Suzanie 27/06/2020Democracias inclusivas podem se tornar realidade?Partindo da observação de movimentos anti-democráticos pelo mundo, os autores advogam que as crises atuais não passam mais por grandes golpes que levam a situar as rupturas em um único momento. É comum que governos autocráticos se estabeleçam por meio de instrumentos democráticos a serem gradualmente enfraquecidos, levando a uma centralização de poder.
Com uma narrativa fluida e bem construída, focam sua análise nos EUA, país que constitui, por excelência, o paradigma de democracia, e em que medida ela vem se tornando disfuncional.
Destacam a forma como as engrenagens democráticas foram protegidas desde a Reconstrução pós guerra civil até os anos de 1970 por meio de normas não escritas de Mútua Tolerância e de Reserva Institucional e que funcionaram muito bem, porém, baseadas em uma exclusão racial que permitia aproximarem membros do sistema bipartidário americano, na medida em que os antagonismos eram suavizados por proximidades ideológicas.
Explicam como, a partir de então, a inclusão das minorias raciais por meio da Lei dos Direitos Civis e da Lei do Voto, acarretaram um realinhamento partidário que passou a uma identificação ideológica mais homogênea, agora não mais partilhada, desencadeando assim grande polarização. Esse seria o princípio de uma guerra partidária que enfrenta hoje o seu ápice, e a eleição de Trump não teria sido ocasional, e sim engendrada nesse tipo de organização politica e social intensamente polarizada e pouco cooperativa.
Desde o início da leitura eu me perguntava: não seria uma democracia paradoxal essa que se sustenta sobre a exclusão de minorias, nos moldes das democracias do mundo antigo, e que, ao integrar a totalidade de seu povo, perde sua força?
Fiquei satisfeita ao ver que, ao final da obra, os autores colocam como grande desafio aos EUA a retomada de uma democracia plena, assentada em valores de igualdade e inclusão de minorias étnicas, mas também inspirada pelos primeiros republicanos:
?A genialidade da primeira geração de líderes políticos americanos não foi eles terem criado instituições à prova de erros, mas o fato de, além de desenhar instituições muito boas, terem estabelecido também ? gradualmente e com dificuldades ? um conjunto de crenças e práticas compartilhadas que ajudaram a fazer essas instituições funcionarem?.
Uma leitura que recomendo muito, na qual a historia norte-americana nos é apresentada numa perspectiva ampla e ao mesmo tempo concisa, em paralelo com histórias de derrocada e renascimento de democracias em outras partes do mundo.