Parque industrial

Parque industrial Pagu




Resenhas - Parque Industrial


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Antony.Trindade 01/06/2020

Uma mulher, comunista, escrevendo sobre a rotina dos proletariados da cidade de São Paulo na década de 30. Imaginem...
Livro raríssimo, muito bom!
Ela mostra como a linguagem acadêmica não é a mesma dos trabalhadores das fábricas, onde eles apenas "ouviram falar" sobre a luta de classes e sobre o capitalismo, sem ter o conhecimento do que realmente essas coisas significam.
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Isa | @isatosta.pdf 01/05/2020

Incrível
Junto com o fim de abril veio o fim desse livro maravilhoso, uma das melhores leituras de literatura brasileira que já tive. Parque Industrial foi escrito por Patrícia Galvão, a Pagu, em 1932, sendo publicado em 1933 por Oswald de Andrade, companheiro de Pagu nas artes e na militância. Completamente inspirado pelo movimento modernista, Parque Industrial narra diversos cenários do operariado urbano do bairro do Brás, em São Paulo. Em especial, são retratadas as mulheres operárias, seus desafios no duro contexto dos anos 1930, o enfrentamento diário nas fábricas, nas ruas e nos quartos dos cortiços. Momentos da "esfera privada" se publicizam em cortes de um núcleo da história a outro, personagens se cruzam e se confundem num emaranhado de proletárias que lutam por uma vida além da que lhes foram dadas. É um romance extremamente difícil de se encontrar, mas a quem interessar, vale cada momento.
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Gu Henri 18/02/2018

forte!
Pagu tinha apenas 21 anos quando escreveu esse micro romance.
Depois de lê-lo percebe-se o porquê de tanto estardalhaço, até mesmo das fileiras comunistas.

É um romance jornalístico, é como uma reportagem, o enredo é ligeiro, de leitura rápida e fácil (salvo alguma coisa que à época escrita que não se entende hoje, e há dicionários e google para isso), são cenas como que de filmes. Há a parte dos operários, dos burgueses, dos marginalizados sem emprego ou sub-empregados.

Há também o tom de denúncia quanto ao machismo. Os homens são sempre mostrados como malfeitores e aproveitadores, sempre sucumbem à traição, como o enredo mostra, umas até pior do que a traição amorosa e carnal.... há também a denúncia sobre o quão burguês era o movimento feminista que lutava apenas pelo direito ao voto das mulheres.

Há cenas fortes: prostituição, fome, miséria, cenas sujas, imundas, palavrões e o sexo como parte natural de nós humanos.

E não me surpreendi, até porque esta naturalidade remeteu muito ao naturalismo do Zola, e não sei se por isso, mas li recentemente Germinal. Parque Industrial não me impactou tanto. Talvez se tivesse não lido Germinal, poderia ser diferente. O que na acontece, pode ser, é que li há tão pouco Germinal, que ainda estou digerindo-o.
--

Pagu deve ser lembrada, nunca esquecida, foi mais que feminista, foi uma verdadeira aventureira. Tenho uma afeição por ela, pois ela é da mesma cidade que eu. Desde sempre escutava sobre ela mas nunca havia tido oportunidade de ler algo de seu próprio punho.

Quem quiser ler este romance é fácil, há na internet versões disponíveis.
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Valnikson 02/04/2016

1001 Livros Brasileiros Para Ler Antes de Morrer: Parque Industrial
A paulista Patrícia Galvão, conhecida por Pagu, foi diretora de teatro, tradutora, desenhista, jornalista e escritora em anos efervescentes da vida cultural e política do país. Editando seus textos em diversos periódicos desde a adolescência, sempre colocou sua arte a serviço das causas em que se engajou, obtendo, com isso, uma reputação escandalosa ante o pudor da sociedade conservadora na primeira metade do século XX. Pela militância e forte convicção ideológica, foi presa diversas vezes, no Brasil e no exterior. Seu romance de estreia, assinado com o pseudônimo Mara Lobo, lançado com pequena tiragem e pouca divulgação, denuncia a desigualdade de classes em meio ao acelerado processo de modernização do estado de São Paulo. (Leia mais no link)

site: https://1001livrosbrasileirosparalerantesdemorrer.wordpress.com/2016/03/30/57-parque-industrial/
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Bruno Oliveira 15/06/2015

Literatura e militância
Há uma maneira popular de se falar da obra de Patrícia Galvão que consiste em se evitar falar da obra de Patrícia Galvão e apenas ressaltar o folclore em torno da autora, ficando subentendido que aquilo que ela escreveu foi tão rico quanto aquilo que viveu.

Particularmente, considero que isso rebaixa a obra por colocar seu valor fora de si, deixando intocado qualquer mérito próprio que ela possa ter, e foi pensando nisso que planejei esta resenha: pretendo me contrapôr a essa análise que parte das circunstâncias da obra para julgar seu valor, e analisar Parque industrial a partir dos méritos próprios à literatura que ela apresenta.

Como método de exposição dessa análise decidi brincar um pouco com o marxismo da autora e escrevi este texto na forma de um confrontamento dialético de ideias. Apresentarei sucessivamente as virtudes do livro (Por Pagu) e seus problemas (Contra Pagu), por fim, terminarei com uma síntese de tudo (Sintetizando Pagu).


Por Pagu.

Parque industrial é literatura militante, sendo assim, é fácil banalizar o livro: basta endossar ou rejeitar previamente a proposta política defendida pela autora. Podemos endossar o ponto de vista apresentado na obra e ignorarmos seus problemas por gostarmos daquilo que ela diz, ou podemos ressaltar nossas discordâncias políticas com esse ponto de vista até inviabilizar nossa experiência estética com a obra. Há leituras banais pró e contra Pagu, contudo, caso queiramos ser justos com ela, em vez de julgarmos seu livro pelas opiniões prévias que temos quanto à sua militância ou mesmo quanto ao que seja literatura, devemos considerar com cuidado (porém sem qualquer condescendência) os critérios estéticos que ela nos oferece para avaliá-lo. Pensando assim, que poderemos dizer dessa obra política que é Parque industrial?


Contra Pagu.

Uma das coisas mais importantes talvez seja que sua mistura entre literatura e política não é harmônica. A narradora (ou narrador, escolham o gênero que preferirem) não conduz o leitor através de personagens e circunstâncias para fazê-lo ponderar sobre algumas das causas da pobreza, da alienação e da exploração no “capitalismo paulista” enquanto tece uma história que tenha valor por si mesma, na verdade, ela deseja que o leitor conclua determinadas coisas a respeito dessa conjuntura política e usa personagens e circunstâncias como recurso de convencimento. Em função disso, os acontecimentos do livro são apenas receptáculos de uma mensagem política, inexistindo qualquer espaço para dúvida ou sutileza – quiçá nem literatura – entre o leitor e essa mensagem. As imagens são simplesmente arremessadas contra ele como se fossem tijolos, sem nenhuma inteligência, esperando demovê-lo de suas posições políticas.


Por Pagu.

A despeito desse desequilíbrio, o livro contém alguns méritos interessantes no tocante à narrativa, a começar pela utilização de personagens que não são propriamente indivíduos. Cada novo nome a que somos apresentados é uma espécie de tipo social (a empregada assediada, o sindicalista vendido, etc.) que tem importância na medida em que representa o contexto e os acontecimentos do parque industrial. Os personagens não expressam identidade pessoais, mas uma circunstância político-social da qual fazem parte, sendo essa circunstância – de exploração, sindicalismo, partidarismo – e não esses personagens a verdadeira protagonista do livro. Em se tratando da condição da mulher pobre no parque industrial paulista, por exemplo, isso funciona muito bem.


Contra Pagu.

Ainda a propósito da narrativa, duas vozes a constituem: aquela da narradora que nomeia os personagens e, com alguma liberdade, diz quem eles são e como vão; e aquela dos próprios personagens que, seja em monólogos ou mesmo em conversas uns com os outros, estão constantemente se referindo a si mesmos e dizendo quem são e como vão. Uma vez que inexistem grandes conflitos entre uma voz e outra, aquilo que a narradora diz dos personagens é, no mais das vezes, aquilo que eles mesmos pensam sobre si, com efeito, os personagens são, quase sempre, meros representantes do ponto de vista da narradora, dando ao romance uma única perspectiva. Além disso, esse nivelamento das vozes impede que as descrições da narradora sejam complexas, posto que os próprios personagens também não são complexos. A exemplo disso, os adjetivos que aparecem correntemente no livro para caraterizar os exploradores dos operários – “vendidos”, “burgueses”, “madames” – não são conceitos emergentes da rica tradição marxista a qual Pagu é filiada, mas simplórios vitupérios oriundos das trincheiras da extrema-esquerda. Tanto a narradora quanto os personagens se expressam nesses termos toscos e isso faz com que, por parte deles, tenhamos que ler explicações políticas pobres vinda de personagens pobres, e, por parte dela, com que vejamos cenas ridículas criadas por sua penúria conceitual. O leitor de Parque industrial se deparará constantemente com imagens que pretendem estabelecer contrastes político-sociais e, todavia, levam antes ao riso que à compreensão da sociedade brasileira: o patrão explorador e cruel, o empregado honesto e sofredor, a madame fútil, a moça que terá que abortar sua criança por falta de dinheiro, e outras que permeiam o livro todo. Na ausência de uma boa caracterização do quadro sociológico paulista, resta à narradora apelar para imagens caricatas a fim de converter o leitor ao seu ideal político, sendo que mesmo os detalhes mais singelos acabam virando outdoors dessa militância – um pobre não pode apenas vestir um macacão, por exemplo, ele precisa vestir um macacão roto que foi remendado várias vezes por sua pobre mãe, uma triste costureira que trabalhou por toda a vida sem conquistar nada e que hoje está quase cega; de igual modo, um rico não bebe champagne meramente, ele bebe champagne feito “das lágrimas” daqueles que foram exauridos no processo de produção da garrafa. Pode parecer exagerado colocar as coisas assim, mas tais imagens estão mesmo no livro e nem são as piores dele. A obra está repleta de artificialidades como essas, todas bastante cômicas, e, é claro, bastante problemáticas para um livro que pretende abordar os problemas sociais de uma época.


Sintetizando Pagu.

Pessoalmente, considero muitíssimo interessantes os livros que colocam circunstâncias como protagonistas (O cortiço, de Aluízio Azevedo, ou a trilogia Fundação, de Isaac Asimov, por exemplo), uma vez que eles sempre requerem adequações originais na narrativa para melhor expressar essa circunstância, todavia, confio que qualquer leitor o qual não tenha um veredito prévio sobre Parque industrial concluirá facilmente o mesmo que eu a respeito desse livro: que se trata de uma obra pobre feita por uma autora limitada. Por mais que exista uma tentativa de adaptar a narrativa ao discurso político, a pobreza desse discurso acaba sendo transmitida à narrativa e impede que ela seja rica ou complexa, com isso, Parque industrial se torna apenas uma tentativa de divulgação e embelezamento de uma perspectiva política limitada, sendo criticável como política e irrelevante como literatura. Com a maior das concessões alguém poderia dizer que Parque industrial possui certo valor histórico, no entanto, qualquer registro do passado poderá ter valor como fonte histórica dependendo da perspectiva do historiador, porém, só alguns permanecem como registros de boa literatura – não é esse o caso.

site: https://aoinvesdoinverso.wordpress.com/
Luci Eclipsada 30/01/2022minha estante
Acabei de ler esse livro e tive o mesmo pensamento sintetizado pela sua resenha.




Manuela 17/06/2014

Sobre Mara Lobo.
Tinha reservado parque industrial para a leitura de abril. Exceto porque ele chegou em maio. O tempo é essa coisa que não explica. Então ontem, após uma leitura de Emma (de Jane Austen, e que me levou a um quase ápice de irritação) pensei que poderia me valer de uma leitura curta - o que não significa dizer que seria leve.

E não foi.

Patrícia Galvão, também chamada de Pagu, mas que assinou Parque Industrial como Mara Lobo, traz á tona o cotidiano cru do proletariado paulistano da década de 20/30. Não tem receio em expor a verdade que lhe aparece, o Brás, como o reduto de fábrica e proletariado, o abuso da burguesia, a escravidão a que estão submetidos homens e mulheres pobres, objetos - sexuais e do labor.

Seu livro traça perfis, ainda que não profundos. Apresenta personagens que se misturam, nomes que somem, pele, suor e "a rua que vai escorrendo pela janela do bonde" (p. 28). E há o Partido Comunista, a ideia de um Partido dos Trabalhadores, onde, de repente, o proletariado veria os seus direitos sendo defendidos. Há a esperanças em Prestes. Há Pagu. O tempo todo.

Pagu tem uma forma interessante de escrever. Frases diretas, suas ideias sendo apresentadas sem receios. Duras. Rasgantes. Deixam em aberto a imagem em imaginação.

"Metade do cortiço sai para a Fábrica.
A fumaceira se desmancha enegrecendo a rua toda, o bairro todo.
O casarão de tijolo, com grades nas janelas. O apito escapa da chaminé gigante, libertando uma humanidade inteira que se escoa para as ruas da miséria.
Um pedaço da Fábrica regressa ao cortiço." (p. 85)
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Felipe 26/04/2013

Literatura E Revolução
Ninguém nunca perdoará Pagu por ter trazido a superfície a parte maldita da sociedade, os humilhados e ofendidos ontologicamente negados pelos donos do capital. Ninguém nunca perdoará Pagu por ter atualizado na literatura brasileira a tradição dos cortiços, dessa vez com uma roupagem de literatura modernista. Ninguém nunca perdoará Pagu por ser mulher e aos 21 anos de idade escrever um livro inquietante e nada lisonjeiro sobre o mundo subterrâneo do luxo burguês de uma cidade como São Paulo, industrializada e vertiginosa. Ninguém nunca perdoará Pagu por ter feito um livro em que o elemento estético nunca está ausente e que pulsa de uma lírica riquíssima em suas ressonâncias. Ninguém nunca perdoará Pagu e é por isso que seu livro não é comentado, discutido e decifrado nas grandes teias da internet - é claro, os leitores estão ocupados demais com os narradores norte-americanos.

O livro de Pagu continuará incomodando os leitores satisfeitos em seu ninho, continuará deslocando e desconfortando. Imagine Aluísio Azevedo encontrando a vanguarda europeia e o marxismo: eis Parque Industrial. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária” – gritou Maiakóvski e parece que Patrícia Galvão ouviu. Essa mulher com vida fascinante, que conviveu com os modernistas brasileiros, os surrealistas franceses e entrevistou Freud em um navio rumo à China. Parque Industrial permanecerá como uma pérola de nossa literatura, como resposta do romance de 30 para a terrível condição dos trabalhadores de uma Metrópole.

Hoje podemos olhar para o romance com estranheza, já que vivemos em uma época relativamente segura no campo do trabalho, já que as empregadas finalmente conseguiram sair do sistema escravocrata das patroas loucas, mas devemos sempre lembrar que chegar até o ponto em que estamos foi uma subida terribilíssima e acredito que o pequeno romance de Pagu seja um documento e retrato potente dessa subida. O que dói mais é conferir nos diálogos dos abastados o mesmo tipo de pensamento que poderíamos ouvir hoje da classe média: o ódio irracional ao Brasil (o chic europeu ainda está na moda) e a falta de olhar para um povo oprimido e escandalizado pelas diferenças sociais gritantes. Parque Industrial permanecerá, doa a quem doer.
Erika 18/12/2014minha estante
Ninguém perdoará Pagu!
Bela resenha!


Bruno Oliveira 15/06/2015minha estante
Ficou bonita a resenha, mas o livro é tão caricato... Acho que não vale isso tudo não; nem metade.


Danilo 25/09/2017minha estante
O Bruno Oliveira disse tudo. Muito exagero nessa resenha.




Marcos Faria 04/12/2011

Patrícia Galvão, para mim, era a Carla Camuratti declamando “No meu quintal tem um pessegueiro/Com flores cor de rosa/Onde chupei-te a boca/Pensando que era fruto”. Também sabia da sua ação política, mas não fazia ideia do que ela tinha sido capaz até ler “Parque Industrial” (edição “cerejinha” da José Olympio, 2006). É literatura militante de primeira. Quase um manifesto. Você termina o livro e quer levantar uma bendeira, deflagrar uma revolução. Ainda mais porque, em diversos trechos, as relações entre a elite paulistana (inclusive seus intelectuais de esquerda) e a classe trabalhadora descritas por Pagu parecem não ter mudado nada, oitenta anos depois.

(Publicado originalmente no Almanaque: http://almanaque.wordpress.com/2011/12/04/meninos-eu-li-17/)
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