Resenhas - Deuses Caídos

Carlos 22/04/2020

Para ler esse livro você precisa destituir da fé, ou pelo menos desconsiderar tudo no que acredita para não se sentir ofendido, ou ver isso como um simples livro descompromissado. A composição de cenários, de faces da vida brasileira e carioca mais em especifico ganham tons de verdade nesse thriller religioso.

Devo confessar que o autor foi genial e ousado. Iniciar a leitura da série de crimes com um pastor sendo torturado por roubar os fies é agoniante e ao mesmo tempo nos faz pensar "cara seria tão bom se isso acontecesse com uns FDP aí" – convenhamos, a natureza humana é um equilíbrio tênue entre bem e mal, do qual para os menos religiosos chamamos de consciência, ética e moral. O segundo acontecimento me lembrou os idos dos anos 2000, antes do levante neopentecostal era comum na televisão haver muitos casos de Kadercistas e dentre eles as polemicas cirurgias mediúnicas. Em outro momento um padre que abusa de crianças dentro das paredes da igreja e consegue ter o caso abafado depois do escândalo inicial, muitas vezes com o consentimento da Santa Sé… percebe-se que o autor não fugiu da realidade [tragicômica] religiosa brasileira ao escrever seu romance.

Os toques de sarcasmos e ironia que permeiam a obra, mas ao mesmo tempo querendo ser respeitoso ditam um tom de galhofa que pode insultar alguns e agradar a outros – me agradou deveras. Ter um padre que tem vícios, descende de uma família tida como de satanista por muitas religiões, assumidamente homossexual com preferencias sexuais por travestis e com carisma zero para crianças – cadê a mãe desse anticristo? – são os pontos fortes do livro e reforçam as criticas às religiões de modo geral.

O autor cria um universo onde sincretismo religioso e partes do folclore brasileiro e do mundo se fundem sem perder suas particularidades, reforçando um mundo mágico e sobrenatural que são palatáveis e você crer que é possível que existam. A parte em que explica a adoração a diversos deuses ao longo da existência humana é sensacional.

A personagem de Júlia traz um contraponto as características de Cipriano, o padre exorcista. Clara referencia aos deuses afro-brasileiros, a personagem é quem conduz o leitor cético a acreditar nos absurdos que vivem no submundo de Cipriano, enquanto que ela própria é a antítese do mundo real.

Muitos dizem que o livro possui passagens desnecessárias ou exageradas, não senti isso, cada situação era necessária porque o autor assim quis e tudo está ali cumprindo um papel na trama. Tennyson é uma grata surpresa no cenário nacional de ficção, espero poder voltar a explorar esse mundo criado pelo autor.

Não aceito o que aconteceu no final, preciso de mais páginas de impropérios de Cipriano e da interação dele com Júlia.

Xande 12/06/2020

Espetacularmente maravilhoso!
Maravilhoso, com um ótimo ritmo, e de uma qualidade absurda! Criaturas fantásticas se aventurando no nosso Rio de Janeiro. Muito bom! O livro não deve em nada a livros internacionais. Amei... e esse é daqueles que você devora... li em 3 dias tamanha eletricidade presente no ritmo do livro! Produto nacional de alto padrão!