Gigi.the.reader 15/02/2024
"A liberdade, como todo o resto, é relativa"
"O CONTO DA AIA" é contado em forma de relatos e, portanto, passa por flashbacks da época pré-Gilead nem sempre tão nítidos e, muitas vezes, a protagonista - me recuso a chamá-la pelo nome designado pelo regime - não possui uma linha de raciocínio que seria ideal para entender como se deram todos os fatos citados.
Ao mesmo tempo que isso é frustrante, é também instigante, e confere uma aura de veracidade ao universo, e também mostra que apesar de protagonista, ela não é onisciente ou sequer privilegiada naquela realidade.
É possível ver em primeira mão a relutância, o medo, a apatia que assume o espírito de alguém que tem por quem temer. Ela pode parecer muito condescendente aos olhos leigos, mas qualquer pessoa que reflita sobre aquela situação sabe que agir de forma imprevisível ou demasiado rebelde pode trazer consequências piores do que a morte.
Não saber qual o destino de seus entes queridos e, principalmente, a possibilidade assustadoramente real de que sua conduta possa refletir diretamente em seu bem-estar é paralisante.
AQUI PODE HAVER -pequenos- SPOILERS
Não há como culpá-la por não tomar parte na resistência.
Além do mais, trata-se do início do regime, tanto ele próprio como a resistência não possuem o nível organizacional ideal para manter ou lutar contra nada com eficiência. Portanto, qualquer risco era acentuado àquela altura.
Também, esse livro é muito eficiente em nos deixar com a pulga atrás da orelha, uma vez que, mesmo as notas históricas, principalmente por serem baseadas nos relatos da nossa ilustre, falham em responder muitas indagações. Na realidade, o número de perguntas sem respostas aumenta consideravelmente até o fim do livro.
Não sei quantas - ou mesmo se - das minhas curiosidades serão respondidas em Testamentos, mas já quero assistir à série. E também pesquisar no fandom algumas informações à parte.