Karamaru 02/03/2019
UM TRIÂNGULO (ESCALENO) AMOROSO
Certa vez, ao ler a sinopse de "O terceiro travesseiro", de Nelson Luiz de Carvalho, confesso que a curiosidade refulgiu em mim, mesmo porque narrativas que exploram relações que extrapolam a heteronormatividade não surgem todos os dias nos anais da literatura tupiniquim. As razões para essa lacuna são as mais variadas, e não me convém explicitá-las nesta "microrresenha".
Desde o seu lançamento, o livro parece ter assumido um posto de "'clássico' underground" da internet. Era (talvez ainda seja) muito comum ver referências a ele em blogs e em outros sites. Pode ser uma impressão eminentemente minha, mas a obra carrega consigo ecos da década de 90, talvez principalmente pelo fato de ainda abordar a homoafetividade sob um viés maniqueísta e verborrágico.
Sem surpresas, o livro narra um conturbado e rocambolesco triângulo amoroso entre três jovens paulistanos de classe média. Tudo parece clichê e mesmo o que poderia ser a "grande revelação" do livro não fugiu à regra, na minha opinião de leitor. Mas, se os clichês incomodaram, muito mais o fizeram a construção e o ritmo da narrativa.
Há trechos do livro que me remeteram aos saudosos contos eróticos da web. Certas atitudes das personagens, por mais possíveis que fossem nesta nossa matrix, careceram de sutileza e razoabilidade para dar-lhes verossimilhança. Alguns diálogos me soaram pueris, e as problematizações que foram apresentadas pareceram às vezes relativizadas por paliativos práticos. Como num grande novelão, momentos de tensão e calmaria se alternaram, todavia as mudanças de cenário às vezes me pareceram bruscas.
Terminei o livro com uma estranha sensação de incompletude. Nenhuma personagem me cativou. Tudo me soou artificial (digo "tudo" sem querer exagerar!). Uma leitura fastiosa, que me pareceu datada, submersa nos idos dos anos 90. Nem sempre tem-se leituras memoráveis. Infelizmente, acontece.