Sadiraiang 10/11/2022Aventuras, desilusões e um amor (im)possível - É istoO Guia do cavalheiro para o vício e a virtude: entre aventuras, desilusões e um amor (im)possível
Quando Henry (Monty) Montague, Felicity e Percy Newton entraram na carruagem para dar início ao Grande Tour pela Europa, nem eles ou nós mesmos, imaginaríamos as peripécias que seriam encontradas no caminho. Seja correr pelado pelo jardim do palácio de Versalles ou a possibilidade de lascar um dente durante a tentativa de uma técnica de sedução. Nem ao menos Sr. Lockwood, o ?guia? e o responsável por eles, teria como dar conta dos infortúnios que rodeiam os três jovens, e ainda manter a rota predestinada.
Em uma trama que trabalha assuntos como racismo, homofobia, ignorância, e o direito das mulheres em 1700, ?O Guia do Cavalheiro para o Vício e a Virtude?(2018) de Mackenzi Lee, é um romance de época recheado de aventuras de viajantes pelo continente europeu, com personagens que lutam contra as barreiras impostas por si mesmos e pela sociedade.
Com escrita condizente aos anos em que se passa a história e ambientação bem feita, a obra consegue agregar a relação dos personagens uma profundidade enlaçadora que lhe transporta para aquele exato momento na humanidade, como se fosse real, carregando até o sentimento de impotência sobre as situações e como as soluções diferem comparadas a hoje. Tal análise diz muito sobre a formação em história da autora, que não deixa passar nem a localização dos personagens no continente europeu átoa.
Apesar de para alguns ser um livro inacabado, com pontas soltas, pingos de romance, e com nome e capa não tão favoráveis a história, a obra consegue carregar fluidez, e em momentos que você está a deriva pode ser um ótimo remédio para içar as velas para um novo destino. Com muita ação e ternura implícita no bolso. Mesmo em terras agitadas, a autora traz momentos doces e profundos entre o casal principal, que apesar de serem rápidos, deixam um rastro avassalador.
E durante o percurso um dos grandes problemas enfrentados, algo que sempre levava os personagens a se esconderem, e agirem em silêncio na medida do possível, é a homofobia. Afinal, nos anos de 1700, tanto quanto hoje, a relação carnal de um homem com outro homem, ainda é visto como motivo de assasinato, de opressão, de discriminação, para uma parte do mundo.
Uma dama que está muito longe de se interessar por anos em uma escola de etiqueta. Um cavalheiro festeiro que apenas quer farrear e aproveitar um ano inteirinho ao lado de seu amado. Um cavalheiro cuidadoso sem maiores perspectivas acerca dos conhecimentos medicinais da época, visando aproveitar um último ano com aquele que tanto quer bem.
E em meio a todas as adversidades tratadas no livro de Mackenzi Lee, o crescimento nítido dos personagens, em suma, o protagonista, fica escancarado. A dama revela suas habilidades e anseios, e os cavalheiros lutam pela oportunidade de serem felizes, não mais, abaixo dos olhos de todos.
**resenha crítica