Eduardo 27/08/2023
"A voz possante domina, contagia, marca um minuto da revolução social".
Parque Industrial, da icônica Pagu, é um bom romance modernista se você vai pronto para o que o romance tem a oferecer. É um livro escrito pela Pagu de cerca de 22 anos, um livro que se propõe juntar o estilo modernista que ficou conhecido pela prosa de Oswald de Andrade (rápido, curto, cheio de coloquialismos e de caráter fragmentário) com uma proposta panfletária e didática do comunismo atento às questões de gênero.
Dado isso, realmente me surpreendeu especialmente a consciência feminista da autora, pois nunca tinha lido algo parecido em um autor de sua época.
Os vários enredos que compõem as histórias das trabalhadoras da indústria têxtil do Brás, em São Paulo, são bastante maniqueístas e compostas por personagens planos. Contribui para isso o narrador em terceira pessoa bastante engajado, mas também a figura de Rosinha Lituânia (possível referência a Rosa Luxemburgo, também mencionada no romance). Esta serve de exemplo para a luta de classes, pois é engajada, consciente, crítica, envolvida com o sindicato e com a greve, sem se iludir com as falsas promessas da ideologia dominante.
Para quem tem interesse na história da primeira geração de escritores modernistas brasileiros, na história da luta de casses no Brasil e em suas relações com as questões de gênero, vale a pena vencer a confusão inicial da leitura desse romance fragmentário.