Vitória 10/03/2022
Uma sessão de coach motivacional
Esse foi meu primeiro contato com a Nana Pauvolih. Confesso que comecei o livro com muitas expectativas, já que ela é uma autora muito elogiada quando o assunto é romance hot. No início, cheguei a pensar que minhas expectativas seriam atendidas. A escrita dela é excelente, o que faz com que a gente se apegue aos personagens muito rápido, mas a partir daí foi só ladeira abaixo.
O livro poderia, facilmente, ter 300 páginas a menos. A autora repete as opiniões e visões dos protagonistas trocentas mil vezes, fazendo com que, depois de um tempo, a leitura se torne cansativa.
Algumas coisas aqui se mostraram problemáticas, pelo menos ao meu ver. Vou destacar dois casos em que isso aconteceu. O primeiro foi em uma cena onde a ex do Ramon aparece no apartamento dele do nada, e a Marcella, no meio de uma discussão com a menina, simplesmente quebra o celular dela na parede. Tudo bem ter bate boca, acho que isso é até necessário, mas aí a mulher passou dos limites, e o detalhe é que todo mundo em volta dela fica dizendo que ela fez o certo. O segundo foi em uma conversa, depois do Ramon ter sido machista (pra vocês verem que nem vou tocar nesse assunto aqui, só tô destacando os piores mesmo, mas saibam que tem mais), onde a Marcella emenda numas reflexões sobre machismo e feminismo, e fecha dizendo que o feminismo é intolerante. Tudo bom contigo, querida? E pra completar o boy concorda com ela.
Por último, o livro parece uma sessão de quase 800 páginas de coach motivacional. Aqui eu tenho que dizer que não estou no meu local de fala, afinal não sou uma pessoa com deficiência. Meu local aqui é de uma pessoa com doença crônica grave sem cura. Explicado isso, os personagens, tentando tirar motivação do lugar errado, ficam repetindo que tem a obrigação de estarem felizes simplesmente pelo fato de existirem pessoas por aí no mundo em situações piores do que as deles. Vocês não tem noção de como isso me irritou. Quando tive minha doença diagnosticada, eu aceitava qualquer que fosse o discurso pra me tirar da fossa, menos esse. Ok que tem gente em situação pior, eu tenho consciência disso, mas a única vida que eu consigo viver é a minha, agora é proibido reclamar? Talvez isso tenha me irritado mais por esse aspecto pessoal que me afetou do que pelo livro em si, mas, mesmo assim, prejudicou a minha experiência, e eu tô aqui exatamente pra falar da minha experiência, né?
Enfim, acho que a única coisa que tenho pra falar de bom sobre esse livro é em relação à escrita da autora mesmo. Sinceramente, só concluí a leitura porque tenho muita dificuldade em abandonar livros. Se não fosse por isso, esse aqui teria sido largado lindamente. Mais um pros piores do ano.