spoiler visualizarAdriana Pereira Silva 31/05/2020
Ainda deve prevalecer a fé
Olga Lengyel nasceu em 1908 na Transilvânia, Romênia, e faleceu em 2001. Foi prisioneira judia húngara no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, tendo sido a única de sua família a sobreviver.
Ao sair do campo com vida, escreve sob a forma de um diário, com relatos chocantes, sobre suas experiências vividas no campo de concentração. Os fornos de Hitler foi escrito para que ninguém se esquecesse jamais do que ocorreu.
“precisamos observar tudo o que acontece por aqui. Mais tarde, escreveremos sobre tudo que vimos. Quando a guerra acabar, o mundo precisa saber sobre isso. Precisam conhecer a verdade.” (pos.1026)
“Eu tinha, então, duas razões para viver: primeiro, trabalhar com o movimento de Resistência e me manter em pé o máximo que podia; segundo, sonhar e rezar pelo dia em que seria libertada para contar ao mundo” (pos.1155)
“Deveríamos viver para servir de prova do que víramos e trabalhar todos os dias até a justiça final.” (pos.2829)
““As pessoas devem se unir em momentos de perigo. Colocar em risco um grupo significa colocar em risco todos nós”, afirmou ela. “Memórias não servem apenas para nos lembrarmos do que aconteceu. Elas guiam nossas ações no futuro.”” (pos.3181)
Olga escreveu este livro com a leveza de um diário – apesar de nunca ter sido. Nele, ela conta em detalhes como era a vida no campo, mostrando com clareza e simplicidade o horror cometido pelos alemães. Olga Lengyel conta, de forma sincera e aberta, uma das histórias mais horripilantes de todos os tempos.
Quando vivia em Cluj com seu marido, os dois filhos e seus pais, mesmo com todos os relatos que escutavam, não davam crédito a tudo o que ouviam:
“Até 1943, chegavam-nos notícias aterradoras das atrocidades cometidas nos campos de concentração na Alemanha. Mas, como muitos dos que hoje leem a respeito, não conseguíamos acreditar em histórias tão horríveis.” (pos.95)
“Como alguém poderia crer em histórias tão fantásticas?” (pos.107).
Tanto que quando seu marido, médico cirurgião é preso e Olga tem a notícia de que ele será deportado para a Alemanha imediatamente (pos.123).
“Indaguei se as autoridades permitiriam que eu o acompanhasse. O oficial da SS declarou, com brandura, que não se oporia. Se eu quisesse ir, seria bem acolhida.” (pos.123).
Devido a ser um renomado cirurgião, ela achou que ele fosse trabalhar como médico em algum hospital devido a escassez de médicos.
“antes de decorrer uma hora, eu seria a autora da desgraça dos meus pais e também dos meus filhos. Porque meus pais tentaram me convencer a ficar.” (pos.129)
Como seus pais não conseguiram dissuadi-la a ir, se propuseram a ir junto, e seus filhos também foram, pois eram crianças.
Foram para a estação e pegaram o trem, onde estavam vizinhos e conhecidos. A partir daí ela relata o início do fim da vida de sua família de maneira aterradora e triste, deixando-nos a sensação de coração partido e estômago embrulhado diante da frieza do ser humano ao lidar com seus semelhantes, tudo em nome do poder.
O mais impressionante é que somente ao chegar dentro do campo e estar já vivendo todo aquele pesadelo que vai percebendo aos poucos a realidade, pois até lá não imaginava, nem acreditava, nas atrocidades do que lá se passava. Nem ela nem os prisioneiros que ali chegavam.
“Por que suspeitar de um tratamento pior que aquele que havíamos recebido?” (pos.253)
“Como podíamos saber que tudo aquilo era apenas uma fachada para manter a ordem entre os deportados com um mínimo de força armada?” (pos.260)
A SS fazia todo um teatro para que todos fizessem o que eles queriam calmamente, nem imaginando que estavam indo para o matadouro, e isso com a finalidade de haver o menor trabalho possível, usando-se o menor número possível de pessoas para organizar toda aquela trama de horrores.
“Tranquilizados por tão astuciosos subterfúgios, permitimo-nos ser despojados de nossos pertences e marchamos docilmente para os matadouros.” (pos.262)
Mesmo depois de estar dentro do campo e presenciar as mulheres em situação caótica, não foi capaz de conceber a realidade daquele lugar.
“Eu ainda era incapaz de conceber que mulheres com mente sadia e inocentes de qualquer crime pudessem ser tão humilhadas e degradadas.” (pos.309)
E assim, desenrolam-se anos de terror relatados por Olga. A esperança de sair salva a fim de poder relatar tudo o que ocorria lá dentro que foram determinantes para que pudesse sobreviver.
“Éramos almas perdidas. Deus, onde você está?” (pos.364)
“não passávamos de escravas, sempre com fome e frio, à mercê dos guardas, e sem esperança.” (pos.403)
O que mais desesperava era o fato que em Birkenau ficavam as pessoas que iriam ser mortas (era umcampo de extermínio – pos.408), enquanto em Auschwitz era o campo de escravos para trabalhos forçados.
“Quando os internos em Auschwitz, ou em outros campos da região não fossem mais considerados úteis, eram remetidos para Birkenau para morrer nos fornos.” (pos.404)
Em 1945, com o fim da guerra, consegue fugir e se salvar. Enfim, ainda tinha fé de que pudesse gritar ao mundo sua terrível experiência, a fim de que ninguém tornasse a levar o mundo para o rumo de novos governantes e novos horrores que desencadeassem o que viveu o mundo com a Segunda Guerra Mundial.
“Os alemães pecaram gravemente, e também outras nações, recusando-se a acreditar e a lutar dia e noite para salvar os miseráveis e desvalidos como fosse possível.” (pos.3078)
“Sei que, se as pessoas, em toda parte, resolverem que, daqui para a frente, a justiça deve ser indivisível, e que nenhum outro Hitler ascenderá ao poder novamente, isso ajudará.” (pos.3079)
“Talvez o maior crime que os “super-homens” cometeram contra nós fosse sua campanha, muitas vezes bem-sucedida, para nos transformar em bestas monstruosas.” (pos.3084)
“Vi muitos internos se apegarem à sua dignidade até o fim. Os nazistas conseguiram degradá-los fisicamente, mas não rebaixá-los moralmente. Por causa desses poucos, não perdi inteiramente minha fé na humanidade. Se, mesmo na selva de Birkenau, nem todos eram necessariamente desumanos para com seus semelhantes, então existia esperança. É essa esperança que me mantém viva.” (pos.3101)