Coisas de Mineira 18/03/2020
Artemis foi vencedor do Goodreads Choice Awards 2017 de Ficção Científica e foi lançado no Brasil pela editora Arqueiro. É o segundo livro do autor Andy Weir – seu primeiro título foi Perdido em Marte, que se tornou um best-seller.
A história se passa na lua – aquele “pequeno passo para o homem” já se tornou lenda e até mesmo um ponto turístico por lá. A lua já foi colonizada, e abriga um polo habitado já há algumas décadas. Evidentemente que é uma vida limitada, e ultrapassar esses limites pode significar uma morte rápida. Jasmine Bashara emigrou da Arábia Saudita com seu pai aos seis anos, e cresceu em Artemis – o complexo das cinco bolhas habitáveis da lua, observando seu pai em suas atividades de soldador. Tem uma vida simples, e complementa a renda de entregadora fazendo contrabando da terra, já que a vida em Artemis custa caro. Bom ressaltar que o contrabando geralmente envolve itens que ou não são normalmente encontrados na lua, ou custam muito caro caso venha através dos trâmites habituais.
“Moro em Artemis, a primeira (e até agora única) cidade na Lua. É feita de cinco esferas enormes chamadas de “bolhas”. A metade inferior fica no subsolo, de modo que Artemis é exatamente como os antigos livros de ficção científica diziam que seria uma cidade lunar: um punhado de cúpulas”
Por conta de algum problema no passado, Jazz agora vive sozinha, e parece que abandonou o potencial que todos diziam que ela possuía. Com pouco dinheiro, vive em um apartamento que se resume a um cômodo que faz as vezes de quarto/sala/cozinha e banheiro – evidentemente que muito contrariada.
“A vida em Artemis, a primeira e única cidade na Lua, é difícil se você não é um turista rico ou um bilionário excêntrico.”
Artemis tem sua economia direcionada também para o turismo – afinal, muitos milionários gostam de passear pelo satélite terrestre. Uma profissão que tem certo status é o de Atividades Extraveiculares, que é basicamente uma pessoa com treinamento, capacitada a levar os turistas para fora das bolhas, e que exige passar em uma prova rigorosa – Jazz tenta algumas vezes e nunca é aprovada. Insatisfeita, tudo parece que vai mudar quando ela recebe uma proposta de um figurão endinheirado de Artemis – claro, um trabalho perigoso, arriscado e ilegal. Ela acredita ser capaz de sair ilesa da situação em função de seu profundo conhecimento do funcionamento de toda a estrutura lunar. Mas, o que parece ser uma tarefa simples envolve sair das paredes protetoras de Artemis, onde só tem vácuo e radiação. Um erro de cálculo e resta a morte.
“A Lua é uma puta velha e malvada. Ela não se importa em saber por que seu traje falha. Ela simplesmente mata quando isso acontece.”
Claro que ela vai aceitar a proposta e, durante a execução do plano, a situação acaba saindo do seu controle, rendendo cenas frenéticas de tirar o fôlego, quando tudo acaba sendo uma ameaça à sua vida e a de todos os habitantes de Artemis. Sem nem ter se dado conta, ela se vê em meio a uma guerra envolvendo interesses políticos e tecnologias revolucionárias – até mesmo uma facção mafiosa brasileira dá as caras por lá (você leu isso mesmo, máfia! Com sobrenomes como Sanchez! Não dá para acertar em tudo). Agora, ela terá de colocar toda a sua inteligência, bem como seu orgulho – já que terá de recorrer a amigos e alguns nem tanto amigos assim, para resolver sua situação e sair viva da enrascada.
Conhecer o livro anterior do autor foi um incentivo para entrar em mais uma estória de ficção científica. E posso dizer que me diverti muito com essa leitura. Se em Perdido em Marte a narrativa era bem concentrada, em Artemis Jazz nos apresenta todas as estruturas construídas. Já nas primeiras páginas temos a representação do que seriam esses módulos de sobrevivência lunares. A primeira parte da leitura nos traz muitas informações sobre o funcionamento de Artemis, e acho que a construção da cidade foi bem crível, com a descrição dos mecanismos de sustentação de vida, os pontos turísticos, a possibilidade de sobrevivência na lua. É importante ressaltar que em alguns momentos essa característica descritiva torna a narrativa lenta, mas é a explicação que define esse gênero literário.
Jazz é tão inteligente quanto sarcástica, o que deixa a leitura bem divertida e fluida do segundo terço em diante. Ela é teimosa, debochada, ambiciosa, corajosa e arrogante, e vai amadurecer e até mesmo entender seu pai – o que aconteceu no passado acabou afetando sua relação com ele. Também vai perceber que pode ter e confiar nos seus amigos, e que dinheiro não necessariamente é um fim que justifica os meios…
Quanto aos personagens secundários, o pai dela é um pilar de retidão. Outro que curti bastante foi Svoboda, o amigo nerd e sem nenhum filtro nem habilidades sociais. Um personagem que queria mais é Kelvin, o amigo de Jazz que vive na terra e é o responsável pelo envio do contrabando para a lua. Já Rudy é o chefe de segurança de Artemis, que também me deixou curiosa…
Uma boa sacada é tirar o protagonismo eterno dos Estados Unidos. Aqui, o Quênia passou por um milagre econômico, e é o responsável pela colônia na lua. Várias etnias vivem em Artemis, mas ainda não é considerada uma nação. Portanto, tem leis próprias, mas remetidas às leis marítimas internacionais – decisão da Corporação Espacial do Quênia.
Um livro divertido, eletrizante, que entrega mais do que o prometido, é uma indicação de leitura que com certeza agradará os fãs do gênero. Os direitos para a nova obra de Andy Weir para o cinema foram comprados pela 20th Century Fox – então leia antes que a adaptação chegue às telonas!
Por: Maisa Gonçalves
Site: www.coisasdemineira.com/artemis-andy-weir-resenha/