spoiler visualizarGabrielle162 04/02/2021
Um delicado retrato sobre o luto
Curiosamente, todas as (poucas) tentativas que fiz de me introduzir na literatura asiática envolviam livros com um tema em comum: suicídio.
É em torno de um suicídio que se desenvolve Norwegian Wood, de Haruki Murakami, e é em torno de um suicídio que se desenvolve As Extraordinárias Cores do Amanhã. Por isso, foi impossível não notar semelhanças entre os dois livros.
Porém, enquanto o livro de Murakami é um retrato sóbrio dos reflexos do suicídio de um amigo na vida de Toru (e Naoko, apesar da maneira no mínimo estranha que Murakami trata suas personagens femininas), os reflexos do suicídio e a dor do luto em As Extraordinárias Cores do Amanhã tomam ares fantasiosos.
E, vendo pelos olhos do público alvo para o qual esse livro foi escrito, isso é bom.
Na literatura Young Adult, faltam exemplos saudáveis e não tendenciosos para retratar a morte, o suicídio e o luto. Acho que um dos exemplos mais belos sobre luto que já li foi As Vantagens de Ser Invisível, porém 13 Reasons Why, provavelmente o mais famoso dos livros que tratam temas como esse, é um desastre por si só. O mistério do "foi ou não foi" que permeia Looking For Alaska (Quem é Você, Alasca?) do John Green tira todo o peso da discussão.
Enquanto isso, As Extraordinárias Cores do Amanhã utiliza de metáforas e cores para discutir esses temas de uma maneira interessante e simplificada, sem nunca incentivar o ato, ter a intenção de causar gatilhos ou invalidar a necessidade de discutirmos esse assunto.
Além da importante discussão sobre o tema, a cultura chinesa é demonstrada de maneira vivaz nesse livro, fazendo com que costumes, pratos e locais sejam colocados de um jeito bem explicado e que torna tudo o que é descrito extremamente belo.
Minha única ressalva é o romance entre Axel e Leigh, que, em meio aos mistérios da família de Leigh e as visões da personagem, se torna chato, porém, é fácil ignorar esse fato quando focamos nos personagens e na história extremamente interessante construída por Emily X. R. Pan.