Jeff.Rodrigues 25/12/2018Resenha publicada no Leitor CompulsivoProvavelmente Drácula é um dos personagens mais conhecidos, temidos e fascinantes da literatura de horror no mundo. Não por acaso, a mitologia em torno das criaturas que se alimentam de sangue humano, os vampiros, tem na imortal obra de Bram Stoker um divisor, verdadeiro marco entre sua pré e pós publicação. Vale destacar que, erroneamente, muitos acreditam que Stoker foi o criador dos vampiros, contudo, existem dezenas de contos e histórias anteriores à sua obra, mas nada supera, nem de longe, a genialidade de Drácula.
O que poucos sabem é que o Drácula publicado e amplamente conhecido foi a versão final de uma obra que sofreu alterações editoriais, cortes e mudanças que modificaram muito da ideia original de seu autor. E partindo dos manuscritos, até então perdidos, de Bram Stoker, seu sobrinho-neto Dacre, junto a J.D. Barker, produziram uma obra singular, única, e que traz uma visão pra lá de genial e envolvente de fatos relacionados às primeiras aparições do tenebroso vampiro. Dracul – A Origem de um Monstro coloca o próprio Bram, e a família Stoker, como protagonistas de uma história trágica em que o sangue escorre pelas páginas e que vicia a ponto de não conseguirmos largar o livro até seu desfecho.
Mantendo a construção do romance original, com trechos de diários e fragmentos com a voz e a visão de cada personagem envolvido, os autores souberam construir um horror clássico, que traz novas possibilidades para interpretarmos uma história amplamente conhecida. O ponto alto é sugerir que toda a ficção em torno de Drácula foi, na verdade, uma história real, vivida pelo próprio Bram e seus irmãos. Para tanto, os autores lançam mão não só de ficção, mas a entrelaçam com fatos misteriosos da vida real de Bram Stoker. As teorias levantadas ganham um puta reforço com a nota final dos autores, que encerra o livro deixando perguntas instigantes na cabeça dos leitores.
Do ponto de vista da história contada, mergulhamos na infância de Bram, seus problemas de saúde e a misteriosa babá Ellen Crone. Esse passado se mescla com narrativas do presente em que, encastelado em uma torre, o já adulto Bram enfrenta o embate com as criaturas das trevas em todo o seu poder maléfico. Tudo isso apresentado a partir dos trechos dos diários de cada personagem, além de cartas ou anotações, fazendo uma mescla que vai se unir lá na sequência final para levar a um duelo de horror clássico, na tradicional luta de bem contra mal. Temos, assim, a melhor característica de Dracul: revisitar de forma respeitosa o mito dos vampiros, bem longe dessa infame romantização mela-cueca que séries juvenis recentes fizeram.
Dracul tem uma narrativa envolvente e com uma linguagem que se aproxima o máximo possível do romance original. E em alguns pontos, acaba por trazer novas interpretações para trechos do mesmo. Inclusive recomendaria aos leitores que curtem mergulhar de cabeça nas histórias que façam a leitura das duas obras em sequência para terem uma experiência super enriquecedora.
Horror raiz, tradicional, com muita tensão e cenas assustadoras, Dracul é um dos melhores lançamentos do gênero em 2018. Uma obra que vem para honrar as tradições do terror e mostrar que ainda há muito a se explorar na literatura dos vampiros, sem cair em clichês. Não só recomendo como aposto que esse livro tem tudo para entrar na sua lista de favoritos.
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