lahmot 29/06/2023
É difícil decidir por onde começar essa resenha. Como o primeiro livro da literatura russa que eu decidi me aventurar, pensei que seria uma loucura começar por justamente um de 800+ páginas (o mais longo que já havia lido), mas não me arrependo nem um pouco.
Anna Kariênina é como uma novelinha: uma grande quantidade de personagens e diversos pontos de vista, às vezes pode parecer confuso tentar se lembrar daqueles nomes russos, porém não tive muita dificuldade e logo me acostumei. Destaco aqui os personagens de Liévin e Oblonski, que são meus favoritos e adorei acompanhá-los, especialmente o Oblonski que mesmo sendo cafajeste, é carismático demais, não consigo negar. Os personagens desse livro são complexos e intrigantes, com mil e um defeitos e qualidades, tal qual pessoas reais (não à toa, já que esse livro pertence ao Realismo Russo). Não tem como negar, por exemplo, que Anna é uma mulher manipuladora e oportunista, mas nem por isso a considero uma pessoa totalmente má, ela tem suas faces; seus sentimentos; a pressão externa da sociedade, tudo isso em conjunto que a faz uma personagem que, mesmo discordando de certas atitudes, eu consegui empatizar e sentir seu desespero e seu sofrimento. Tolstói é brilhante na forma como escreve as ponderações e pensamentos dos personagens, te faz compreender e sentir aquilo junto com eles, não importa o quão irracional sejam.
Poderia colocar aqui que os momentos focados na política, ou na agricultura, por exemplo, me entediaram, mas é necessário pontuar que essas cenas não estão ali para fazer barriga na história, são relevantes para entrarmos no mundo dos personagens ali presentes e no plano de fundo que é a Rússia Imperial da época. Tendo dito isso, é, pode ser um pouco chato, mas como alguém que já leu livros podres, isso aqui não é nada, passei tranquilamente. Até porque nós nunca ficamos muito tempo focando em um personagem, logo o capítulo muda e vamos para outro ponto de vista, então não achei que deu tempo de me incomodar.
Se alguém que, assim como eu, estava na dúvida sobre ler ou não e se sentindo um tanto intimidado com a quantidade de páginas, fique tranquilo porque Guerra e Paz tem mais de mil :D Brincadeiras à parte, não é um livro difícil, e depois de se acostumar com os nomes, é um livro tranquilo de se ler. Você não se entedia com descrições de parede e árvores e pedras porque o Tolstói é bem direto na escrita dele e não perde tempo com detalhes irrelevantes para a trama (com a exceção daqueles capítulos focados no pintor na Itália (?) não entendi o propósito do foco nele em específico, do nada), além disso, como já mencionado, nunca passamos muito tempo no ponto de vista de um personagem, então se está achando a vida no campo com o Liévin chata, por exemplo, logo mudamos o ponto de vista para a Anna em Moscou.
Esse livro traz reflexões sobre a vida, a morte, a vida na sociedade da Rússia Imperial, a religião e os centenas de problemas que podem haver no interior de uma pessoa e que às vezes nem passam pela nossa cabeça. Nós vemos como somos tão grandes e tão pequenos perante ao mundo e a forma como somos vistos perante aos outros; como as vidas são feitas de altos gloriosos e baixos tão sufocantes. Não existe final feliz nesse livro, mas tampouco existe um final triste. Apenas incerto, assim como é o de todos nós.