JCarlos 02/12/2018
A Forma da Água
O leitor já está acostumado com a expressão "o livro é melhor", certo? Nesse caso, posso dizer que as obras se complementam.
O filme é belo e bem dirigido, apresentando uma fábula moderna que envolve um improvável amor adulto, solidão, medo e discriminação. Há, também, toda aquela atmosfera de suspense da Guerra Fria, dos anos 60, dos programas de TV e das sessões de cinema.
Del Toro sabe explorar de forma magistral as imagens e usar alegorias para conduzir críticas sociais e reflexões acerca de diferenças.
De igual modo é o livro. Junto com Daniel Kraus, nasce uma espécie de romance fantástico e suspense, numa ambientação de laboratórios e cientistas, típicos de narrativas encontradas em ficção científica.
Nessa história improvável, conhecemos Elisa, orfã e muda, que vive em seu solitário mundo, num apartamento antigo, acima de um cinema. O mais próximo de uma amizade que conhece é o seu vizinho Giles, um senhor homossexual, e Zelda, uma negra, colega de trabalho, onde juntas realizam a tarefa de limpeza noturna, nos laboratórios do Centro de Pesquisas Aeroespacial Occam.
?Ela pode ser melhor que isso. Pode equilibrar as coisas. Pode fazer o que nenhum homem jamais tentou fazer com ela: se comunicar.?
O oficial do Governo Strickland, que encontrou a criatura, é a figura obstinada e determinada, fora da casinha, obcecado por exterminar a sua descoberta. Uma lembrança de que o monstro horrível pode estar dentro de nós e não numa aparência exterior e imediata.
E o livro, embora baseado no roteiro, é rico em acréscimos, descrevendo situações diversas do filme, como a captura da criatura na Amazônia, a lenda em seu entorno e a identificação desse ser reptiliano como vindo de um passado milenar. Um devoniano conhecido pelos nativos como deus Branquia.
Passamos a conhecer, também, pedaços de pensamento da mente primitiva da forma da água, algo deixado de lado da versão cinematográfica.
?... Somos exploradores é nossa natureza explorar e estamos alimentados e mais fortes e faz muitos ciclos desde que nós exploramos e por isso nós vamos?
Nessa experiência aquosa, foi possível me transportar totalmente para a atmosfera dessa bela história. Não raro, humanos me observavam a assoviar o Elisa's Theme.