Márcia Regina 03/10/2009
"A louca da casa", de Rosa Montero
Eu gosto de textos que tenham como tema o mundo dos livros e o ato de escrever. Nesse sentido, a obra de Rosa Montero é um prato cheio.
E enquanto ela conta histórias que falam sobre a criatividade, essa louca que se esconde em nossos sótãos - e vez por outra foge, ocupando a casa toda, principalmente cadeiras manchadas de açafrão -, o livro é muito gostoso.
Mas existem momentos em que a autora para de contar e começa a exercer um poder de julgamento. Para mim, nessas horas, a obra perde muito. Porque o julgamento não se restringe a textos, invade vidas particulares. Esse se vendeu, aquele decaiu, o outro fracassou... Saímos do mundo da literatura e embarcamos num programa de auditório sessão da tarde, especialista em fofocas sobre celebridades. O texto assume um tom de arrogância que me irritou profundamente. A vida, em suas diferentes épocas e culturas, possui nuances complexas e diversificadas demais para que possamos definir – e julgar – com tanta clareza atitudes, sentimentos, rumos e vivências de outras pessoas.
Felizmente, o livro vai muito além desses momentos. Achei interessante a forma como ela cria e recria uma história particular, e como leva o leitor a uma sensação de estranheza, inicialmente, pela repetição, completando o círculo depois. Faz refletir. E adorei a cena final. Li e reli a história da freira do convento. Saí encantada.