spoiler visualizarDaniella.Thiemy 21/07/2021
Um livro que justifica por que não podemos mais aceitar sermos associados à prática de um "jeitinho braileiro"
O autor traz críticas contundentes sobre ideias (discursos) que se manifestam no Brasil, atravessando a esquerda e a direita, e que ajudam a fortalecer, propagar e prolongar a repetição de falas que assumem-nas como verdade. Cito alguns exemplos de críticas. Aquela sobre o Brasil, e seus brasileiros (as,es), entenderem-se como um povo inferior, desonesto (na repetição de expressões como "jeitinho brasileiro"), marcado pela afetuosidade, pela emoção, pelas festas, pelo corpo e, assim, dissociado de características como intelectualidade, seriedade, inovação... Essa ideia serve de embasamento para o autor construir uma outra crítica: sobre a cegueira que faz com que o povo brasileiro, assumido inferior a outros povos estrangeiros, perceba com naturalidade a apropriação de seus recursos por um ou outro estrangeiro milionário, "bem intencionado", enquanto acompanha e se escandaliza com eventos de corrupção política, que estão longe de atingir os mesmos patamares de capital envolvido, mas que recebem os holofotes da mídia. O autor chama atenção, também, para a classificação da população brasileira quase que exclusivamente pelo critério da renda, que deixa de lado aspectos históricos, culturais, educacionais, materiais e sociais, como a enfatizada escravização de pretos e indígenas, que vem a influenciar, nos dias de hoje, nas relações de trabalho, de posse e da sociedade (com relação ao período de escravização no Brasil, o autor aponta e traz justificativas (com fôlego, no texto) sobre as obras a que poderiam ser atribuídas a propagação de ideias errôneas, que contribuem para o modo como muitos brasileiros(as,es) percebem a história do país e o racismo, nos dias de hoje). Trata, também, das relações entre essas classes, do preconceito da classe média com a pobreza e das responsabilidades da elite "imaculada". Enfim, pode-se dizer que não se trata de uma leitura leve, levei um tempo para entrar "no ritmo", mas as reflexões são interessantes, especialmente sua argumentação, e aguçam a criticidade para interpretar os acontecimentos históricos e cotidianos e a atenção para as práticas discursivas.