Samantha @degraudeletras 22/02/2020ADÉBÁYÒ. Ayòbámi. Fique Comigo. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018.Yejide e Akin se conheceram na época da faculdade e em pouco tempo se casaram, mesmo vivendo em uma sociedade poligâmica, concordaram que não adotariam tal prática. A vida do casal era satisfatória para ambos, até que a pressão social para ter um filho começou a sufocar cada vez mais e vários problemas apareceram aos poucos de maneira a minar o relacionamento.
A partir do título e da premissa desse livro, imagina-se um romance que trate de separação, podemos descrevê-lo assim, mas é bem mais sobre o processo de desestruturação do relacionamento em questão. E algo que não se pode fazer aqui é supor alguma coisa porque plot twist é o sobrenome da autora (sic).
Em Fique Comigo vários pontos são abordados e posso ressaltar alguns, como: a construção de um relacionamento e como é necessário pautá-lo em verdade e diálogo; as artimanhas que algumas pessoas são capazes só para conseguir o que querem; ética; e a cultura nigeriana.
Já acho a maternidade supervalorizada aqui no Brasil, em que há uma áurea mística de que não há coisa melhor no mundo mesmo que você passe não dormir, tenha milhões de preocupações a mais, reduza o seu tempo e etc... Quando me deparo com livros nigerianos percebo o quanto isso tudo pode ser ainda pior no sentido de atrelar a maternidade à respeito e formação da mulher (isso é bem comum de ouvir aqui também, de que você só se torna verdadeiramente mulher depois de ter um filho). Levanto essa questão porque mesmo havendo uma diferença cultural enooorme, nesse quesito a exigência da reprodução é muito semelhante. A questão feminina é abordada em vários momentos durante o livro, como quando uma cliente de Yejide supõe que Bolu não vai conseguir ir à faculdade porque é bonita, por exemplo, ou quando o médico chama Akin para falar sobre a doença do filho e possíveis consequências para o casamento dele.
Para além dessa questão de relacionamento e exigências sociais, Ayòbámi nos fornece um pano de fundo político e econômico da Nigéria entre os anos 80 e 2000, os frequentes golpes de estados e a tentativa de instaurar uma democracia.
Essa foi uma leitura que me surpreendeu bastante por sua narrativa, antes da metade eu já não sabia mais o que esperar dele! A falta de escrúpulos de Akin me fez ter raiva, nem todo o amor que ele aparenta ter por Yejide justifica suas estranhas escolhas.
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