Lina DC 20/05/2019Muito bom!O livro é narrado em primeira pessoa por Hayley Rose, uma adolescente que carrega nas costas o peso do mundo. Ela e o pai Andy passaram anos na estrada, sem se apegar a nada nem ninguém apenas para que o pai pudesse fugir dos demônios que o seguiam em sua mente: os horrores presenciados durante a guerra.
Andy mergulhou no álcool e nas drogas e passa boa parte do medo preso em uma profunda depressão ou em situações de paranoia, onde acredita que algo ou alguém está atrás dele. Após um incidente mais grave na estrada, Andy decide voltar para casa e fazer a filha se formar na escola.
"... Primeiro foram os viadutos, depois as cabines de pedágio. Ele faz desvios quilométricos em volta de caçamba de entulho ou até mesmo latas de lixo porque poderiam estar escondendo uma bomba caseira. Ele sabe que é uma bobagem, mas isso não o impede de ter ataques de pânico. Às vezes, ele passa dias sem sair de casa." (p. 97)
Para Hayley, frequentar o colégio Belmont é um pesadelo. Primeiro porque ela não consegue ficar de olho no pai com tanta frequência e depois porque o local está repleto de adolescentes e ela não é fã de multidões.
"O exibicionismo, a zoação, a pose, tudo fazia parte da mentira. Meu cérebro compreendia isso porque eu tinha ouvido os cochichos. Os funcionários da Sociedade de Honra, que já começavam o dia de folga fumando baseados que zeravam o estresse como chocolate. As chefes de torcida, que se cortavam onde as cicatrizes não apareciam. Os membros do grupo de debates, presos por furtos em lojas. Os calmantes da mãe sendo compartilhados como biscoitos, a vodca do pai fazendo a aula de latim do primeiro tempo passar voando." (p. 25)
Tentando desesperadamente segurar as pontas, Hayley faz malabarismos entre se manter uma aluna mediana e manter o pai vivo. Porque é isso que ela faz. É Hayley que cuida da casa, das finanças e que torce com todas as suas forças para que o pai tenha um bom período e consiga manter a mente clara.
Na escola, a protagonista conhece Finn, um jovem inteligente e insistente em ter a sua amizade. Para Haylely, é muito difícil deixar alguém se aproximar, mas Finn consegue romper as suas barreiras e ao conhecer a sua história tenta fazer a garota entender que ela não pode carregar o mundo sozinha.
Hayley é uma personagem única, que lida não apenas com a responsabilidade de cuidar do pai, mas também com problemas de abandono e inseguranças que vão além do comum para uma adolescente. Ainda assim, ela consegue ser uma pessoa forte e determinada, inteligente e com um coração imenso.
A história foi escrita com grande sensibilidade e a autora tratou os temas como os transtornos e os vícios de forma delicada, mas ao mesmo tempo impactante.
A construção dos personagens é muito bem feita e cada um deles conquista o leitor com o seu carisma ímpar.
"Engoli o medo. Ele está sempre lá, e ou você se mantém na superfície, ou se afoga." (p. 13)
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