Ayrie (@ayriebooks) 17/09/2021
Divertido e atento
"É uma sensação estranha essa de perceber que outras pessoas que você não conhece têm vidas próprias e plenas que não se misturam à sua"
Não sabia bem o que esperar desse livro, mas algo já me dizia que íamos nos dar bem.
Logo na capa, ele é vendido como um romance histórico gay, mas não acho que seja uma classificação adequada. Primeiramente, a história é bem mais uma aventura, flertando com a fantasia, do propriamente um romance histórico. Segundamente, Monty é bissexual.
Henry Montague, Monty, é um jovem prestes a ficar encarregado de cuidar dos negócios do pai, mas antes disso ele irá fazer o Grand Tour pela Europa com seu melhor amigo, Percy.
Para Monty, essa é sua última chance de liberdade, noites de bebedeira e encontros com homens e mulheres de toda a Europa. Para seu pai, é a última chance de provar que ele pode ser respeitável, ou é melhor nem voltar de viagem. Não demora muito para que Monty arrume um problema que transforma a viagem em uma perseguição, comprometendo Percy e sua irmã Felicity.
O livro tem uma roupagem divertidíssima, mas mesmo assim trata de temas sérios como homofobia, reclusão de doentes, machismo e racismo. E, para mim, o melhor ponto disso é que muitas cenas e falas problemáticas vinham exatamente do protagonista, o que é totalmente verossímil. Pense comigo, um jovem branco e rico, mesmo que apaixonado por um homem negro, dificilmente teria a delicadeza de perceber atitudes racistas sutis (inclusive quando tenta ajudar) e a autora não teve dó de fazer isso, não criou um protagonista perfeito e sem graça.
O livro trata desses assuntos sem frases feitas. Não é o protagonista desconstruído quebrando o tabu, é o protagonista sendo um imbecil, mesmo quando não percebe, e o mundo esfregando isso na cara dele e, consequentemente, na do leitor.
Recomendo muitíssimo.