spoiler visualizarEloene.Cristine 07/05/2023
Defeitos? Sim! Qualidades? Pra caramba!
Esse livro me ganhou por muitos aspectos, mas ainda sinto que foi um tanto cansativo em alguns pontos. Talvez por seu tamanho, já que ter mais de 700 páginas é realmente algo considerável. No entanto, não quero acreditar que isso foi um ponto negativo, já que gosto do fato de ser bem completo a sua maneira.
Talvez o que o tenha deixado tão longo é a “necessidade” da Cassandra em explicar e explorar diferentes personagens e núcleos, mas nem todos me agradaram realmente. Pelo que vejo, existem três histórias principais sendo contadas, e uma de pano de fundo. Uma delas é a do Ty tentando ressuscitar a Livvy, e levando o Kit junto nessa missão.
Essa foi a linha narrativa que mais me deixou cansada e sem paciência em todo o livro. Por um lado, eu amo as interações entre os dois, fiquei encantada e envolvida na forma como o Kit vai se permitindo sentir pelo Ty, ainda que não saiba exatamente o que sente. Seu instinto de protegê-lo, a forma como entende sua dor e maneira de ver o mundo. Mais do que entender, ele admira isso.
A maneira como o Kit olha para o Ty é simplesmente linda, e a medida que a Dru é introduzida na dinâmica me deixa ainda mais encantada. E entendo a necessidade disso, já que serão os protagonistas da próxima trilogia. É bem clara a forma como a Cassandra construiu os fundamentos para o futuro através das decisões tomadas em Rainha do Ar e da Escuridão. Não só para os mocinhos, mas também para os vilões.
Mas, da mesma forma como gostei das relações e sentimentos do Kit e da Dru destinados ao Ty, não consegui gostar da escolha do próprio Ty. Desde o primeiro livro ele se tornou um dos personagens que mais rápido aprendi a amar nessa trilogia, e, mesmo quando me frustrou, não consegui detestá-lo. Mas detestei muitas de suas ações.
Ser compreensível não torna fácil de ver acontecer. Kit sabe bem disso, e me incomodou um pouco a forma como a Cassandra manteve esse pequeno protagonismo sobre eles. De certa forma, não é incomum que ele escolha trazer a irmã de volta, mas de todas as escolhas fáceis que a autora muitas vezes faz para dar seguimento a narrativa essa foi a que mais me incomodou.
A verdade é que gostaria que ela não tivesse feito o Ty entrar nesse caminho. Seria absurdamente doloroso, mas ainda queria ver ele lidar com a perda da irmã gêmea, e aprender com o amor incondicional que o Kit e a Dru estavam dispostos a dar a ele. Sei bem que provavelmente isso vai acontecer, mas em outra saga, e por agora algo precisava manter a linha narrativa.
Porém, ainda que saiba, foi cansativo acompanhar. Teve seus momentos bons, como a presença do Ragnor (que é sempre prazerosa), as escolhas e relações do Kit e da Dru. Mas a cada página em que essa missão voltava a tona eu só conseguia pensar de forma exasperada como queria que esse plot acabasse logo. Que tudo desse errado de uma vez por todas. Algo que demorou demais a acontecer.
A segunda história principal que quero citar é do trisal da nação. Mark, Kieran e Cristina era algo que desejava ver acontecer a algum tempo, e estava bastante curiosa para ver como iria se desenrolar. Tive meus momentos de impaciência, mais por ansiedade do que por frustração pelo que escolhiam fazer, mas devo dizer que amei cada momento.
Gosto da forma como as histórias e escolhas dos três, e dos irmãos Rosales, vão se entrelaçando e gerando consequências. Gosto da sinceridade contida nos sentimentos de cada um, ainda que medos e inseguranças gerem falhas na comunicação e pequenas mentiras. Felizmente, tudo é resolvido até que rápido quando isso acontece.
Venho torcendo muito por esses três desde o livro anterior, e me deixou feliz ver como foram construindo os pedaços desse relacionamento. Pessoalmente, acho que gostei mais das cenas em duplas do que em trio, mas talvez por elas fundamentem o que acontece quando estão todos juntos. E isso faz uma imensa diferença.
Por fim, temos a grande história. Julian e Emma, os protagonistas em um amor proibido. A solução paliativa do Julian ao abrir mão dos sentimentos é ao mesmo tempo uma boa sacada e um saco completo. Ele foi um dos personagens que mais me apeguei nos livros anteriores, que me emocionou e me fez me envolver na narrativa. Mas todo o período em que está plenamente racional o tornou alguém muito cansativo de acompanhar.
Não sei se isso pode ser considerado um defeito na forma como a Cassandra desenvolveu essa escolha narrativa, ou se o objetivo era realmente torná-lo alguém não muito agradável de acompanhar. Seja como for, a medida que tudo ia se intensificando eu ficava mais e mais ansiosa pelo fim do feitiço. Assim como do vínculo parabatai entre ele e a Emma, já que esse impasse foi cansando com o decorrer de tantas páginas onde só sofriam mais e mais por isso.
Inclusive, achei o desfecho desse problema, quando finalmente se resolveu, um tanto conveniente demais. Me fez lembrar de quando o Alec magicamente resolve a questão do Magnus ter sido apunhalado em O Livro Branco Perdido. Claramente uma resolução sem muita base, apenas tirada de algum vácuo porque deveria acontecer.
Na história que o Jem conta sobre os parabatai do passado não me pareceu que a transformação tinha esse tipo de efeito. Na verdade, ele mesmo pareceu surpreso com o sumiço do vínculo. Então não consigo apagar a sensação de que foi tudo muito conveniente para o que precisavam naquele momento.
Quanto ao momento deles em Thule eu tenho sentimentos contraditórios. Se por um lado eu gosto de momentos naquele mundo, admito que de alguma forma ele foi um pouco cansativo enquanto lia. Ou talvez fosse porque o nível de agonia era realmente elevado, e eu só queria que eles saíssem de lá (e que a Cassandra parasse de esfregar morte e angústia na minha cara).
Amei cada pequena migalha do Rafael, que me arrancou sinceras gargalhadas com quase tudo que disse. Amo as interações da Emma com o Cameron, e o fato dele ser um namorado incrível para a Livvy. Gosto dos diálogos da própria Livia com o Julian. E sei que era importante trazer o Ash e o outro Jace para a narrativa.
Ao mesmo tempo em que achei extremamente interessante saber o que aconteceu com os personagens naquele outro mundo, foi profundamente angustiante ter conhecimento. Algo que talvez seja ainda mais prático. Sentimos a dor pelos personagens que tanto amamos, mas eles não são de fato esses personagens. O que aconteceu com o Alec e o Magnus naquele mundo é triste de uma forma tão profunda. E adoro o fato de render uma cena tão divertida e fofa aos que acompanhamos na trilha original.
Não sei se gosto do fato de que, aparentemente, o próprio Jace será um vilão na próxima saga. O Ash parece muito um personagem que seguirá um caminho de anti-herói. Talvez termine com a Dru, ou talvez ela construa algo com o Jaime. Seja qual for a trilha que seguirá, estou curiosa, ao mesmo tempo em que não gosto da ideia do Jace novamente ter mais um motivo para ser machucado e desenvolver um grande trauma.
Por fim, temos a grande história de pano de fundo. Em partes muito dela já citei anteriormente, como personagens sendo introduzidos ou explorados para o futuro. Mas se tratando de Rainha do Ar e da Escuridão, existem outros temas mais urgentes, que refletem o presente da narrativa. O que me deixou feliz é que grande parte deles envolvem personagens antigos que amo ver nas páginas.
Me fez feliz ter o Magnus e o Alec tão presentes, ainda que tenha sido angustiante ver o sofrimento deles. Cada pequeno momento do amor entre eles, ou da Clary com o Jace, me trouxe alegria. Assim como do Jace com o Alec, onde pequenos diálogos, com pequenas ações, demonstram um amor e um vínculo que me atrai imensamente.
A Cassandra pode ter demorado a explorar esses parabatai, mas me faz profundamente feliz como passou a fazê-lo quando começou. Amo cada pequeno momento deles, assim como de todos os outros protagonistas de Instrumentos Mortais.
Acho curioso que a vilã que dá nome aos três livros é justamente a quem menos causa impacto em boa parte dos últimos dois volumes. Ao menos em questão de mudança no mundo como um todo, já que suas ações ao matar o Robert e a Livvy com toda certeza trazem um impacto verdadeiro e intenso aos personagens.
É interessante ver como todos os personagens, antigos e novos, precisam se movimentar para agir e lidar com as ações da Tropa. Um grupo odioso, ainda mais por ser profundamente semelhante à realidade em que vivemos. Seus discursos, suas crenças e formas de agir, ainda que sejam parte de um mundo de fantasia, são estupidamente semelhantes à realidade. Assim como as pessoas que lutam contra eles podem ser encontrados em milhares que vivem em nosso mundo.
Podemos não ser vampiros, feiticeiros, fadas ou lobisomens. Mas temos corpos, cores, formatos, amores e formas de amar diferentes. Algo muitas vezes suprimido, julgado como errado e apontado como motivo para sermos violentados e apagados do todo. Gosto de como a Cassandra traz isso para a obra. De forma tão absurdamente clara e óbvia, ainda que saiba que quem escolher não ver não verá essa relação ainda assim.
O fim é agridoce, assim como muitas vezes é na vida real. Porque uma vitória na urna é apenas mais um passo, mas sempre estamos muito longe do fim da batalha. Porque mesmo quando vencemos a comemoração é curta, pois sabemos que precisamos nos manter firmes e determinados para lutar ainda mais. E para não permitir que tudo regrida ao passado, assim como acontece em boa parte de Rainha do Ar e da Escuridão.
Em resumo, esse não foi um livro que me agradou em tudo. Porém, é um livro que me agradou em muitos momentos, e talvez por isso eu não consiga lhe dar uma nota baixa. Porque são nos detalhes que Cassandra Clare me compra, e existem muitos pequenos e grandes momentos, diálogos e construções em suas mais de 700 páginas.
Um fechamento digno para uma trilogia que foi deliciosa de acompanhar. Cheia de tristezas, agonias e profundidade. Mas também com belas relações, momentos de riso e felicidade. Ansiosa por ver mais desses personagens ao ter a chance de acompanhar Dru, Ty e Kit em suas aventuras! Ainda mais por ver o desenrolar do romance entre Ty e Kit, porque sei que virá e será lindo ver dois protagonistas aquilianos vivendo isso!