Pati 26/05/2020Ouroboros LiterárioTerminada a leitura a única resenha possível, entre lágrimas de exaustão, de encerramento, triunfo e dor, é está: eu preciso reler essa obra gigante em algum momento adiante da minha vida, das minhas experiências, com mais bagagem. Esse livro me dominou, me domou e subjugou de um jeito quase físico. A princípio eu fiquei bastante incomodada por não entender a narrativa, ou conseguir me conectar com a história e personagens. Porém era impossível largá-lo. A vontade de compreender era muito maior que o desespero da ignorância. E assim seguiu-se a avidez da passagem das páginas até a última, que terminou junto com a última lasca possível da última unha do último dedo da minha mão que ainda estava intacta. Confrontada com o que eu desconheço de maneira tão provocativa, não consigo me manter alheia, mas no caso desse livro, creio ser senso comum essa profunda experiência de imersão na cultura árabe. Foram pincelados tantos aspectos políticos, econômicos, religiosos, sociais, de costumes, etc, desconhecidos para mim, que é impossível permanecer passiva diante desse universo denso e até então ignorado. O mérito fica por conta do enredamento causado pelo autor, que envolve o leitor gradativamente e entrega com parcimônia pistas que apontam para questões, maiores, que ultrapassam a história, saltam das páginas e se materilizam no plano da realidade. Pretendo revisitar a saga de Mustafa Said e suas muitas mulheres inglesas e a aldeia sudanesa das palmeiras hospitaleiras às margens Nilo um dia. Até lá, avançar em direção ao norte, ao sul, leste, oeste, mas não se deixar afogar simplesmente no curso do rio. E fluir.