Fernanda631 27/12/2022
A Mulher do Meu Marido
A Mulher do Meu Marido foi escrito por Jane Corry e foi publicado em 26 de maio de 2016.
A obra acompanha a história de duas mulheres: Lily e Carla. A primeira é advogada e responsável por defender um homem acusado de matar a mulher queimada em uma banheira. Ainda um pouco inexperiente, Lily precisará lidar com a pressão externa e, principalmente, psicológica do caso. Carla, enquanto isso, é uma garotinha italiana que mora num apartamento vizinho e que possui uma criatividade e tanto. Aos poucos, vai se aproximando de Lily e do marido Ed, que é um desenhista.
Aqui iremos conhecer o drama de cada personagem, no caso, a trindade Lily (a jovem advogada), Ed (seu marido) e Carla (a vizinha de 9 anos de idade).
Lily Hall, mas que logo se torna Lily Macdonald , tem apenas 25 anos no início desta trama, e recentemente se casou com Ed Macdonald – um pintor frustrado. Ed gostaria de poder ser artista e viver de sua pintura, mas por alguns motivos, trabalha como designer gráfico. Lily é uma jovem advogada de Londres. E ela tem um novo caso brilhante em suas mãos.
Lily e Ed são um casal recém-casados e felizes. Ela advogada formada no começo da carreira, trabalhando em um caso para defender a liberação de um presidiário, acusado de ter assassinado a namorada em uma banheira de água fervente, sendo mais explicativa. Ele, um publicitário frustrado que prefere fazer suas pinturas que não rendem nenhum dinheiro para casa do que investir no trabalho que realmente lhe dá algum sustento.
O livro começa com um sucinto relato sobre a morte de Ed – isso não é um spoiler, realmente acontece na primeira página – e logo já somos levados para doze anos no passado, onde se inicia a narrativa sobre o início do casamento dele com Lily e o relacionamento deles com uma mãe solteira e sua filha de nove anos, Carla. Sendo imigrantes italiana, Carla sofre com o bullying na sua escola enquanto a mãe, que trabalha como vendedora em uma loja, passa parte do seu tempo com o homem do qual ela é amante.
Joe Thomas foi condenado por ter assassinado sua namorada em uma banheira escaldante e agora ele exige um recurso, um novo apelo. Esse é um grande caso em que Lily será a advogada principal do escritório onde trabalha. Durante essa primeira entrevista entre cliente e advogada, podemos perceber que Joe é alguém perspicaz e que Lily tem sentimentos conflitantes a respeito dele.
Onde Lily e Ed vivem, em um apartamento vizinho, mora a imigrante italiana Francesca Cavoletti e sua filhinha, a já mencionada Carla. O então jovem casal não é muito feliz juntos, onde vira e mexe, uma discussão boba surge. E isso porque não tem muito tempo que voltaram de lua de mel. Cuidar às vezes ou estar com Carla possibilita acontecer uma mudança na vida do casal, foi como um “passa tempo” agradável, que mudava o foco dos problemas diários.
Francesca tem um “amigo” que a visita com frequência. Já mencionei o que é esse amigo. Carla consegue convencer sua mãe que o jovem casal poderia cuidar dela enquanto a mãe estivesse trabalhando no fim de semana. A verdade é que a mãe não estava fora de casa trabalhando, e que Carla sempre consegue tudo o que quer. Tudo!
Carla é uma criança complicada, que não consegue criar vínculos de amizade com as crianças da escola, e se sente sempre rejeitada pelos demais por suas sobrancelhas grossas ou seu sotaque italiano. Mas, Ed – como o artista que é – percebe a beleza na garota de 9 anos. Dessa forma, enquanto Lily persegue dicas e informações para trabalhar em seu recurso de Joe Thomas, Ed começa a desenhar/pintar Carla.
Também é preciso lembrar que Lily tem um segredo que guarda consigo a respeito de seu irmão Daniel. E a advogada acaba por perceber muito de Daniel em Joe, seu cliente. E seu olhar a respeito de Joe acaba sendo um pouco influenciado. No fim das contas, percebemos que Lily não é tão inteligente e esperta quanto nós que estamos acompanhando a leitura gostaríamos que ela fosse.
Quando menos nos damos conta, o A Mulher do Meu Marido tem um avanço temporal de 12 anos. Por causa de Lily, lá na época que ainda eram vizinhas, Carla e sua mãe foram embora para Itália depois que a jovem advogada reconheceu o amante de Francesca e desmascarou-o na frente das italianas.
Carla agora uma jovem e bela mulher, não perdeu em nada seu jeito de ser. Ela gosta de ter coisas boas, e não se importa em como vai conseguir elas. Ela também guarda dentro de si certa vontade de se vingar de Lily, por ela ter despedaçado o coração de sua mãe, numa interpretação bastante juvenil. No decorrer de todos esses anos, Carla decide voltar a Londres para estudar Direito, e rever seus antigos desafetos: sua ex-vizinha e o amante de sua mãe, Larry.
Ed acaba se tornando famoso com o quadro que pintou de Carla quando criança e hoje tem sua galeria, bem como o casal mora em uma suntuosa casa. Lily teve um filho que está no Espectro Autista, e que o casal pouco compreende ou consegue lidar com o mesmo. Ficando, a todo efeito, a responsabilidade da criação do menino sobre a mãe de Lily.
Não podemos esquecer que Joe, o antigo cliente de Lily se torna uma espécie de stalker e não deixa a mulher muito tempo sem notícias suas. Ele é muito bom em vigiar. Ele também concede dicas anônimas sobre os demais casos, o que faz Lily ser promovida e ser muito bem vista em sua profissão.
Àqueles mais atentos, assim como aqueles mais acostumados com o gênero literário aqui utilizado, logo perceberão quais entrelaçamentos irão ou poderão acontecer. Novos laços românticos desabrocham, e obviamente a todo tempo pensamos no motivo da escolha de Jane Corry por esse título para sua obra.
A obra se divide em dois momentos temporais distintos e bem marcados que se complementam e que trazem elucidações. Como já ressaltado, as duas personagens parecem ter quase nenhuma relação. Mas, de maneira bem lenta e um tanto quanto arrastada, Corry vai unindo-as e deixando tudo mais palatável.
A Mulher do Meu Marido consegue produzir tensão genuína. Ainda que a história de Carla tenha poucos momentos interessantes em sua primeira passagem temporal, a de Lily ajuda a criar o suspense, a suspeição e o interesse. É crível e envolvente a saga jurídica da personagem. É bem contado por Corry. A relação entre Lily e o marido Ed também é intensa e desperta emoções quase primais no leitor. Difícil manter a calma e a paciência com um homem tão chato.
vale destacar o bom trabalho da autora em criar a personalidade e a profundidade psicológica dessas duas personagens durante a primeira metade. Lily traz um comportamento extremamente complexo de quem está vivendo no seu limite. É interessante cair em seus devaneios e reflexões. Carla, apesar de bem menos interessante, tem uma boa e aprofundada construção psicológica infantil. A relação com o exterior, com objetos, com o amante da mãe. São momentos singelos, quase delicados, que ganham força interior.
Depois da virada temporal, porém, o livro muda totalmente de postura, já que Carla ganha mais espaço e esse entrelaçamento acima citado vai ganhando forma. O problema aqui é que, tendo duas histórias tão distintas, é quase impossível não compará-las e, assim, tecer paralelos narrativos enquanto a leitura transcorre.
Corry, apesar de não ser uma escritora extremamente criativa, conseguiu prender a atenção na trama jurídica inicial. Quando há a virada de trama e o thriller doméstico passa a ser o centro das atenções, as fragilidades de sua escrita ganham corpo e mais presença. Fica notável a falta de vínculos com a realidade, fazendo com que muitas reviravoltas trafeguem entre o óbvio e o inacreditável.