Lorenna 26/09/2022Dilemas morais e personagens incômodos: mergulhe na tragédia da família QuinnHá que se dizer sobre essa autora: não existem limites do que pode ser considerado cruel quando se trata da narrativa das suas história. Por isso já fica o aviso, eu até hoje não encontrei nenhum livro dela que fosse leve. Pelo contrário, é tudo muito gráfico e você pode esperar por horror e tragédia. E também uma narrativa que te puxa pra dentro de tudo isso e vai te conduzir avidamente até o final da história.
Assim foi com a A boa filha, história maravilhosa, mais de 400 páginas que voam, devido a perícia da autora pra escrever e a condução do que pode ser uma belíssima história - dependendo do ponto de vista.
Com capítulos extensos, mas que não deixam margem pra você parar nenhum momento, a autora nos conduz pelos dilemas morais de três advogados, a família Quinn. Samantha, a filha mais velha e castigada por uma quase morte de gelar o sangue. Também a mais contida, inteligente e de língua afiada. E Charlotte, a filha mais nova, alegre, esperta e gentil. Seu pai, Rusty, um advogado que é contrário a pena de morte e defende o que aos olhos de todo mundo são “bandido” e não merecem nenhuma chance.
Após quase 28 anos de uma tragédia ter encontrado essa família, os três estão novamente reunidos quando um tiroteio em uma escola coloca Charlie, a mais nova, no meio da cena do crime. E talvez aqui esteja a grande diferença desse livro da autora. Não espere acompanhar uma investigação, e sim os bastidores do que acontece após alguém cometer um crime.
Toda a sujeira entre advogados, policiais e como é feita a condução de uma denúncia no tribunal. Em meio a isso está a família Quinn, e tudo vai sendo desenterrado. A mídia tentando penetrar a todo momento e desnudar vítimas, advogados, histórias… Em meio a esse turbilhão o leitor descobre pouco a pouco por que Rusty, o advogado que defende bandido, faz o que faz.
E aqui é que está: a cada página você se vê mudando de lado. São personagens cheios de camadas e muito incômodos. Não espere se apegar e sim se confundir com as próprias ideologias e ideias. São questões morais que ao longo de toda a vida das personagens elas defenderam, com seus próprios motivos, e agora tem que entrar em consenso ao mesmo tempo que veem suas intimidades expostas e chega a hora de encarar o passado.
Tudo isso com muita frieza, adrenalina e desconforto. Para as personagens, por que para o leitor é um deleite. Esse livro corre com uma velocidade surpreendente, sem deixar nada de fora. Vítima, assassino, advogado, todo mundo tem que sem papel. Os diálogos são muito marcantes e reflexivos.
Não tenho nada a colocar de ponto negativo na leitura; pelo contrário. Se você quer ler algo que te prende do início ao fim, te deixe de boca aberta, te faça refletir e ter repulsa do ser humano em certos aspectos, leia A boa filha (e no final questione-se sobre tudo o que você pensava, até se ver no lugar dessas personagens).
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