudo acontece em uma tradicional comunidade de vizinhos que se conhecem, centrados em uma igreja e escola, que levam o leitor, certamente, a tirar conclusões precipitadas sobre a realidade dos fatos e os respectivos autores dos delitos.
Outros personagens vão rondar o contexto em que o protagonista descreve as cenas de enigmas e incógnitas, como sua mãe médica que realizava abortos (e por isso sofria protestos diversos da comunidade) e seu pai, um escritor que começa sofrer do mal de Alzheimer, o que remete ao grande drama na vida do personagem principal. É possível ver, também, cenas de um professor bem esquisito, do irmão violento de Mickey, do pai e pastor de Nicky e da mãe de origem humilde de Hoppo, além de destacar os pais, um pouco mais bem de vida, de Gav Gordo.
Dois aspectos essenciais são bem ressaltados. A velhice que chega, juntamente com a solidão, realçando o quanto as pessoas, literalmente, encolhem, como se fossem o Gulliver em sua própria Lilliput. Outra, é a morte e sua presença constante, com seus truques que nos fazem pensar em que ela não está ali, mas está apenas a um frio e azedo ofegar, como se sempre tivesse uma carta na manga, tal qual é descrita pela autora.
Escrito no ano de 2018 como romance de estreia da escritora inglesa C.J. Tudor, que nasceu em Salisbury e cresceu em Nottingham, na Inglaterra e que escreve obras de mistério, com um estilo sombrio e macabro, inspiradas em Stephen King e bem ao jeitão de Harlan Coben. Tudor já foi repórter, redatora, roteirista para rádio, apresentadora de televisão, dubladora, passeadora de cães e imprime uma escrita bem gostosa e tranquila de se ler.
A edição resenhada foi uma Kindle de 302 páginas, baseada na da Editora Intrínseca, publicada no ano de 2018. Lembra um pouco a obra A Coisa (It) de King e vale cada minuto a leitura tanto para jovens, quanto adultos, a qual prende o leitor do início ao fim. Veja a vídeo resenha, em: https://youtu.be/LJ_5ODEy6es. Acesso em: 01 ago. 2020.
Paz e Bem!
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