Lauren / Biblioteca de Lilith 18/02/2020
O peso cultural e social
A história de “Fique Comigo” carrega o peso de uma sociedade patriarcal onde a mulher é posta como alguém a servir o marido, a existir em função das necessidades dele. Aliado a isso, a protagonista Yegide, está inserida numa cultura na qual a mulher é vista apenas com utilidade reprodutiva, onde só pode de fato ser considerada uma mulher de verdade ao dar muitos filhos para o seu marido, reforçando uma ideia de maternidade compulsória.
Mesmo Yegide sendo a frente do seu tempo, bastante independente, lutando por um casamento feliz não pautado apenas nos costumes locais, ela ainda sofre desesperadamente, ao tentar salvar este casamento e exercer a tão sonhada maternidade, esbarrando constantemente nas pressões sociais e culturais, que começam a destroça-la de dentro pra fora.
Desestabilizada, magoada, perdida, torturada psicologicamente por todas as situações que vivencia e com um destino por vezes cruel, ela ainda carrega consigo o peso das culpas e responsabilidades masculinas, das quais ela não é responsável, mas ainda sim, pelo fato de ser mulher, é sobre ela que recaem muitos julgamentos. Porém, apesar de tantos percalços e tristezas, existe uma luta por sobrevivência, emocional e afetiva, e uma busca por salvação.
“Então, pela primeira vez, ignorei a ofensa de um parente e me levantei quando todos esperavam que eu me ajoelhasse”.
“Quando o fardo é pesado demais e o carregamento por muito tempo, até mesmo o amor se verga, racha, fica prestes a se despedaçar, e as vezes se despedaça de fato. Mas, mesmo quando está em mil pedaços aos nossos pés, não significa que não seja mais amor”.
“É a verdade – exagerada, mas ainda verdade. Além disso, o que seria do amor sem a verdade exagerada até o limite, sem as versões melhoradas de nós mesmos que apresentamos como se fossem as únicas que existem?”
“Eu me consolava dizendo a mim mesma que não ter mãe significava que eu podia escolher minhas próprias histórias. Se eu não gostasse da história que uma esposa estava contando aos seus filhos, podia simplesmente passar para a porta ao lado. Eu não estava aprisionada por tras de portas trancadas como meus meios-irmãos. Eu era livre, dizia a mim mesma.”
“Fui tomada por uma urgência de preencher todos os silêncios com palavras. O silencio para mim era um vazio no universo que poderia nos sugar a todos. Cabia a mim bloquear esse vazio mortal com palavras e salvar o mundo”.
“Akin deveria ser o amor da minha vida. Antes de ter filhos, era ele que me salvava de estar sozinha no mundo; eu não podia admitir que ele tivesse defeitos”.
“Me convenci de que me calar significava que eu era uma boa esposa. Mas as maiores mentiras são na maioria das vezes as que contamos a nós mesmos. Eu mordia a língua porque não queria fazer perguntas. Não fazia perguntas porque não queria saber as respostas. Era cômodo acreditar que meu marido era digno de confiança; as vezes, confiar é mais fácil do que duvidar”.