Fernanda631 24/11/2022
Rio Vermelho
Rio Vermelho foi escrito por Amy Lloyd e publicado em 5 março 2018.
Rio Vermelho é uma obra sobre uma mulher que acredita que o amor da sua vida fosse inocente e que pudesse dar a ela, a mesma liberdade que estava ganhando ao sair de trás das grades, trata de problemas de relacionamento, problemas psicológicos e de um mistério: Qual será a verdadeira história sobre as meninas de Red River?
É curioso pensar que um mesmo livro pode te fazer sentir tantas coisas ao mesmo tempo, é como se tudo em que você pensasse fosse na história de pessoas que não existem, mas que ao mesmo tempo te fazem companhia por algum tempo. No meu caso, dois dias. Foi impossível parar.
O que acontece neste thriller, ao contrário de muitos e que o torna totalmente diferente de tudo que já li, é que não há mistério, mesmo que nas entrelinhas a autora deixa exposto o que aconteceu, em momento algum duvidamos de quem seja a culpa. É uma história de obsessão, paranoia e principalmente de um “amor” doentio.
A trama gira em torno de Samantha e Dennis. Há vinte anos ele foi preso pelo assassinato de uma jovem, o crime foi brutal e a sociedade não esqueceu, mas do outro lado existiam pessoas que o defendiam, que não acreditavam que um garoto de 18 anos fosse capaz de um crime tão horrendo. Os anos passaram, mas as teorias sobre o que aconteceu na época não. Então, agora, um documentário está sendo produzido e isso fará com que o processo seja revisto, que novas testemunhas dêem o seu relato e se descobrirá que um homem, Dennis, foi condenado erroneamente.
O fato de a protagonista Samantha já nos ter sido apresentada com um histórico de relacionamentos conturbados e a forma como a autora construiu sua personalidade carente, contribuem para que o leitor tenha no mínimo uma empatia delicada e se sinta mais próximo de suas escolhas e atitudes.
Samantha é fissurada no caso do Dennis e depois de muito relutar passa a se corresponder com ele na prisão. O relacionamento dos dois é esquisito, afinal, quem quer ter algo com um homem acusado de assassinato? Só que não é isso que Samantha pensa, ela acredita em Dennis e participará do movimento para provar que ele é inocente. Quando Dennis é solto, os dois passam a viver juntos, mas será que Samantha pode realmente confiar no homem que escolheu para amar?
Dennis Danson é o protagonista, ele está preso há mais de 20 anos pelo assassinato brutal de uma jovem em Red River. Famosinho, o prisioneiro passa a ser o assunto principal num documentário a respeito de crimes reais, com o fito de descobrir a verdade e libertar um possível inocente. Sim, eu disse possível porque alguns acham que ele realmente não cometeu o crime. Em contrapartida, Samantha acredita nas alegações de inocência e resolve fazer uma campanha para tirá-lo da prisão. E é aí que as coisas começam a desnivelar. O personagem criado de forma brilhante. Ele foi criado à semelhança de rapazes rebeldes, incompreendidos e amado por todas as garotas da escola. Além disso, ele possui uma personalidade mais conhecida como “morde assopra”, o que foi capaz de encantar Samantha e que, apesar de não querer admitir, pode encantar a muitas mulheres.
Sam passa a escrever cartas ao jovem rapaz. Um detalhe importante é que ele é considerado um cara bonito, mesmo que ainda que tenha envelhecido, mas a aparência continua invejável e as mulheres ficam loucas por ele. Não sabemos nada sobre os traços físicos de Sam, a autora apenas foca em dizer que ela tinha complexo com gordura, com o rosto e acaba por aí. O que ela tem de encantador eu não sei, mas Dennis viu algo nas cartas dela; os dois acabaram se apaixonando e ficando juntos.
Além dos protagonistas, somos apresentados a personagens que escondem seus próprios segredos, por amor, por loucura, por obsessão, ou por possuírem cargos na polícia da cidade. Lindsay é a melhor amiga do protagonista e amiga de infância, completamente apaixonada e dependente do rapaz, sendo ela o terror de Sam, que a vê como uma ameaça a seu casamento, e que não passa de ingenuidade. O policial Harries é pai do melhor amigo de Dennis, problemático Howard, alguém que faria tudo para agradar àqueles que lhe são queridos. Carrie, que é a pessoa responsável pela produção do documentário de Dennis,
Todas personagens femininas são ligadas à mesma figura masculina, como se não conseguissem ter protagonismo sem ele, são fracas e incapazes de tomar uma decisão sozinhas. Sei que existem mulheres menos fortes que outras.
A autora vai construindo tudo gradativamente, a cada página temos novos elementos e o fato de um dos personagens estar produzindo um documentário me deixou mais ansiosa ainda. Achei que esse ponto deu uma dinâmica muito boa na história, pois através disso e de alguns trechos do primeiro julgamento de Dennis, podemos ter uma visão ampla de todo o caso, mas isso também não quer dizer que tudo que estamos lendo seja realmente verdadeiro, sempre existe algo que pode ser manipulado.
O início do livro é simplesmente magnífico bem diferentes de outros até mesmo livros de seu gênero, a autora insere elementos que fazem você acreditar que realmente está lendo sobre algo real, criando inclusive um livro e um documentário fictícios, dos quais ela coloca notas de rodapés de reportagens também fictícias. Amy utiliza ainda coisas muito presentes no nosso dia a dia como o serviço de streaming tão conhecido. Porém, o livro não entrega aquilo que ele provoca, o que esperemos. O desenvolvimento dele fica muito focado em partes pouco importantes, como ligeiras brigas no relacionamento de Dennis com Sam ou na sua retomada de vida fora do presídio.
Um ponto que sempre me choca, não por ser uma tática inovadora, pelo contrário, mas por ser capaz de me prender tanto é o fato de que aqui, mais uma vez, estaremos torcendo pelo “vilão” da história. A autora criou uma atmosfera tão intensa que podemos sentir o medo, a tensão, a paranóia, a obsessão e o romance existente como se estivéssemos vivendo aquela trama.
Apesar do personagem central da trama ser Dennis, a personagem protagonista é Sam. Grande parte da história está ligada à como a vida dela muda com as escolhas que ela faz após aproximar-se do marido e como a mentalidade dela funciona com seus conflitos internos e como a dúvida sobre areal inocência dele a afeta dia após dia.
Rio Vermelho é o típico livro que vai te deixar indeciso, logo no início. Aliás, para ser sincera, ele me proporcionou sentimentos indescritíveis. E não entendam isso como algo mil maravilha. Acredito que esse fator ocorreu por causa dos protagonistas. Em momento algum senti afeto por eles, em parte alguma consegui dar credibilidade à idéia veemente de Sam, nem tampouco ao Dennis – que, cá entre nós, estava cansativo.
Não é nada difícil descobrir quem é o culpado de tudo. Logo no primeiro capítulo as coisas ficam claras e o mistério não existe por muito tempo. Já iniciei a leitura sabendo o que aconteceria, principalmente quando temos uma sinopse tão de fácil e com mistérios entregues de mão beijada. Esse foi um dos pecados mortais, no meu simplório ponto de vista. Não vou adentrar à história tanto quanto a sinopse fez, não vou dizer que eles se casaram, que ele saiu da prisão e nem que... vocês conseguem imaginar o restante.
O que me deixou realmente estressada com a história foi a Samantha; até agora não consigo acreditar que alguém possa se apaixonar por um possível criminoso e ainda ir morar com ele.