Queria Estar Lendo 12/12/2019
Resenha: King of Scars
King of Scars é o primeiro título da nova duologia de Leigh Bardugo - mesma autora da trilogia Grisha e de Six of Crows. A história é outro spin-off do universo Grisha e acompanha Nikolai em seu jovem reinado enquanto tenta lidar com as crises deixadas pela guerra.
Esta resenha vai conter alguns spoilers da trilogia Grisha, então leia com moderação!
A trama se inicia um tempo depois do fim da trilogia. Nikolai se tornou rei de Ravka e tem tentado controlar as muitas crises deixadas pelo reinado caótico do Darkling; com o fim da guerra, as consequências dela ainda ressoam pelo reino - aliados instáveis e possíveis inimigos permeiam as fronteiras de Ravka, e está em Nikolai a responsabilidade de impedir que novas crises se iniciem.
"Posso sentir sua raiva, rainha da tempestade. Faz o ar estremecer."
Infelizmente para ele, outra crise também tem rondado seus dias - suas noites, mais precisamente. As cicatrizes da guerra não estão apenas em sua pele, mas dentro dele. O monstro em que Nikolai se transformou está de volta e toma seu corpo todas as noites, colocando em risco a segurança do rei e daqueles ao seu redor. Uma oportunidade inesperada apresenta uma chance de Nikolai se livrar desse monstro - mas, para fazer isso, ele vai precisar se envolver com magia Grisha antiga, coisa que só os aterrorizados Santos de Ravka já mexeram.
King of Scars é um senhor livro. Digo isso de maneira positiva e, infelizmente, negativa também. Suas 528 páginas ora são repletas de energia e adrenalina ora se enrolam em descrições e momentos que não soam exatamente importantes para o desenvolvimento da história.
Aqui, Bardugo dividiu a narrativa entre três personagens principais. Nikolai, Zoya - a imponente comandante Grisha que agora serve ao lado do rei - e Nina Zenik, que conhecemos na duologia Six of Crows e no momento acompanhamos em uma missão secreta para a coroa de Ravka.
Enquanto os pontos de vista de Nikolai e Zoya eram carregados de informações relevantes, reviravoltas chocantes e interações animadoras, os de Nina... Estavam ali enchendo o livro de páginas e mais páginas de momentos que eu só consigo definir como perdidos.
"A perda era algo diferente, porque ela não via um fim para o sentimento, apenas o horizonte distante se esticando sem parar."
Com poucas exceções, o plot da Nina soou bastante como uma encheção de linguiça para o livro. Eu entendo que ela merece seu desenvolvimento e, quem sabe, um fim, mas não encontrei necessidade de tê-la inserida nessa história em particular. Enquanto os capítulos dos outros me enchiam de curiosidade, os da Nina me enchiam de tédio. Eu não queria saber dela, não queria saber sobre os mistérios que ela estava investigando.
Enquanto tínhamos uma crise pela coroa, possível guerra, monstros despertando das sombras e Santos assombrando a vida dos Grishas, o arco da Nina focou muito no luto dela a princípio para então desenrolar em uma sequência de suspense e mistério e investigação, chegando ao ponto de forçar um romance quando nem tinha dado tempo para o caixão do ship esfriar.
"O aço é conquistado, Majestade. As histórias também."
Como disse a Lu do Balaio de Babados, sinto que todos os capítulos da Nina teriam funcionado muito melhor em um livro solo ou uma história separada. Ainda que o fim da trama dela mostre uma ligação razoável com a dos outros, ainda não é suficiente para eu me interessar pela sequência - mais me deixou "ah não" com a ideia de ter que ler a continuação dela no próximo livro do que animada para ver o que ia acontecer. E eu estou falando como alguém que ama a Nina do fundo do meu coração!
Fora esse escorregão, o livro acerta quando dá os pontos de vista para Nikolai e Zoya - que se apresentam aqui como uma dupla poderosa e extremamente carismática. A química entre eles é absurda e salta das páginas; é baseada em companheirismo e confiança, o tipo de amizade forte que esconde alguma coisa, mas que nenhum dos dois tenta entender o que é. O princípio de um ship, talvez - o que eu torço muito - mas, acima de tudo, uma irmandade onde um pode contar com o outro nos momentos mais terríveis e nos melhores possíveis.
"O monstro sou eu e eu sou o monstro."
Nikolai se apresenta como essa figura cheia de sorrisos e piadas prontas que roubou meu coração com toda força na trilogia Grisha. Ele ainda é aquele corsário sarcástico com pose de Han Solo, mas a guerra deixou suas cicatrizes - tanto no corpo quanto na alma dele. O fato de carregar o peso da coroa e de representar um reino destruído pela fé e por mentiras muito fazem para perturbar o rei.
Eu amei acompanhar os arcos do Nikolai, seus temores e conquistas. Sofri com o que aparecia no caminho dele e com a promessa que ficou para o próximo volume da duologia, sem ideia de para onde a Bardugo está caminhando, mas com medo do que está por vir. Nikolai é e sempre será um dos meus personagens favoritos da literatura e eu mal posso esperar pela conclusão da sua história.
Zoya, por outro lado, chegou de surpresa e me arrebatou por completo. Se antes eu já a admirava pela resiliência e postura imponente, aqui eu cai de joelhos porque a força que essa mulher carrega não tá no papel. Os traumas do seu passado, o terror que viveu ao servir o Darkling e ser traída por ele - como isso impactou na maneira com que ela reagia ao mundo - tudo isso é muito bem desenvolvido.
"Zoya da cidade perdida. Zoya do coração partido. Você poderia ser tão grandiosa."
Você se interessa mais e mais pela personagem conforme a narrativa destrincha quem ela foi e quem ela é e quem ela pode se tornar. A grandiosidade guardada para Zoya está em cada capítulo e além, porque se tem uma Grisha para surpreender a gente com seus poderes e o que eles carregam, essa Grisha é a comandante.
O livro é pontuado por participações de muitos rostos conhecidos do universo Grisha, menções a personagens queridos e nomes novos que acrescentam mais tensão à instabilidade de Ravka. Um em particular que mais me causou revolta e desespero aparece no arco do Nikolai e pai amado como eu queria sair no tapa com aquele guri.
A narrativa, como eu disse, se divide entre esses momentos carregados em cenas de ação e desespero para então manter um ritmo mais monótono - nos capítulos do Nikolai e da Zoya funcionam, nos da Nina só me fizeram querer arrancar os cabelos de frustração. Os diálogos foram a melhor parte em todo livro porque a Leigh entende profundamente seus personagens, então todas as interações são fortes e intensas e divertidas quando preciso, tensas quando necessário.
"Podia estar amanhecendo. Podia estar anoitecendo. Coisas mágicas aconteciam no meio tempo."
King of Scars é um livro para quem já está afundando nos feels pelo universo Grisha e definitivamente uma leitura obrigatória para quem ama o Nikolai e sua jornada. Apesar dos escorregões, entregou uma história com reviravoltas surpreendentes e um final de te derrubar da cadeira. NÃO LEIA A ÚLTIMA FRASE DO LIVRO! Agora é roer as unhas e esperar pelo final.
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